América Latina tem pior distribuição de terras, diz FAO
6 de abril de 2017
Desigualdade é ainda maior na América do Sul. Gerenciar bem a terra é essencial para erradicar a fome e promover o desenvolvimento sustentável, afirma órgão da ONU.
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A América Latina e o Caribe têm a mais desigual distribuição de terras em todo o mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). As informações foram divulgadas nesta quarta-feira (06/04), no âmbito as reuniões de alto nível da entidade em Santiago, no Chile.
Com 0,79 no coeficiente de Gini – utilizado para medir a desigualdade, que vai de 0 (igualdade total) a 1 (desigualdade total) – aplicado à distribuição de terras, a região supera amplamente Europa (0,57), África (0,56) e Ásia (0,55).
Na América do Sul, a desigualdade é ainda maior do que a média da região, alcançando 0,85. Na América Central, o coeficiente é de 0,75.
O estudo releva números alarmantes, como no caso da Guatemala, onde 92% dos pequenos produtores ocupam 22% das terras do país, enquanto 2% dos grandes produtores dispõem de 57%.
Segundo a FAO, os mais de 50 anos de conflito na Colômbia fizeram com que hoje em dia se utilize apenas 7 dos 22 milhões de hectares com vocação agrícola disponíveis no país, em que 82% da terra está nas mãos de menos de 10% dos proprietários. Além disso, 68% das propriedades têm menos de 5 hectares.
Gerenciamento da terra
Um relatório publicado pela confederação internacional de ajuda ao desenvolvimento Oxfam no final do ano passado apontava que 1% das unidades produtivas na América Latina concentra mais da metade das terras agrícolas.
Diante desse quadro, a FAO aponta que melhorar a governança da posse da terra, florestas e da pesca, além de enfrentar a crescente concentração de terras é um "aspecto fundamental para reduzir a pobreza rural e preservar recursos naturais".
A FAO apoia os países da região na implementação das chamadas Diretrizes Voluntárias para a Governança Responsável da Terra (DVGT), que tratam do gerenciamento da terra, pesca e florestas, no contexto da segurança alimentar.
As DVGT visam permitir o acesso igualitário à terra, pesca e florestas como meio de erradicar a fome, apoiar o desenvolvimento sustentável e melhoras as condições do meio ambiente.
Situação dos povos indígenas melhora
Segundo o estudo, 23% das terras na América Latina são manejadas ou estão nas mãos dos povos indígenas. O reconhecimento de seus direitos melhorou nos últimos 20 anos, especialmente no caso de florestas, mas ainda é possível melhorar a posse da terra por parte dessas comunidades, diz a FAO.
A entidade conclui que a melhora do reconhecimento dos direitos de posse de terras e sua distribuição são passos necessários para "erradicar a fome e avançar rumo aos objetivos de desenvolvimento sustentável na América Latina e no Caribe".
RC/efe/ots
A origem de 10 alimentos que hoje são globalizados
A maioria do que se coloca no prato diariamente procede de lugares espalhados pelo mundo. Um novo estudo do Centro Internacional para a Agricultura Tropical (CIAT) identificou a origem de alimentos considerados globais.
Foto: picture-alliance/Ch. Mohr
Manga, verde, amarela ou rosa – e asiática
Ela é tropical e parece bem brasileira, mas originalmente surgiu no Sul da Ásia. A manga, assim como o coco, foi trazida para o Brasil com a colonização portuguesa e se adaptou bem ao clima. Ela faz parte da dieta de alimentos não nativos, que vem crescendo no mundo em consequência de preferências culturais, desenvolvimento econômico e urbanização, conforme comprovou o estudo do CIAT.
Foto: DW/A. Chatterjee
Arroz para meio mundo
O arroz vem originalmente da China mas virou item básico da dieta de mais da metade da população mundial. A produção de cada quilo exige de 3 mil a 5 mil litros de água. Em alguns países produtores, a contaminação por arsênico dos lençóis freáticos é tão forte, que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) alertou para as consequências do consumo do cereal.
