Americanos tematizam sexo e pornografia na Berlinale
13 de fevereiro de 2013Os filmes americanos têm uma presença marcante na edição deste ano da Berlinale. Nomes consagrados que transitam entre o cinema comercial e independente, como Gus Van Sant e Steven Soderbergh, apresentaram seus novos filmes na mostra competitiva ao lado de Prince Avalanche, de David Gordon Green, e The Necessary Death of Charlie Countryman, de Fredrik Bond.
Com um extenso programa de documentários e sempre apresentando alguns filmes com temática gay, a seção Panorama também trouxe uma grande variedade de filmes americanos. Dos tipos excêntricos de Maladies, de Carter, ao romance lésbico e maduro de Concussion, de Stacie Passon, tópicos comuns dos filmes americanos deste ano são o sexo e a pornografia, que são mostrados e discutidos, dando pistas de como a mais poderosa indústria de cinema do mundo vem encarando um tema sempre polêmico.
Viciado em pornografia
Seria a pornografia melhor do que o sexo? Essa é principal questão levantada por Joseph Gordon-Levitt em Don Jon's Addicton. O ator, que ficou conhecido no final da década de 1990 com o seriado 3rd Rock From The Sun e filmes como 500 dias com ela, também assina o roteiro de sua estreia atrás das câmeras.
No filme ele interpreta Jon Martello, ítalo-americano de New Jersey que acredita que sua vida é perfeita. Ele é bonito, tem um carro envenenado e um apartamento impecável. Consegue lindas mulheres e vive com a consciência limpa indo à missa e se confessando uma vez por semana. Mas o maior prazer da vida de Jon é ficar sozinho em frente ao computador assistindo a filmes pornográficos e se masturbando.
Tudo muda quando ele se apaixona pela estonteante Barbara (Scarlett Johansson), que muda a vida do rapaz completamente. Ela melhora a relação dele com a família, sua maneira agressiva de dirigir e o incentiva a voltar aos estudos. Mas o grande amor de Jon quer acabar com seu maior vício.
Apesar de divertido, o filme funciona como uma comédia romântica para homens, com um certo moralismo em relação à pornografia, escondido atrás de belos jovens em busca da felicidade. Uma liberalidade e sexualidade calcada pela moral e valores antigos, personificados nos jogos e atitudes da personagem de Johansson.
Outro lado do pornô
Antes do frenesi do mundo das celebridades, antes da banalização do pornô na internet e de sua popularização com o videocassete, na década de 1980, Linda Lovelace foi, como que sem querer, a estrela de uma revolução sexual. Seu primeiro e único filme, Garganta Profunda (1972), foi um fenômeno que levou a pornografia para as massas e arrecadou mais de 600 milhões de dólares em todo o mundo.
Partindo de uma quase desastrosa estreia na direção de ficção com o pretensioso Howl, os diretores Rob Epstein e Jeffrey Friedman, conhecidos por documentários como Celuloide Secreto, acertaram a mão num filme que conta a história publica e privada de Linda Lovelace, vivida com um balanço entre a inocência, a graça e a melancolia por Amanda Seyfred.
Lovelace retrata a jovem de uma família religiosa na Flórida que se libertou ao se casar com o charmoso Chuck Traynor (Peter Sarsgaard). Na trilha para se tornar uma estrela internacional graças ao seu charme e habilidades, Linda cria uma nova identidade e vira um símbolo para a liberdade sexual e o hedonismo.
A grande sacada de Lovelace é contar primeiro a história de um lado público, com o glamour da fama. A trajetória que levou Linda até Garganta Profunda, e como depois de algum tempo ela simplesmente desapareceu da mídia, é o "lado B" da história, que revela uma mulher que lutou para sair de um período negro e abusivo de sua vida.
Com uma boa reconstituição de época e com James Franco e Chloë Sevigny em papéis pequenos, Lovelace é um retrato de como, no mundo da pornografia, o underground virou entretenimento de massa.
Olhando o passado, refletindo o presente
Quase onipresente na Berlinale deste ano, James Franco, que vive o eterno playboy Hugh Heffner em Lovelace, é a principal atração de Interior. Leather Bar, sua estreia na direção ao lado de Travis Matthew. O filme é um projeto experimental que brinca com os limites entre a realidade e a ficção.
Como um documentário, os diretores apresentam o projeto para o ator principal Val Lauren. A ideia é recriar os 40 minutos cortados da edição final do polêmico Parceiros da Noite (1980), dirigido por William Friedkin e estrelado por Al Pacino, que vive um policial que tem que se infiltrar no mundo do sexo gay e sadomasoquismo de Nova York.
As cenas retiradas do filme giravam em torno de situações envolvendo sexo extremo, o que foi recriado de forma explícita em Interior. Leather Bar. Segundo Matthew, parte do conflito vivido por Lauren, um heterossexual cercado pelo mundo do sexo homossexual, foi parte encenado e parte real.
Franco, em seu discurso rebelde e libertário da causa gay, não convence. O filme acaba virando uma espécie de projeto artístico cheio de vaidade, no qual quase todos os protagonistas declaram como estavam excitados em fazer sexo com Franco no estúdio, e com ideias equivocadas sobre o significado do casamento gay e a generalização do sexo entre dois homens como algo sempre extremo.
Querendo ser um pornô artístico e radical, Interior. Leather Bar acaba se tornando um exercício mais banal que a pornografia comercial. No fim dos seus tediosos 60 minutos dá uma saudade da ingenuidade safada e cheia de vida de Linda Lovelace, a original, em seu único filme Garganta Profunda.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler