Dendê certificado
24 de junho de 2011A palma de dendê é uma planta realmente incrível: o seu óleo é saudável, serve como matéria-prima para cosméticos e até mesmo para mover motores de carros.
O rendimento da palmeira é extremamente alto, uma vez que podem ser produzidas até seis toneladas do óleo ao ano por hectare. Para se extrair a mesma quantidade de outras plantas – como colza, girassol ou soja – seria preciso uma área de cultivo dez vezes maior.
"A palma de dendê, em si, é uma planta boa", ressalva Corinna Hölzl, especialista florestal e de questões climáticas da ONG Greenpeace. E o seu desempenho comercial está em disparada: a Indonésia e a Malásia, líderes mundiais de mercado, expandiram consideravelmente as suas plantações nos últimos anos para atender à imensa demanda pelo óleo vegetal. Países como a Tailândia seguem na lista já com grandes projetos de cultivo.
Até o momento, no entanto, as consequências climáticas do cultivo da oleaginosa não têm sido particularmente positivas, conforme aponta um estudo realizado em 2008, a pedido do governo alemão, pelo Instituto do Clima, Meio Ambiente e Energia, da cidade alemã de Wuppertal.
Foi constatado que a produção de azeite de dendê libera muito mais dióxido de carbono do que o que poderia ser economizado pelos biocombustíveis. E a culpa recai sobre as enormes plantações de monocultura. Principalmente na Indonésia, onde áreas imensas de florestas são desmatadas por esse motivo – especula-se que, a cada ano, sejam em torno de 1,3 milhão de hectares.
Por consenso, o azeite de dendê só pode ser produzido de forma ecologicamente correta quando nenhuma floresta for destruída no processo e quando o ciclo produtivo das plantações não durar mais do que os 25 anos habituais. Essas são medidas que, a princípio, devem ser levadas em conta já nos próximos projetos que surgirem.
Com a intenção de formular regras básicas e de comum acordo, os produtores, comerciantes e organizações não governamentais têm se reunido anualmente desde 2004 na Mesa Redonda do Óleo de Palma Sustentável (RSPO – Roundtable for Sustainable Palm Oil).
Crítica aos ambientalistas
Todavia, desde o início, o projeto tendia ao fracasso por diversos motivos. Um deles é que os produtores de óleo de dendê se recusam, por exemplo, a ser envolverem com a emissão de gases do efeito estufa. Para eles, a crítica dos ambientalistas ao azeite de dendê beira a hipocrisia.
A justificativa dada pelos produtores é que o produto ajuda a combater a miséria e, portanto, também é bom para as florestas – uma vez que a pobreza é apontada como o principal motivo para a derrubada de árvores. "Nós somos atacados com argumentos ecológicos, enquanto o verdadeiro motivo é a concorrência com o óleo de colza", rebate o ex-ministro indonésio da agricultura Anton Apriyantono.
A promessa do selo "verde"
No final de 2008, porém, a RSPO chegou pela primeira vez a um acordo quanta à criação de um selo "verde" de sustentabilidade para o azeite de dendê. O objetivo da manobra era garantir que nenhuma mata fosse destruída em função das plantações – sem proibir explicitamente, no entanto, a prática da queimada.
A medida repercutiu na multinacional alemã Henkel, responsável por movimentar centenas de milhares de toneladas do produto, que anunciou a intenção de trocar toda a sua carga de importação para azeite de dendê certificado ao longo dos próximos anos.
No final de 2007, a Alemanha introduziu uma regulamentação sobre a sustentabilidade da energia de biomassa. Desde então, são importados apenas combustíveis cultivados de forma ecológica e socialmente aceitável – como é o caso também do azeite de dendê certificado.
"Nós sabemos, é claro, que ainda falta muito até que esse sistema de certificação imprescindível se estabeleça no mercado", ponderou o então ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel. "O nosso objetivo é impedir que esse azeite de dendê, cuja produção implica a destruição de florestas, seja utilizado na Alemanha".
E, de fato, ainda falta bastante até que isso seja atingido: desde o fim de 2008, o óleo certificado pela RSPO está inserido com uma quantia considerável no mercado. No entanto, um estudo da organização ambientalista WWF aponta que ele é utilizado apenas por dez dos 60 maiores fabricantes na Europa – mesmo sendo apenas 5% mais caro.
Autor: Oliver Samson (mdm)
Revisão: Roselaine Wandscheer