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Análise: a carta de FHC

22 de setembro de 2018

Ex-presidente sugeriu que candidatos se unam contra Bolsonaro e Haddad em torno de candidatura com mais condições de obter coesão nacional, mas menção posterior, no Twitter, ao nome de Alckmin repercute mal.

O ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso: "Ainda há tempo para deter a marcha da insensatez"
Fernando Henrique Cardoso: "Ainda há tempo para deter a marcha da insensatez"Foto: imago/GlobalImagens

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou na quinta-feira (20/09) uma carta aberta apelando para que os candidatos "que não se aliam a visões radicais" se unam. Mesmo sem citar nomes, ele indicou que propôs uma convergência de presidenciáveis contra as candidaturas do ex-capitão Jairo Bolsonaro (PSL), que está em primeiro lugar nas pesquisas, e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que aparece em segundo.

Fernando Henrique também não especificou na carta quem seriam esses candidatos moderados que, segundo ele, poderiam se unir, mas é possível deduzir que o grupo inclui Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos) e até Ciro Gomes (PDT). Todos eles permanecem nas últimas pesquisas estacionados ou em tendência de queda, mas somados seguem reunindo 34% das intenções de voto, segundo o último Datafolha. 

FHC diz ainda que o fato de o primeiro colocado nas pesquisas ser um candidato que prega o "ódio" como Bolsonaro e que tem como principal opositor alguém como Haddad – que "representa um líder preso" por acusações de corrupção – "mostra o ponto a que chegamos".

Segundo o ex-presidente, tanto Haddad quanto Bolsonaro terão "enormes dificuldades para obter a coesão nacional suficiente e necessária para adoção das medidas que levem à superação da crise".

"Ainda há tempo para deter a marcha da insensatez", escreveu o ex-presidente, que propôs uma união do restante dos candidatos no estilo das Diretas Já, "sem partidarismo e personalismo": "que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem tiver melhores condições de êxito eleitoral". Do contrário, segundo ele, "a crise tenderá certamente a se agravar".

FHC também não especificou na carta qual seria o candidato que, segundo ele, reúne as melhores condições de êxito eleitoral. No entanto, pouco depois da publicação, ele disse no Twitter que Alckmin preenche os requisitos. "Enviei carta aos eleitores pedindo sensatez e aliança dos candidatos não radicais. Quem veste o figurino é o Alckmin, só que não se convida para um encontro dizendo 'só com este eu falo'", escreveu o ex-presidente.

Apesar do tom conciliador e preocupado da carta, o apelo de FHC acabou repercutindo mal entre outros candidatos, em especial por apontar que Alckmin, do mesmo partido do ex-presidente e que está estacionado no último Datafolha com 9% das intenções de voto, seria um provável unificador.

A ex-ministra Marina Silva ironizou a frase do ex-presidente de que Alckmin "veste o figurino". "Ninguém chama para tirar as medidas com a roupa pronta", disse Marina. Já Alvaro Dias, que conta com 3% das intenções de voto, rechaçou a proposta afirmando que Alckmin é quem deveria renunciar a favor de outro candidato. "O PSDB vem perdendo do PT desde 2002", disse.

Henrique Meirelles, que tem 2% das intenções de voto, por sua vez, disse que FHC "tentou falar com correligionários, mas não conseguiu". "Se o candidato do PSDB renunciar em favor da minha candidatura, eu aceito", disse. Ciro Gomes foi mais longe e afirmou que FHC "é um dos responsáveis pela situação em que o país se encontra".

Após a polêmica, o ex-presidente defendeu que escreveu a carta "aos eleitores e eleitoras, não aos candidatos ou aos partidos". "Há meses repito ser necessário um 'centro popular e progressista'. Parece que na conjuntura água mole não racha pedra dura. O que não muda minhas convicções", escreveu ele no Twitter neste sábado (22/09).

Segundo o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a carta de FHC tem mais o efeito de um alerta do que prático. "Ele manifesta sua preocupação com os destinos da democracia no Brasil. Ele coloca que essa polarização entre Bolsonaro e Haddad não é apenas uma questão eleitoral, mas política", opina.

"Ele está avisando que a democracia foi difícil de ser conquistada, e não é o momento eleitoral que pode colocar em risco essa conquista. É a carta de um intelectual, de um professor de ciência política que foi perseguido pela ditadura."

Ainda segundo Prando, é improvável que a carta tenha algum efeito nas candidaturas, em especial a de Alckmin. "O grande problema é que o centro se fragmentou muito e quem foi sobretudo prejudicado foi Alckmin. O próprio Fernando Henrique sabe das dificuldades de Alckmin. Ele já cantou essa bola no início do ano quando manifestou entusiasmo com uma possível candidatura de Luciano Huck", afirma.

Segundo o especialista, "é muito difícil alguém fazer um gesto no primeiro turno para apoiar outro candidato. Ainda há 15 dias de campanha, mas o cenário que se desenha é mesmo de um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad".

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