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Análise: Mais arte, menos astros na Berlinale 2020

Jochen Kürten av
29 de janeiro de 2020

Estreando na direção do Festival de Berlim, o italiano Carlo Chatrian opta por um panorama diverso e ousado do cinema atual. Das 18 produções que concorrem ao Urso de Ouro, um terço é de autoria de mulheres.

Cena de Undine (Christian Schulz)
"Undine", do alemão Christian Petzold, foi um dos selecionados para a mostra principalFoto: Christian Schulz/Schramm Film

"Vocês precisam de um slogan?", perguntou o diretor Carlo Chatrian aos jornalistas presentes à apresentação da edição 2020 da Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, nesta quarta-feira (29/01). Nos últimos anos, Dieter Kosslick, que dirigiu o evento por longos anos, designou cada edição uma frase chamativa. Mas até ele sabia que não é possível reunir 400 novos filmes sob uma única palavra-chave.

Consequentemente, seu sucessor, o italiano Chatrian, abriu mão de um slogan na primeira Berlinale sob sua direção, ao apresentar, ao lado da nova diretora-gerente, Mariette Rissenbeek, a seleção para a mostra competitiva, tradicional núcleo do festival.

Ao todo, 18 filmes têm chances de levar o troféu Urso de Ouro ou de Prata nesta 70ª edição, a se iniciar em 20 de fevereiro. À primeira vista, é uma seleção que visa honrar a arte cinematográfica, e menos aos grandes nomes. Mesmo nas produções americanas presentes, trata-se de duas diretoras representantes, antes, do cinema independente: Kelly Reichardt (First cow) e Eliza Hittman (Never rarely sometimes always). Os elencos tampouco cintilam com astros hollywoodianos.

"First cow", da americana Kelly Reichardt, traz um olhar sobre uma América ruralFoto: Allyson Riggs/A24

Também no tocante às demais produções escolhidas, Chatrian – que até 2018 dirigiu o renomado Festival de Locarno – se confirma como connoisseur da sétima arte, em vez de um domador de festivais mais interessado em estrelato do que em filmes. Nos últimos anos, ouviram-se críticas frequentes à competição medíocre da Berlinale, também por Kosslick ter se esforçado em atrair a Berlim astros do show-business, muitas vezes em obras pouco expressivas.

Ainda assim, há alguns cineastas conhecidos e reconhecidos na mostra competitiva: Tsai Ming-Liang do Taiwan, Hong Sangsoo, da Coreia do Sul, Rithy Panh, do Camboja; da Europa, a inglesa Sally Potter, os franceses Philippe Garrel e a dupla Benoît Delépine e Gustave Kervern. O enfant terrible americano Abel Ferrara comparece com uma coprodução internacional. No geral, nota-se a tendência ao cinema globalizado, com numerosas colaborações internacionais no programa.

O cinema alemão vem em grande estilo. Christian Petzold apresenta seu Undine, com Paula Beer e Franz Rogowski. Também aguardada com expectativa é a nova versão para as telas de Berlin Alexanderplatz, do teuto-afegão Burhan Qurbani, em que a ação é transportada para o presente. O romance de Alfred Döblin, de 1929, foi filmado para a televisão em 1980 por Rainer Werner Fassbinder. Ao todo, cinco dos concorrentes da 70ª Berlinale contaram com financiamento alemão.

Espetacular promete ser também a estreia de DAU.Degeneration, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekatarina Oertel, parte de um projeto com numerosas ramificações, que vem sendo desenvolvido há vários anos.

As palavras de apresentação de Chatrian já cuidaram de antemão para moderar as expectativas de que esta possa ser uma Berlinale divertida ou mesmo alegre: "Os filmes da mostra competitiva contam histórias pequenas ou de mudar o mundo, individuais ou coletivas, que perduram e que desdobram seu efeito na interação com o público. Se as cores escuras predominam, será porque os filmes escolhidos por nós olham sem ilusões para o presente – não para espalhar o pânico, mas por desejarem nos abrir os olhos."

"Berlin Alexanderplatz", do afegão-alemão Burhan Qurbani, é um dos filmes na disputa pelo Urso de OuroFoto: Wolfgang Ennenbach/2019 Sommerhaus/eOne Germany

Está claro que só assistindo-se de fato aos filmes, se verificará se também na capital alemã Chatrian consegue mostrar sua assinatura, conhecida de Locarno. No entanto, a mistura de independentes americanos, filmes alemães de autor, produções da Ásia e América Latina (Todos os mortos, do Brasil-França, e El prófugo, da Argentina-México) soa bem promissora.

O Irã, país tradicionalmente muito presente em Berlim, também competirá em 2020. Em There is no evil, Mohammad Rasoulof conta uma história de sua terra natal. E mais uma vez há o potencial de controvérsia política, pois não é garantido que Rasoulof possa apresentar sua obra pessoalmente, como todos os demais diretores. Teerã tem sistematicamente recusado a seus cineastas a permissão de viajarem para os grandes festivais.

Quanto à questão do gênero, das 18 produções participantes, um terço é da autoria de mulheres. Para Chatrian, isso é bom e um "processo". Nesse contexto, a diretora-gerente Mariette Rissenbeek chamou a atenção para as demais seções do evento, em que a presença feminina é marcante, assim como nos bastidores.

Na ocasião, anunciaram-se também alguns pontos altos desta edição, para além da mostra competitiva. Apesar de ter sido eliminada a categoria hors concours – cuja razão de ser ninguém entendia muito bem – também na era Chatrian/Rissenbeek haverá eventos de gala, com filmes espetaculares.

Sob a rubrica Berlinale Special Gala, terá estreia internacional, por exemplo, a animação Dois irmãos: Uma jornada fantástica, da Disney-Pixar, e a produção israelense Speer goes to Hollywood, enfocando o arquiteto de Hitler, Albert Speer.

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