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Análise: Em busca dos pontos em comum com a Argentina

7 de junho de 2019

Nada de concreto saiu do encontro entre Bolsonaro e Macri. Mas era de se esperar: os dois governantes estão ocupados demais com suas próprias crises internas. E ficaram aliviados por tudo ter ocorrido sem maiores sustos.

Bolsonaro com presidente argentino, Mauricio Macri e a primeira-dama argentina, Juliana Awada
Bolsonaro com presidente argentino, Mauricio Macri e a primeira-dama argentina, Juliana AwadaFoto: picture-alliance/AP Photo/N. Pisarenko

A primeira visita de Estado do presidente Jair Bolsonaro à Argentina já provocou resistência mesmo antes de acontecer: "Seu ódio não é bem-vindo aqui", diziam faixas exibidas na noite anterior em alguns arranha-céus da capital argentina, Buenos Aires, juntamente com a hashtag #FueraBolsonaro.

Na sociedade civil argentina, o saudosista da ditadura Bolsonaro é particularmente impopular por causa da sua atitude antidemocrática, homofóbica e misógina. Sindicatos, coletivos de mulheres e movimentos pela igualdade de gênero anunciaram manifestações contra o populista de direita Bolsonaro na Plaza de Mayo. Exatamente onde o presidente brasileiro, juntamente com sete ministros, se encontraria na sede de governo, a Casa Rosada, com seu colega Mauricio Macri.

Mas os protestos anunciados acabaram sendo mais inofensivos do que se esperava – e até mesmo a tão aguardada reunião oficial dos presidentes das duas maiores economias sul-americanas acabou sendo ofuscada por preocupações políticas internas. Isto se deve em parte ao fato de os dois chefes de Estado estarem totalmente ocupados com suas crises domésticas e econômicas. Eles não haviam preparado qualquer agenda substancial. Os governantes concordaram em sua preocupação com a crise na Venezuela. Além disso, ambos os presidentes reiteraram que têm esperança de que na reunião do G20, em Osaka, no Japão, em junho, sejam concluídas as negociações sobre um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul. Um acordo semelhante deve também ser fechado em breve com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), que reúne a Islândia, o Liechtenstein, a Noruega e a Suíça. Tanto os argentinos quanto os brasileiros foram ao encontro dos europeus nas últimas semanas, como confirmam os negociadores em Bruxelas.

Para os governos de Argentina e Brasil seria vantajoso se, depois de mais de 20 anos de negociações, fosse possível conseguir enviar um sinal de apoio ao livre comércio mundial – em meio a crescentes disputas comerciais globais. Um acordo com a Europa também seria útil para suas economias enfraquecidas. Isso poderia facilitar o investimento de empresas europeias. Na reunião do Mercosul prevista para ocorrer em 17 de junho, eles querem eliminar os últimos obstáculos com os outros dois países do bloco, o Uruguai e o Paraguai.

O fato de a visita de Estado ter sido ofuscada pelo dia a dia da vida política, no entanto, também se deveu ao fato de os presidentes terem desejado manter o evento na forma mais low profile possível: na Argentina, tudo gira em torno das eleições de outubro, nas quais Mauricio Macri terá dificuldade de se reeleger. Sua antecessora, a populista de esquerda Cristina Kirchner, quer se candidatar novamente e tem chances de ser eleita. Macri, portanto, quer evitar se mostrar em harmonia com o direitista Bolsonaro para não assustar os eleitores – embora ele, como um ex-empresário e político conservador-liberal sem dúvida concorde com a agenda econômica do brasileiro.

Acima de tudo, Macri queria evitar que Bolsonaro voltasse a se pronunciar publicamente contra a reeleição de Kirchner, como já aconteceu anteriormente. Tal interferência nos assuntos políticos internos por parte de Bolsonaro será usada de bom grado pelos oponentes políticos de Macri na campanha eleitoral.

Bolsonaro também não está interessado em demonstrar uma solidariedade exagerada pela Argentina. Na campanha eleitoral, seu ministro de Economia, Paulo Guedes, classificou as relações com a Argentina como secundárias na lista de prioridades econômicas.

Mais importantes são as relações com os países industrializados, segundo Guedes. Mas de lá para cá, Bolsonaro e seu ministro também estão percebendo que a Argentina é um dos mercados mais importantes para os produtos industriais brasileiros. Com a crise no país vizinho, as vendas de carros brasileiros e produtos eletrônicos também estão caindo – outra razão pela qual a economia brasileira deve ficar estagnada neste ano e o desemprego permanecer nas alturas.

Em resumo: ambos os chefes de Estado pareciam aliviados por terem realizado um encontro sem maiores sustos.

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