Amazônia e Pantanal têm recorde de queimadas em outubro
1 de novembro de 2020
Cifra de incêndios nos primeiros 10 meses deste ano na Amazônia já supera o total de 2019. Pantanal tem pior ano desde início dos registros, em 1998, com área devastada quase equivalente à da Dinamarca.
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O número de incêndios registrados neste ano na Amazônia já é o mais alto em uma década. Apenas nos primeiros 10 meses de 2020 foi superada a cifra total de incêndios em todo o ano de 2019, quando a destruição atraiu atenção do mundo e críticas de que o Brasil não faz o suficiente para proteger a floresta. No Pantanal, este é o pior ano desde 1998, quando foram iniciados os registros de focos ativos de fogo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O número de queimadas na Floresta Amazônica subiu 25% nos primeiros 10 meses de 2020 em comparação com um ano atrás, segundo dados do Inpe divulgados neste domingo (01/11).
Outubro registrou 17.326 focos de queimada na maior floresta tropical do mundo, o que corresponde a mais que o dobro do número de incêndios detectados no mesmo mês no ano passado.A destruição da floresta aumentou desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo, em 2019. O presidente diz que deseja desenvolver a região para tirá-la da pobreza, enquanto defensores do meio ambiente afirmam que suas políticas encorajam madeireiros ilegais, mineradoras e grileiros.
A ONG ambientalista WWF-Brasil culpa o governo por não conseguir impedir aqueles que destroem a floresta. "Com a taxa de desmatamento aumentando nos últimos anos, o governo tem ignorado os alertas dos pesquisadores: desmatamento e incêndios florestais andam juntos", afirmou Mariana Napolitano, gerente de ciências da organização, através de nota.
Os incêndios no Pantanal também aumentaram em outubro na comparação com o ano anterior, de acordo com o Inpe. Segundo o Programa Queimadas, do Inpe, o bioma teve 2.856 focos de incêndio ao longo de outubro, o maior número já registrado para o mês.
No total para 2020, o Pantanal também já registra recorde de queimadas, com 21.115 ocorrências, maior número da série histórica. Até então, a máxima registrada foi em 2005, quando foram contabilizados 12.486 focos de fogo na região.
Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Pantanal teve este ano 28% de seu território devastados pelas chamas, área correspondente a quase o tamanho da Dinamarca.
MD/rtr/ots
Desmatamento e fogo na Amazônia
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.