Foto: Tatyana Nyshko/Fotolia
Trigo nosso de cada dia
O trigo já era cultivado há mais de 7 mil anos na região do Mar Mediterrâneo. Na forma de pão ou de outras massas, como o macarrão, é um dos alimentos mais importantes do mundo. Cultivado em enormes campos de monocultura, o cereal é também usado para alimentar animais . Os campeões do cultivo são China, Índia, Estados Unidos, Rússia e França.
Foto: Fotolia/Ludwig Berchtold
Milho, dos astecas aos transgênicos
Originário do Centro do México, o milho hoje é plantado em todos os continentes. Apenas 15% da safra vai parar nos pratos, pois a maior parte serve como ração para animais. A indústria o aproveita, ainda, para fabricar xarope de glucose e produzir combustível. Nos Estados Unidos, cerca de 85% da produção é de milho transgênico, e outros países vão pelo mesmo caminho.
Foto: Reuters/T. Bravo
Batata, dos Andes para a Europa
As batatas consumidas hoje em dia são variações de espécies silvestres dos Andes, na América do Sul. Só há cerca de 300 anos o tubérculo passou a ser cultivado em grande escala na Europa, sendo fundamental na dieta de países como a Alemanha e Irlanda. Atualmente, porém, o cultivo da batata no continente está em declínio, enquanto cresce nos maiores centros de produção: China, Índia e Rússia.
Foto: picture-alliance/dpa/J.Büttner
Açúcar, de cana ou beterraba
A cana-de-açúcar vem do Oeste da Ásia, embora não se saiba exatamente de onde. Já há mais de 2.500 anos era usada para adoçar. O Brasil é atualmente o principal produtor, com grande parte da safra destinada ao bioetanol, também para exportação. A colheita é um trabalho árduo e, em geral, mal pago. O açúcar de cana é mais barato no mercado mundial do que o de beterraba, originário da Europa.
Foto: picture-alliance/RiKa
Banana, a preferida global
Cheia de vitaminas, a banana engorda menos do que reza sua fama. Fruta preferida em escala mundial, ela tem origem no Sudoeste Asiático. Hoje é cultivada principalmente na América Latina e Caribe, a custos tão baixos que saem mais baratas na Alemanha do que as maçãs cultivadas no próprio país. As condições para os trabalhadores rurais costumam ser ruins e há uso intensivo de pesticidas.
Foto: Transfair
Café, prazer com reflexos sociais
Procedente da Etiópia, o café é a segunda bebida mais consumida e principal fonte de renda de cerca de 25 milhões de produtores no mundo. Contando-se as famílias, são 110 milhões de pessoas dependentes das flutuações do mercado mundial. Contudo vem ganhando espaço a negociação por cooperativas e empresas de comércio justo. Mais de 800 mil pequenos agricultores já aderiram a esse sistema.
Foto: picture-alliance/dpa/N.Armer
Chá, relíquia colonialista
O chá vem da China e era servido aos imperadores. Tirando a água pura, é a bebida mais consumida do planeta: a cada segundo, mais de 15 mil xícaras são ingeridas. Considerado bebida nacional na Inglaterra, o chá ainda hoje é produzido principalmente nas antigas colônias do Império Britânico, como o Quênia, Índia e Sri Lanka. As condições do trabalho no campo são catastróficas.
Foto: DW/Prabhakar
Cacau, presente dos deuses
Os astecas, na atual América Central, usavam os grãos de cacau como moeda e oferenda. Também preparavam com eles uma bebida que diziam vir dos deuses. Não é difícil de acreditar: hoje o chocolate é amado no mundo inteiro. Produzido numa estreita faixa próxima ao Equador, o cacau sofre flutuações de preço no mercado mundial que afetam duramente os pequenos agricultores.