Foram mais de mil quilômetros quadrados de floresta derrubada, área 74% superior à destruída no mesmo mês do ano passado. Cifra surpreende, por ser registrada em período de chuvas, quando normalmente há menos desmate.
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Os alertas de desmatamento na Amazônia passaram de mil quilômetros quadrados em abril e alcançaram um recorde para o período, conforme dados do sistema de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira (06/05). Foram desmatados 1.012,5 quilômetros quadrados de floresta.
Esta é a primeira vez que um dos primeiros quatro meses do ano registra desmatamento que ultrapassa a casa de mil quilômetros quadrados.
O número é um novo recorde de destruição florestal durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), representando um salto expressivo de 74% em relação aos alertas de desmate registrados em abril do ano passado, quando foram destruídos cerca de 580,5 quilômetros quadrados de floresta, número que também era o recorde para o mês.
Segundo o Observatório do Clima, rede de organizações ambientais brasileiras, o cenário é grave já que abril ainda é um mês de chuvas na Amazônia, em que normalmente há menos derrubadas, por causa das dificuldades do clima nessa época para o desmatamento.
"Antes do governo Bolsonaro, era raro um dado mensal de alertas ultrapassar 1.000 km² até mesmo na estação seca", afirma o Observatório do Clima.
Geralmente, tais dimensões de desmatamento são registradas, quando muito, a partir de junho, período em que já começou a estação seca.
Em maio do ano passado, o desmate ficou acima de mil quilômetros quadrados, o que é também historicamente incomum para o mês.
O Observatório aponta que desde agosto passado, os alertas vêm batendo recordes: outubro, janeiro, fevereiro e agora em abril.
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"Ecocida-em-chefe"
Segundo a análise do grupo, baseada em dados do Deter/Inpe, no acumulado do ano/período, os alertas já chegaram a 5.070 quilômetros quadrados, o que corresponde a 5% a mais do que na temporada passada, sendo o segundo maior número da série histórica, só perdendo para o recorde de 5.680 quilômetros quadrados alcançado em 2020.
"As causas desse recorde têm nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. O ecocida-em-chefe do Brasil triunfou em transformar a Amazônia num território sem lei, e o desmatamento será o que os grileiros quiserem que seja. O próximo presidente terá uma dificuldade extrema de reverter esse quadro, porque o crime nunca esteve tão à vontade na região como agora", diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, citado pelo portal de notícias G1.
O Greepeace Brasil também vê na política ambiental do governo federal uma das principais causas desse novo recorde.
"A fragilização dos órgãos de fiscalização ambiental não é por acaso, é um projeto perverso que tem como um dos principais resultados a prescrição de crimes ambientais sem que os criminosos sejam punidos. Com a certeza da impunidade, o que já está ruim tende a piorar caso projetos de leis que visam legalizar a grilagem de terras, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir Terras Indígenas para mineração sejam aprovados na Câmara e no Senado. É preciso de uma vez por todas frear este mecanismo que vem sucateando os órgãos públicos e investir em fiscalização ambiental se quisermos realmente manter a maior floresta tropical do mundo em pé", afirma o coordenador de Amazônia da ONG, André Freitas.
md/ek (ots)
Os impactos do Fundo Amazônia em Alta Floresta
Com ajuda do Fundo Amazônia, produtores rurais recuperaram 5 mil hectares de floresta e 80% das propriedades foram regularizadas na cidade. Em 2012, ela saiu da lista de grande desmatadora para entrar na de cidade verde.
Foto: DW/N. Pontes
Alta Floresta
Dos 141 municípios de Mato Grosso, 86 fazem parte da Amazônia Legal, incluindo Alta Floresta, que fica a 800 quilômetros da capital Cuiabá. Fundada em 1979 pelo colonizador Ariosto da Riva como parte da estratégia do governo militar de ocupar a Amazônia, a cidade teve o nome inspirado no cenário natural encontrado às margens do rio Teles Pires (foto).
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento sem controle
Anunciada como terra fértil para atrair moradores do Sudeste e Sul do país, a extração de madeira sempre fez parte da economia de Alta Floresta. Com a devastação desenfreada, em 2008 a cidade entrou para uma lista de municípios do Ministério de Meio Ambiente que reunia os dez maiores desmatadores. Na foto, o flagrante do transporte de madeira na zona rural de Alta Floresta.
Foto: DW/N. Pontes
Mudança de rumo
Com o objetivo de reduzir o desmatamento, a prefeitura de Alta Floresta criou o projeto Olhos D'Água da Amazônia, que recebeu recursos do Fundo Amazônia. Com participação dos produtores rurais, foram recuperados 5 mil hectares de floresta e 80% das propriedades foram regularizadas. Em 2012, a cidade saiu da lista de grande desmatadora e entrou para o rol de municípios verdes.
Foto: DW/N. Pontes
Polinizadores
Além da recuperação de mata em áreas de nascentes, o projeto Olhos D'Água também investiu recursos do Fundo Amazônia na criação de um apiário municipal. Os coordenadores estimam que mais de 600 colmeias foram distribuídas para os agricultores na região. A ideia é que as abelhas jataís ajudem a aumentar a produção agrícola com a polinização.
Foto: DW/N. Pontes
Plantando sementes
O projeto Sementes do Portal, gerido pelo Instituto Ouro Verde, também recebeu recursos do Fundo Amazônia na cidade. Em dez anos, a iniciativa envolveu mais de 1.500 famílias, que faziam coleta e plantio de sementes, e recuperou 2.700 hectares de mata. Com a paralisação do fundo por parte do Ministério de Meio Ambiente, a terceira fase do projeto segue cancelada.
Foto: DW/N. Pontes
Agrofloresta
A recuperação de área degradada por meio de sistemas agroflorestais fazia parte do Sementes do Portal. Da área cultivada por Diversina Silveira de Jesus, que já foi um pátio de estoque de madeira retirada da mata, hoje brotam limão e banana, entre outros. Em dez anos, o Sementes do Portal recebeu 20 milhões de reais, dos quais 75% foram direcionados diretamente para as famílias participantes.
Foto: DW/N. Pontes
Avanço da soja
Em Alta Floresta, a atividade agropecuária ainda é dominante, ocupando cerca de um terço da área total do município. O avanço da soja, porém, é notável: antigas pastagens estão dando lugar ao cultivo de grão. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, de 2013 a 2018, a área plantada de soja aumentou quase dez vezes, passando de 2.400 a 20 mil hectares.
Foto: DW/N. Pontes
Ciência e saber indígena
O avanço da fronteira agrícola é uma preocupação do povo indígena apiaká, do Mato Grosso. Darlisson Peixoto Apiaká, liderança de sua etnia, deixou a aldeia para cursar engenharia florestal na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Ele diz que quer unir ciência ao conhecimento tradicional de seu povo para proteger a Floresta Amazônica e as terras indígenas.