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Amizade entre Putin e Trump deve ser breve, dizem analistas

Uta Steinwehr md
4 de janeiro de 2017

Apesar de elogios trocados pelos políticos, é provável que aproximação entre Rússia e EUA dure pouco. Rivalidade de longa data entre os dois países não deve ser superada após posse do magnata, avaliam especialistas.

Bonecos de Putin e Trump
Foto: picture-alliance/dpa/M. Pochuyev

Donald Trump chamou recentemente o presidente russo, Vladimir Putin, de "muito esperto". Foi depois que o chefe do Kremlin abriu mão de responder na mesma moeda ao presidente americano, Barack Obama, após a expulsão de 35 diplomatas russos dos EUA. Antes disso, Trump já havia expressado diversas vezes sua admiração por Putin e por seu estilo autoritário de governar e de fazer política. Isso incomodou muita gente nos EUA.

Entretanto, aos olhos de muitos teve mais peso o anúncio de que Trump quer cooperar com a Rússia contra o terrorismo, ressalta Sebastian Feyock, pesquisador da Sociedade Alemã de Relações Exteriores, um think tank em Berlim. Para Trump, o maior perigo quando se trata de terrorismo islâmico vem da Síria.

"O atual governo, sob Barack Obama, se recusou a cooperar com a Rússia, porque o presidente russo apoia o regime sírio sem levar em conta as perdas", diz Feyock. Já na campanha eleitoral, Trump se distanciou claramente do governo Obama. "Podemos concluir a partir das declarações de Trump que ele provavelmente não se importará com quais métodos serão usados pela Rússia para apoiar os militares sírios."

Novo recomeço

Para Feyock, isso tudo soa como um novo recomeço das relações bilaterais. Vale lembrar que o próprio Obama também quis isso no início do seu mandato. Sua então secretária de Estado, Hillary Clinton, e o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, apertaram em 2009 até um botão de reset, simbolicamente. Mas não adiantou muito.

Trump quer fazer as coisas de forma diferente. Ele diz que é um negociador, que Putin também procura fazer um bom negócio, e que eles vão chegar a um acordo. Como em muitos outros campos da política, para a opinião pública é um enigma completo se Trump realmente já tem um plano sobre isso. Claro até agora é que ele quer tornar Rex Tillerson ministro do Exterior. O CEO da empresa petrolífera americana ExxonMobil tem laços estreitos com o Kremlin. A revista alemã Der Spiegel o classifica até mesmo de "encarregado pela Rússia".

Lavrov e Clinton: ministro do Exterior russo e secretária de Estado dos EUA apertam o botão do "reinício" em 2009Foto: picture-alliance/AP Photo

"A retórica de Trump sobre a Rússia causa enjoos aos comentaristas políticos nos Estados Unidos", diz o cientista político Feyock. "Eles dizem que pode ser o terceiro presidente seguido que se deixa ludibriar por Putin e, no fim, os EUA acabam sendo novamente traídos pela Rússia."

"Dia da discórdia virá"

Volker Weichsel, redator da revista Osteuropa, também vê perigo parecido. "O dia da discórdia virá", prevê. Ele considera baixa a influência de amizades pessoais na política. "É bem possível que vejamos uma breve explosão de aproximação, ela vai se exaurir rapidamente."

Na opinião de Weichsel, as recentes declarações de ambos os lados não devem ser levadas muito a sério. Ele acredita que fatores estruturais é que são cruciais – a situação de competição entre os dois países permanece. Porque domesticamente o regime de Putin se legitima por seu antiamericanismo. "Permanentemente se pinta uma imagem do inimigo: 'Vamos ser atacados pelos EUA e temos que nos defender, os EUA são culpados de tudo, pelo declínio da Rússia, pela situação econômica ruim.' Isso não será alterado por Trump."

Ele também não acredita ser uma contradição o fato de Putin se expressar favoravelmente sobre o presidente eleito Trump. Isso porque a retórica para fora é simplesmente diferente da interna, frisa Weichsel. Para o especialista, enquanto Trump anunciar coisas que são do interesse da Rússia – como, por exemplo, uma menor influência dos EUA na Europa Oriental – não faz mal nenhum louvar Trump. "Isso tem a finalidade de apaziguamento", avalia.

Weichsel acredita que o próximo passo da Rússia pode ser testar qual a posição de Trump em relação ao Báltico. "No momento em que Trump der um limite, a aparente aproximação vai acabar", prevê. "O que vai acontecer até lá será crucial."

Trump não pode, como presidente, decidir sozinho como sua política externa se posicionará em relação à Rússia. E com uma aproximação com Moscou, ele se coloca contra o próprio partido. Alguns republicanos são senadores há muito tempo e não dependem da benevolência de Trump, sublinha Feyock. Ele ressalta que esses políticos têm uma imagem consolidada – e majoritariamente bastante crítica – da Rússia.

Senador americano John McCain se encontrou com presidente ucraniano, Petro Poroshenko, em dezembroFoto: Reuters/Ukrainian Presidential Press/M. Palinchak

Rota de confronto

É o caso de John McCain e Lindsey Graham, que apoiam energicamente uma comissão parlamentar de inquérito para investigar as atividades dos serviços secretos russos durante a campanha eleitoral nos EUA. McCain disse à Fox News que o Congresso dos EUA deve "reforçar as sanções contra a Rússia devido à má conduta". "Assim, ambos os senadores se posicionaram claramente contra Trump", diz Feyock. Trump duvida de uma interferência russa e considera supérflua uma comissão de inquérito.

Ambos os senadores estiveram nos últimos dias em uma excursão pelos Estados bálticos, Geórgia e Ucrânia para assegurar o apoio dos EUA a esses países. McCain propôs uma presença militar permanente dos EUA nos Estados bálticos e fornecimento de armas à Ucrânia para a luta contra os rebeldes pró-russos no leste do país.

"Isso mostra que o Congresso entrará em rota de confronto com o presidente na futura política dos EUA para a Rússia", avalia Feyock. "Mesmo se Trump suspender as sanções contra a Rússia, o Congresso pode determinar suas próprias ou bloquear o presidente através da lei do orçamento, negando determinadas verbas ou forçando-o a gastar verbas para medidas específicas."

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