Análise de dentes desbanca de vez mito sobre Hitler
Jefferson Chase
21 de maio de 2018
Análise de arcada dentária achada pelos russos em Berlim acaba de vez com a teoria conspiratória de que ditador nazista sobreviveu, uma lenda que diz muito sobre a propaganda soviética e a crueldade do pós-guerra.
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Adolf Hitler tinha dentes ruins: o que pode soar como mais uma informação randômica para despertar fascinação sensacionalista em torno do ditador nazista é, na verdade, uma evidência de que ele realmente se suicidou em 30 de abril de 1945.
Recentemente, uma equipe de patologistas franceses teve autorização para examinar parte de uma arcada dentária encontrada em Berlim no início de maio de 1945. Foi a primeira vez em sete décadas que especialistas tiveram acesso ao achado – e o resultado, publicado no European Journal of Internal Medicine, não deixa dúvidas:
"Os dentes são autênticos – não há nenhuma dúvida", disse o patologista-chefe Philippe Charlier à agência de notícias AFP. "Nosso estudo prova que Hitler morreu em 1945."
A equipe também teve permissão para analisar fragmentos do crânio de Hitler para confirmar como ele cometeu suicídio. Os dentes se encaixam na descrição dada pelo dentista do ditador nazista e não revelam traços de carne, o que é consistente com o fato de que ele era vegetariano.
O estudo pode – mas provavelmente não vai – colocar um ponto final nas teorias conspiratórias de que Hitler conseguiu escapar da destruição dos dias finais da Segunda Guerra Mundial.
"Podemos parar com as teorias conspiratórias sobre Hitler", disse Charlier. "Ele não fugiu para a Argentina num submarino, não está escondido numa base na Antártida ou num lado oculto da Lua."
Pelo contrário: Hitler terminou como todo historiador respeitável afirma – num suicídio coletivo em seu bunker em meio às ruínas da capital nazista, enquanto os soviéticos se aproximavam.
Cerco e suicídio
Em 30 de abril de 1945, tropas soviéticas haviam avançado até 500 metros do centro de comando de Hitler no coração de Berlim. Cercado e quase sem condições de comunicar com o que havia sobrado de seu Exército, Hitler se deu conta de que sonhado Reich estava acabado.
Exposição reconstrói "Bunker de Hitler"
02:08
No início da tarde, Hitler se retirou a seus aposentos com sua companheira de longa data, esposa havia apenas dois dias, Eva Braun. Os dois ingeriram cápsulas de cianeto e atiraram em si mesmos. Seus corpos – junto aos de dois cães de Hitler – foram descobertos às 15h15.
Sabedor do que os italianos haviam feito com o corpo de Benito Mussolini, Hitler havia deixado instruções claras de como se deveria proceder com os cadáveres dele e de Eva Braun. Eles foram levados para fora do bunker e queimados. Em 5 de maio, as forças soviéticas descobriram um corpo carbonizado e o identificaram como sendo de Hitler.
"Os dentes de Hitler eram tão ruins – tão unicamente ruins – que foram suficientes para identificar o corpo", escreveu o patologista forense Mark Benecke, contratado pelo canal National Geographic para investigar os restos do ditador nazista.
Os soviéticos compararam a arcada dentária, que tinha próteses e pontes incomuns e destacadas, com as descrições fornecidas pela assistente de dentista Kathe Heusermann. Mais tarde, o dentista pessoal de Hitler, Hugo Blaschke, confirmaria a informação aos Aliados.
"Os dentes estavam em estado tão ruim que o dentista estava com ele no bunker", disse Liubov Summ, neta da intérprete russa de Heusermann, Elena Rzhevskaya, ao jornal Times of Israel. "Há fotos que são bem desagradáveis de ver."
"Os meninos do Brasil"
A intérprete Elena Rzhevskaya ficou temporariamente com os dentes porque, segundo conta, havia um temor de que soldados do Exército Vermelho se embebedariam e os perderiam. Ela levou o material para Moscou. Mas, apesar de os soviéticos já terem certeza então de que Hitler estava morto, Stálin ordenou que a notícia fosse abafada, enquanto ele espalhava rumores de que aliados haviam ajudado o ditador a escapar.
"Foi uma farsa desonesta, uma tentativa de disfarçar o fato de que seu corpo havia sido encontrado", escreveu Rzhevskaya em suas memórias, O fim de Hitler. "Hitler não era mais um emblema de guerra, ele havia se tornado um emblema do topo de paz que viria."
Os russos chamaram a campanha de desinformação de Operação Mito.
"A estratégia de Stálin, evidentemente, era associar o Ocidente com o nazismo ao inventar que americanos ou britânicos o estavam escondendo", escreve o historiador Anthony Beevor no livro Berlim 1945 – a queda.
Quando combinado ao fato de que nazistas proeminentes como Adolf Eichmann e Josef Mengele haviam, de fato, fugido para a América do Sul, a história inventada por Stálin pode estar na raiz da lenda de que Hitler sobreviveu à guerra. Ideias como essa foram popularizadas pelo filme de 1976 Os meninos do Brasil, no qual Mengele fazia clones de Hitler, num ensaio para uma volta do nazismo.
A triste história de uma intérprete
A ficção era absurda, mas a realidade, trágica. Rzhevskaya, que mais tarde viraria escritora, teria que esperar até que Stálin morresse para poder contar sua história. E Heusermann enfrentaria um destino muito pior.
Como parte da campanha de Stálin para suprimir a verdade, ela foi levada para a União Soviética e sentenciada a dez anos num gulag, seis deles em confinamento solitário, por ter ajudado Hitler com a prótese dentária.
"Eles disseram a ela que, ao ajudar a arrumar os dentes de Hitler, ela contribuiu para a continuação da guerra e que ela deveria ter batido na cabeça dele com uma garrafa", Summ disse ao Times of Israel.
Uma ironia pois, de acordo com Rzhevskaya, Heusermann não era uma militante nazista e havia escondido um dentista judeu, antigo funcionário de seu consultório, em sua casa durante a guerra. Heusermann morreu em Düsseldorf em 1995. Teve um papel insignificante na história, da qual foi uma das incontáveis vítimas inocentes.
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Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.