Estudo revela alto grau de desconhecimento entre a população dos EUA e aponta que um quinto dos mais jovens sequer sabe o que ocorreu em Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial.
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Um estudo divulgado nesta quinta-feira (13/04) afirma que a cultura da memória das atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial necessita ser cada vez mais reforçada. Um pesquisa realizada entre adultos americanos revela um alto grau de ignorância sobre o Holocausto, que se torna ainda mais grave entre as gerações mais jovens.
O Estudo do Conhecimento e Conscientização sobre o Holocausto concluiu que sete em cada dez americanos (70%) dizem que menos pessoas se importam com o Holocausto do que antes, e uma maioria significativa (58%) acredita que algo semelhante poderia ocorrer novamente.
O estudo foi realizado pela firma Schoen Consulting a pedido da Claims Conference, uma organização fundada em 1951 que fornece ajuda e restituições aos sobreviventes do Holocausto e seus herdeiros.
Segundo o estudo, mais de um quinto dos americanos mais jovens – nascidos entre 1985 e 2000 – não sabe ou não têm certeza do que ocorreu em Auschwitz. Quase a metade desses jovens (49%) não foram capazes de identificar pelo nome nenhum dos campos de concentração nazistas. Entre os adultos, esse percentual é de 45%.
Um dos dados mais preocupantes revelados pela pesquisa sugere um apoio significativo às teorias que afirmam que o Holocausto fez menos vítimas do que os números registrados oficialmente.
Estimativas de historiadores com base em registros meticulosos mantidos pelo regime nazista, além de relatos de testemunhas e até oficiais nazistas de alta patente, afirmam que foram 17 milhões de vítimas. Entre estas, a maior quantidade é de judeus, com aproximadamente 6 milhões de mortos durante a Segunda Guerra.
O questionamento dos números de vítimas é uma das características dos que negam a ocorrência do Holocausto, apesar de que, no caso da pesquisa, o resultado é atribuído mais à ignorância do que propriamente a uma negação. Entre os adultos americanos, 31% acreditam que o número de vítimas seja de 2 milhões. Entre os mais jovens, esse percentual é de 41%.
Um dado positivo da pesquisa é que a ampla maioria dos americanos (93%) defende que a história do Holocausto deve ser ensinada nas escolas.
Já 68% dos entrevistados acreditam que o antissemitismo existe nos EUA nos dias atuais, e 34% avaliam que há um número significativo de neonazistas no país.
Uma pesquisa divulgada pelo jornal Washington Post após o episódio de violência envolvendo supremacistas brancos em Charlottesville, em agosto de 2017, revelou que 9% dos americanos não via problemas com indivíduos que mantêm posições neonazistas ou supremacistas – o que equivale a 22 milhões de pessoas.
A Claims Conference trabalha com grupos que realizam projetos de memória do Holocausto. Em meados dos anos 2000, a organização foi amplamente criticada pelos altos salários pagos aos seus executivos, além dos gastos exorbitantes com despesas bancadas pelas verbas que deveriam ser destinadas à ajuda aos sobreviventes.
RC/dw
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O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.