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Ameaça terrorista durante Jogos de Sochi é real, afirma especialista

Mikhail Bushuev / Alexander Warkentin (fc)31 de dezembro de 2013

Analista de segurança do International Crisis Group estima que só no Cáucaso Norte haja ao menos mil radicais e diz que, apesar da resposta aos ataques de Volgogrado, não há como garantir proteção total às Olimpíadas.

Atentado matou ao menos 14 pessoas em 30/12, após bomba explodir em ônibus elétricoFoto: Reuters

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, prometeu nesta terça-feira (31/12) que as autoridades vão continuar a luta contra os terroristas até "sua completa eliminação". Pela primeira vez em vários anos o chefe do Kremlin ordenou o reforço da segurança em todo o território nacional, depois de um duplo atentado suicida em menos de 24 horas ter deixado 33 mortos na cidade de Volgogrado.

Em entrevista à DW, a especialista em segurança Yekaterina Sokiryanskaya, do International Crisis Group, em Moscou, afirma que, além dos grupos terroristas organizados, há um novo fenômeno na Rússia: os homens-bombas que atuam de forma independente.

"A ameaça terrorista é real. O grande esforço colocado em prática em Sochi e em outras cidades russas não pode ser garantia de que não vá acontecer algo durante os Jogos", afirma.

Deutsche Welle: Quem teria condições de organizar ações de terrorismo como os ataques realizados em Volgogrado?

Yekaterina Sokiryanskaya: Existem na Rússia várias associações terroristas. Mas no caso de Volgogrado tenho certeza de que por trás está o grupo Emirado do Cáucaso, ou como eles mesmo se autodenominam, Imarat Kawkaz. Seu líder, Doku Umarow, divulgou no final de julho uma mensagem em vídeo em que ele ameaçava sabotar os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.

O homem-bomba [suspeito de realizar um dos ataques em Volgogrado] era russo étnico, mas ele também pertencia ao grupo Emirado do Cáucaso. Embora Doku Umarow não tenha se responsabilizado pela primeira ação terrorista em outubro – e nem pela última –, estou absolutamente certa de que os ataques terroristas são uma materialização de suas ameaças.

O que se conhece sobre o grupo?

O grupo Emirado do Cáucaso surgiu em 2007, no decorrer da transformação do movimento separatista na Chechênia. A associação foi classificada pelas Nações Unidas, Rússia, EUA e outros países como organização terrorista. Ele primeiro operava no Cáucaso do Norte e agora há informações de que existe uma célula ativa no Tartaristão [uma subdivisão da Federação Russa]. Na liderança do grupo estão chechenos tradicionais, mas desde 2009 a República do Daguestão está no centro das atividades.

A associação tem uma estrutura complexa. Alguns distritos, os wilajets, têm seu próprio amir (líder) e um kadi (juiz). Os wilajets funcionam de forma independente, embora tenham os mesmos objetivos. Além disso, existem também os simpatizantes: alguns rejeitam em realizar luta armada, mas não reconhecem as autoridades russas. Para eles, os kadis e a sharia (a lei islâmica) são as maiores autoridades.

O grupo se financia em aproximadamente 90%. Ele extorque as autoridades regionais e empresários. E todos pagam, já que a polícia não consegue protegê-los. E muitos não chegam a denunciar a chantagem ou o “imposto de jihad”, já que se trata de dinheiro ilícito. O Emirado do Cáucaso se apoia não somente em ideologia, mas também em práticas criminosas.

Há outros grupos terroristas tão fortes como o Emirado do Cáucaso?

Não. Há outros grupos terroristas, mas nenhum tem tanto poder como o Emirado do Cáucaso. E quanto a isso temos que admitir que as autoridades de segurança tiveram sucesso. Todos os anos uma parte da direção é eliminada, como, por exemplo, na República da Cabárdia-Balcária. Mas a estrutura é construída para que ela possa ser sempre regenerada.

Foto: Privat

Se falamos sobre ameaças terroristas, não posso deixar de mencionar um novo fenômeno na Rússia, que são os homens-bombas radicais que atuam sozinhos, como os irmãos Tsarnaev [responsáveis pelo atentado da Maratona de Boston]. São pessoas que seguem totalmente a jihad, mas não fazem parte de nenhuma organização. Veja só, hoje é possível construir uma bomba com o auxílio de instruções obtidas pela internet. Não é necessário muito dinheiro e uma organização para executar um atentado terrorista. É necessário somente um suicida, que embarque num ônibus.

Quantos terroristas devem existir na Rússia?

Ninguém sabe exatamente. Estima-se, no Norte do Cáucaso, de 1.000 a 1.500 pessoas. Mas hoje os terroristas não precisam de um grande exército. Seria necessário acomodá-los, alimentá-los, e isso custa muito caro. Os grupos têm grande procura por recrutas, mas nem todos são absorvidos. Mas mesmo com um pequeno número, há aí uma ameaça de violência. Se contarmos também os aliados, seriam entre 2.000 e 3.000 homens, não mais que isso.

Qual papel desempenha o islamismo radical?

Sem dúvida a interpretação radical do islamismo tem um papel-chave, principalmente o salafismo. Estas pessoas se percebem como parte da jihad global. Há também combatentes da Rússia na Síria. Fala-se de 1.500 a 2.000 jihadistas do Norte do Cáucaso.

Mas nem todos os muçulmanos são radicais. Na República do Daguestão existem muitos salafistas, mas a maioria rechaça métodos terroristas. Nos anos de 2011 e 2012 houve uma tentativa de integrar essas pessoas, mas desde 1º de janeiro de 2013 a República tem uma nova liderança, que toma medidas enérgicas de forma impiedosa e, assim, os salafistas são pressionados a entrar na ilegalidade.

Nos últimos meses foram presos, diariamente, de 30 a 40 pessoas. Prendem-se homens com barba e mulheres com véu de forma indiscriminada. Jardins de infância salafistas e escolas do Corão são fechadas. Líderes moderados vão para o exterior e em seus postos entram radicais. Eu estive recentemente na República do Daguestão e vivenciei como os jovens são radicalizados por meio da violência das autoridades.

Prevalece o pensamento de que as ações de terrorismo objetivam os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, sendo que lá já foram tomadas estritas medidas de segurança. Como você avalia isso?

A ameaça terrorista é real. O grande esforço colocado em prática em Sochi e em outras cidades russas não pode ser garantia de que não vá acontecer algo durante os Jogos. Como foi visto, é necessário pouco para cometer um ato terrorista. Eu espero que, mesmo assim, obtenha-se êxito em garantir a segurança durante os Jogos.

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