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Análise: Demissão do presidente do BNDES dificulta reformas

17 de junho de 2019

Respeitado no meio econômico, Joaquim Levy deixa governo após reprimenda pública de Jair Bolsonaro. Economistas sérios pensarão duas vezes antes de aceitar a proposta do presidente.

Symbolbild - BNDES Brasilianische Entwicklungsbank
Foto: VANDERLEI ALMEIDA/AFP/Getty Images

Após a reprimenda pública do presidente Jair Bolsonaro, o economista Joaquim Levy renunciou à presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) . Bolsonaro chegou a dizer que o chefe do banco de desenvolvimento estava com "a cabeça a prêmio" e exigia de Levy a demissão do diretor de Mercado de Capitais do BNDES, Marcos Barbosa Pinto.

Nomeado há uma semana, Barbosa Pinto é considerado no meio econômico um economista e banqueiro experiente. Ele era visto com um enriquecimento para a diretoria de um dos bancos de desenvolvimento mais importantes do mundo. Assim como Levy, no entendimento de Bolsonaro, a desgraça de Barbosa Pinto foi ter trabalho em várias funções nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Para Bolsonaro, todas as pessoas próximas ao PT são comunistas que deveriam estar na prisão ou são, pelo menos, suspeitas. Levy foi ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff e secretário do Tesouro no governo Lula. Aos olhos do presidente, isso faz do economista liberal, com doutorado na Universidade de Chicago, um candidato indesejado. Em várias ocasiões, Bolsonaro afirmou que só aceitou Levy porque seu ministro da Economia, Paulo Guedes, em quem confiava plenamente, tinha uma grande consideração por seu indicado.

Nos círculos empresariais, Levy, de 58 anos, tem uma excelente reputação. Há dez anos, como secretário da Fazenda do Rio de Janeiro, o economista reestruturou o orçamento estadual e conquistou para o Rio o chamado "grau de investimento", uma espécie de atestado de que o estado não dará calote em investidores. 

Joaquim Levy foi escolhido por GuedesFoto: Wilson Dias/Agência Brasil

Posteriormente, ele gerenciou temporariamente 130 bilhões de dólares em ativos financeiros no Bram, o gestor de ativos do Banco Bradesco. Para assumir a presidência do BNDES, Levy deixou o cargo de diretor-geral e financeiro do Banco Mundial, em Washington, onde trabalhava desde 2016.

Levy não havia tido muito sucesso no seu cargo anterior no governo, muito devido à falta apoio político. Após a reeleição em 2014, Dilma deveria implementar medidas de austeridade necessárias, embora durante a campanha eleitoral, ela tenha declarado que as finanças do Estado estavam em ordem.

O economista falhou porque, apesar do aumento ameaçador do déficit, a presidente e seus aliados não estavam convencidos da necessidade de cortes no orçamento. Depois de um ano de uma dura luta contra moinhos de vento no Congresso e no gabinete, Levy foi demitido. Foi quando se mudou para Washington para trabalhar no Banco Mundial.

O determinante para sua atual demissão foi, no entanto, o fato de Guedes ter manifestado dúvidas sobre o desempenho do economista no comando do bando de desenvolvimento. "O grande problema é que Levy não superou o passado e não encontrou soluções para o futuro", disse o ministro.

O economista de Chicago e ex-banqueiro é uma espécie de superministro no governo de Bolsonaro. O próprio presidente continua a afirmar que não entende nada de economia. Guedes estava incomodado por Levy não ter iniciado uma mudança no quadro de funcionários no BNDES, que em 12 anos de governos de esquerda também concedeu empréstimos motivados ideologicamente a países africanos e latino-americanos, incluindo Cuba, para financiar grandes empresas nacionais. Muito do dinheiro desapareceu no pântano da corrupção revelado pela Operação Lava Jato.

Guedes terá dificuldades de encontrar economistas e banqueiros para compor sua equipe no futuro. A partida de Levy, pela forma nada elegante como aconteceu, deve intimidar interessados. A bolsa e o real também podem começar a semana com perdas, caso o ministro não consiga encontrar rapidamente um substituto de alto calibre para comandar o banco de desenvolvimento.

Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após uma disputa com Guedes, comparou o governo com uma "máquina de crises", que não precisa de ninguém para tomar uma rasteira. A crítica de Maia foi certeira.

Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

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