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Amizade transatlântica sob novo signo

Daniel Scheschkewitz / av21 de fevereiro de 2005

Pela primeira vez em quase três anos, o presidente dos EUA visita a Alemanha. As relações teuto-americanas a caminho da normalização, após as divergências em torno da guerra no Iraque.

Bush: "Temos diferenças, mas não em nossos valores comuns"Foto: AP

O presidente norte-americano, George W. Bush, aproveitará seu encontro com o chanceler federal, Gerhard Schröder, em Mainz nesta quarta-feira (23/02) para falar aos cidadãos da Alemanha sobre os fundamentos das relações transatlânticas. Além disso, ele debaterá com Schröder estratégias comuns para a solução dos problemas globais:

"Minha meta principal nesta viagem é lembrar a americanos e europeus que as relações transatlânticas são muito importantes para nossa segurança e paz. Por vezes temos diferenças, mas não em nossos valores comuns. Compartilhamos o amor e o respeito pela liberdade."

Velha Europa de novo "in"

A "velha Europa" volta a merecer mais atenção de Washington, inclusive a Alemanha e a França, contrárias à guerra no Iraque. Longe vai o tempo em que o secretário da Defesa Donald Rumsfeld comparava a Alemanha a Cuba e Líbia, e Condoleezza Rice propunha punir os franceses e ignorar os alemães por oporem-se à guerra no Iraque.

Segundo Ivo Daalder, do Brookings Institute, os EUA aprenderam uma lição. Durante seu primeiro mandato, Bush foi forçado a reconhecer os limites do que seu país pode realizar sozinho. Prova disso é a atual situação no Iraque. Sem cooperação externa, o combate ao terrorismo e a caça a colaboradores da Al Qaeda não teria tanto sucesso. Esta necessidade também se aplica aos atritos com o Irã e a Coréia do Norte.

Concordâncias e divergências

O governo alemão também cumpre sua parte no reaquecimento das relações bilaterais. Durante a recente visita da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, a Berlim, o premiê alemão a recebeu de braços abertos. Também o ministro do Interior, Otto Schily, foi lisonjeado por uma audiência-surpresa com Bush.

Fato novo é a disposição de falar abertamente das divergências de opinão, mesmo diante da atual ofensiva de charme por parte de Washington. A lista dessas divergências, sobretudo em detalhes, é bastante alentada. Embora ambos os países desejem evitar o armamento atômico do Irã, a Alemanha aposta no diálogo com Teerã e em propostas de cooperação para o emprego civil da energia nuclear. Por sua vez, Bush rejeita qualquer contato com os mulás e deseja uma mudança de regime no Irã.

Outra meta comum para Berlim e Washington é estabilizar a democracia no Iraque. Entretanto o apoio alemão na formação de policiais se dará fora daquele país. Americanos e alemães desejam a proteção do clima global, porém os EUA continuam se recusando a assinar o Protocolo de Kyoto, que entrou agora em vigor. Outros pontos de dissensão são o papel de instituições multilaterais como o Tribunal Penal Internacional e o embargo de armas contra a China.

Antes e depois do 11 de setembro

Uma enquete do BBC World Service revelou que 77% dos alemães e 75% dos franceses acreditam que a reeleição de Bush terá influência negativa sobre a paz no mundo. Entretanto o presidente americano não se cansa de enfatizar que, enquanto para alguns europeus o 11 de setembro de 2001 foi um momento terrível, porém passageiro, "para nós ele foi o motivo de modificarmos nossa política externa".

A visita de Bush à Europa pouco alterará esta constelação básica. O teste final sobre se a melhoria das relações teuto-americanas é mais do que uma mudança de tom, ainda está por vir. E só aí se poderá constatar se a comunidade transatlântica de valores mantém sua validade na era pós-11 de setembro.

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