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Análise: Bolsonaro serve Petrobras como bufê a seus aliados

22 de fevereiro de 2021

Para o presidente, manter controle sobre semiestatal é questão de sobrevivência: com postos e outras regalias, ele mantém satisfeitos militares e aliados no Congresso. Mas queda vertiginosa na bolsa prenuncia catástrofe.

Bandeira do Brasil diante da sede da Petrobras
Protestos diante da sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em 18/02/2020Foto: Carl de Souza/AFP/Getty Images

Para surpresa de muitos, o presidente Jair Bolsonaro demitiu na sexta-feira (19/02) o chefe da Petrobras, colocando em seu lugar um general da reserva, que deve assumir em 20 de março. O chefe de Estado estava incomodado com o aumento dos preços da gasolina e diesel, anunciado pelo ex-presidente da semiestatal Roberto Castello Branco. Transportadores e caminhoneiros haviam ameaçado com protestos.

Joaquim Silva e Luna, ex-ministro da Defesa e general de quatro estrelas na reserva, é quem assumirá agora o comando do maior conglomerado de petróleo e energia da América Latina. O conselho de administração da Petrobras ainda precisa dar seu aval para a medida.

Já se contam com protestos dos acionistas minoritários, pois o anúncio de Bolsonaro fez os ações da empresa despencarem 7% na bolsa de valores de Nova York, na sexta-feira, resultando num prejuízo de 11 bilhões de dólares.

Esperam-se outras quedas de cotação durante a semana. Antes mesmo da abertura do pregão, nesta segunda-feira, a ação da semiestatal já estava em apenas 8 dólares, portanto 15% menos do que antes da mudança de pessoal. Comparando: em 2008, quando a Petrobras era a multinacional latino-americana mais valiosa, suas ações estavam cotadas em mais de 70 dólares em Wallstreet, onde eram o título estrangeiro mais negociado, e empresa valia mais que a Microsoft.

Diversos bancos de investimentos aconselham agora a venda das ações, pois a substituição do presidente faz prever que quem voltará a decidir os destinos da empresa são o governo brasileiro e as Forças Armadas ligadas a ele. Embora listada na bolsa e com quase metade de suas ações nas mãos de investidores privados, é o governo quem controla a Petrobras.

Assunto tradicionalmente militar

O fato desperta lembranças ruins. Sob os governos de esquerda dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016), a Petrobras já havia sido instrumentalizada. Com intervenções estatais em sua política de preços, os dirigentes tentaram conter a inflação, instrumentalizando a petroleira para uma política industrial na economia como um todo.

No fim das contas, a Petrobras estava envolvida em todos os setores da economia, e quase todos os projetos de investimento fracassaram. Além disso, mais tarde ela esteve no centro da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção da história brasileira.

Petroleiros protestam no Rio de Janeiro

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A partir de 2015, o conglomerado foi gradativamente sendo saneado. Porém há muito esse processo está paralisado: a Petrobras quer, por exemplo, se livrar da metade de suas refinarias, mas não encontra interessados. Diante da atual intervenção e do controle de preços, dificilmente algum conglomerado químico estará disposto a investir nessas refinarias.

Além disso, em meados de fevereiro o diretor de compliance Marcelo Zenkner anunciou que deixaria a Petrobras. Ao jornal Estado de S. Paulo, o principal opositor à corrupção da companhia explicou que o clima político mudara, desde o fim de 2020, e que a base para independência e autonomia estava comprometida.

Para Bolsonaro, o controle sobre a Petrobras é uma questão de sobrevivência política: ele precisa manter satisfeitos seus novos aliados do Centrão no Congresso e os militares, com cargos, orçamentos e outras regalias da Petrobras. Agora o presidente lhes coloca a semiestatal à disposição, como um bufê.

Também tem assim continuidade a militarização crescente da economia sob Bolsonaro. Para as Forças Armadas, a Petrobras é, tradicional e indiscutivelmente, assunto seu. Já antes da ditadura militar (1964-1985), a direção do conglomerado cabia exclusivamente a militares, entre eles o futuro presidente Ernesto Geisel. Apenas nos anos 90 eles perderam sua influência, em decorrência da privatização parcial da petroleira e sua listagem na bolsa de valores.

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