Amazônia se aproxima de seu ponto de inflexão, diz estudo
7 de março de 2022
Capacidade de recuperação da floresta diminuiu nos últimos 20 anos. Estiagens e queimadas, além dos efeitos das mudanças climáticas, levam o bioma a perder resiliência e ameaçam espécies de plantas e animais.
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Pesquisadores afirmam que a Floresta Amazônica nas últimas duas décadas vem demorando cada vez mais para conseguir se recuperar de longos períodos de estiagem, o que resulta em danos aos ecossistemas e deixa o bioma mais próximo de seu ponto de inflexão, após o qual a floresta não terá mais capacidade de se regenerar.
Um estudo publicado nesta segunda-feira (07/03) pelo jornal Nature Climate Change revelou que mais de três quartos da floresta já demonstram dificuldades em se recuperar de eventos como estiagens e queimadas para um estado mais saudável. As regiões que recebem menos chuvas são as mais afetadas.
"Em regiões mais próximas ao uso humano da terra, como áreas urbanas e terras de cultivo, as florestas tendem a perder resistência mais rapidamente", explicou um dos autores do estudo, Chris Boulton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
Reduzir o desmatamento na Amazônia para evitar impactos das mudanças climáticas é essencial, em razão da enorme quantidade de dióxido de carbono absorvida pelas árvores do bioma.
Os pesquisadores observaram dados de satélite que estimam a quantidade de biomassa – árvores e outras plantas e vegetações – em uma determinada área, assim como a quantidade de água nas árvores e como a vegetação verde se apresenta. Esses são indicadores da saúde e da resistência da floresta.
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Danos irreversíveis
Eles examinaram mês a mês as mudanças na maneira como a floresta reagiu às flutuações nas condições do tempo nos últimos 20 anos, tempo suficiente para que a resiliência da floresta possa ser avaliada.
A capacidade de resistência da Floresta Amazônica diminuiu, em particular, nas estiagens de 2005 e 2010, como parte de um declínio observado desde o início dos anos 2000 até 2016, quando os dados mais recentes foram coletados.
As estações mais secas na bacia amazônica se tornaram mais longas, e as estiagens, cada vez mais comuns e mais graves, com a intensificação das mudanças climáticas. "Como resultado, podemos esperar que a floresta se recupere mais lentamente de uma estiagem do que teria feito há 20 anos", conclui Boulton.
Quanto mais áreas de floresta são desmatadas ou queimadas, menos resistente se torna a Amazônia. O bioma poderá atingir um ponto crucial de irreversibilidade, onde perderá parte significativa de sua cobertura de florestas e se tornará um ecossistema mais aberto, como o serrado, ou ainda florestas menores e mais secas.
Isso significaria a morte da Amazônia como floresta úmida, afirmam os cientistas, com consequências devastadoras para a biodiversidade e para as mudanças climáticas. Não está claro quando esse ponto crucial poderá ser atingido, ou quanto tempo levaria para a floresta se transformar em um ecossistema como o serrado.
rc (Reuters)
As principais florestas do mundo precisam de proteção
Na COP26, 100 países se comprometeram a acabar com o desmatamento e revertê-lo até 2030. Quais são as ameaças às florestas mais importantes do mundo?
Foto: Zoonar/picture alliance
Floresta Amazônica
A floresta amazônica é um importante sumidouro de carbono e um dos lugares com maior biodiversidade do mundo. Mas décadas de exploração intensa e criação de gado dizimaram cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, e menos da metade do que restou está sob proteção. Um estudo recente mostrou que algumas partes da Amazônia agora emitem mais dióxido de carbono do que absorvem.
Foto: Florence Goisnard/AFP/Getty Images
Taiga
Esta floresta subártica nórdica, composta principalmente de coníferas, se estende pela Escandinávia e por grandes partes da Rússia. A conservação da taiga varia de país para país. Na Sibéria Oriental, por exemplo, a rígida proteção da era soviética deixou a paisagem praticamente intacta, mas a crise econômica que se seguiu na Rússia gerou níveis cada vez mais destrutivos de extração madeireira.
Foto: Sergi Reboredo/picture alliance
Floresta Boreal do Canadá
As taigas subárticas da América do Norte são conhecidas como florestas boreais e se estendem do Alasca ao Quebec, cobrindo um terço do Canadá. Cerca de 94% das florestas boreais do Canadá estão em terras públicas controladas pelo governo, mas apenas 8% são protegidas. O país, um dos principais exportadores mundiais de produtos de papel, derruba delas cerca de 4 mil km2 por ano.
Foto: Jon Reaves/robertharding/picture alliance
Floresta Tropical da Bacia do Congo
O Rio Congo nutre uma das florestas tropicais mais antigas e densas do mundo, abrigando alguns dos animais mais icônicos da África, entre os quais gorilas, elefantes e chimpanzés. Mas a região também é rica em petróleo, ouro, diamantes e outros minerais valiosos. A mineração e a caça impulsionaram seu rápido desmatamento. Se não houver mudanças, a mata desaparecerá totalmente até 2100.
Foto: Rebecca Blackwell/AP Photo/picture alliance
Florestas Tropicais de Bornéu
A região ecológica de 140 milhões de anos se expande por Brunei, Indonésia e Malásia e abriga centenas de espécies ameaçadas, como o orangotango vermelho e o rinoceronte de Sumatra. Grandes áreas são degradadas pela exploração de madeira, azeite de dendê, celulose, borracha e minerais. O desmatamento proporcionou acesso a áreas remotas, impulsionando o comércio ilegal de animais selvagens.
Foto: J. Eaton/AGAMI/blickwinkel/picture alliance
Floresta de Primorie
Localizada no extremo leste da Rússia, a floresta de coníferas abriga o tigre siberiano e dezenas de outras espécies ameaçadas de extinção. Por ficar junto ao Oceano Pacífico, a floresta tem condições tropicais no verão e clima ártico no inverno. Sua localização isolada e esforços de preservação a deixaram em grande parte intacta, mas a expansão do corte comercial tornou-se uma ameaça crescente.
Foto: Zaruba Ondrej/dpa/CTK/picture alliance
Floresta temperada valdiviana
A floresta valdiviana cobre uma estreita faixa de terra de Chile e Argentina, na costa do Pacífico. Árvores perenes, de crescimento lento e longa vida, dominam partes da floresta, mas sua extração extensiva ameaça a vegetação endêmica, que está sendo substituída por pinheiros e eucaliptos de rápido crescimento, mas incapazes de sustentar a biodiversidade da região.
Foto: Kevin Schafer/NHPA/photoshot/picture alliance