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Análise: Sem Neymar, Seleção deve povoar meio-campo

Philip Verminnen6 de julho de 2014

Seleção brasileira perdeu seu craque, mas pode, usando o lado psicológico e com mudanças táticas, continuar competitiva. Se perder, já tem dois bodes expiatórios: um lateral colombiano e um árbitro espanhol.

Foto: Reuters

Quando Rodrigo Lasmar, médico da seleção brasileira, deu a temida notícia de que o atacante Neymar havia fraturado a terceira vértebra lombar e está fora da Copa do Mundo, um clima de velório tomou conta da delegação brasileira e colocou a classificação para as semifinais do Mundial quase em segundo plano.

A população brasileira logo nomeou os dois vilões: o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo e o lateral Juan Camilo Zúñiga. Já a comissão técnica tem dois dias para analisar as opções para escalar e motivar um Brasil sem o craque Neymar.

Na visão do árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo, a joelhada de Zúñiga nas costas do brasileiro sequer foi passível de cartão amarelo. E pior, sua atuação foi elogiada pela Fifa depois do confronto.

E as desculpas do lateral colombiano Zúñiga, via redes sociais, não impediram uma avalanche de postagens ofensivas e até ameaças de morte por parte de torcedores brasileiros. Não pouparam nem uma foto que mostra a filha do atleta colombiano, sentada na praia. Zúñiga desejou melhoras a Neymar, mas não se desculpou pela entrada, analisando apenas que foi "um lance normal de jogo".

Neymar vai usar uma cinta, e a expectativa é de que ele fique entre quatro a seis semanas fora dos gramados. Ele inclusive já deixou a Granja Comary e voou de helicóptero para o Guarujá, no litoral paulista, para ficar perto da família.

Juan Camilo Zúñiga e o árbitro Carlos Velasco Carballo (de verde) se tornaram "personas non gratas" no BrasilFoto: Reuters

"Me tiraram o sonho de disputar uma final de Copa do Mundo, mas o sonho de ser campeão mundial ainda não acabou. Faltam dois jogos e tenho certeza de que meus companheiros vão fazer de tudo para levantar esta taça", disse Neymar, através do site oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Plano técnico

E de fato, se olharmos apenas para os números, a preocupação da torcida brasileira procede. Neymar participou de 2.354 minutos dos 2.547 da "era Felipão" e participou diretamente de impressionantes 43,5% dos gols da Seleção no período.

Com 17 gols e 13 assistências, Neymar é responsável por 30 dos 69 gols da equipe sob comando de Scolari. A importância de Neymar é clara em outro dado estatístico. O craque do Barcelona marcou quatro gols nesta Copa, já o restante do elenco, somando todos os jogos em Mundiais, apenas sete.

Desde a derrota para a Holanda, na eliminação da Copa de 2010, a seleção brasileira disputou 60 partidas e Neymar só não jogou em seis. Nestes confrontos, por mais que os adversários, com exceção da França, não sejam do alto escalão, o Brasil venceu cinco (Irã, Ucrânia, Gabão, Egito e Dinamarca) e perdeu justamente para os franceses, por 1 a 0.

Importante que Oscar assuma o papel de maestro da equipeFoto: picture-alliance/dpa

De alento desta derrota serve o fato de que Hulk e Oscar jogaram bem. E o meia do Chelsea já sabe por onde o Brasil pode vencer a Alemanha: "Nós vamos ter de melhorar o aspecto coletivo", disse Oscar na saída do Castelão, momentos após saber da lesão de Neymar.

Por mais que a comparação não caiba, logo vieram as lembranças de 1962 e 1966 à tona. Em ambas as Copas, o Brasil perdeu Pelé lesionado ainda na fase de grupos. Em uma foi campeão e na outra protagonizou uma das maiores vergonhas da Seleção em Copas. Em 1962, no Chile, o Brasil teve em Garrincha e Amarildo dois jogadores que chamaram a responsabilidade. Já em 1966, na Inglaterra, o time enfrentou problemas de organização e vivia uma entressafra de duas seleções campeãs mundiais.

Mas se Scolari encontrar as palavras certas e analisar bem as opções, principalmente táticas, verá que há boas maneiras de capitalizar com a ausência de Neymar.

Neste aspecto, não há como substituir Neymar. Haveria se Felipão tivesse levado Robinho, Ronaldinho Gaúcho ou Lucas, do Paris Saint-Germain, para o Mundial. Com a ausência de um substituto com as mesmas características, a solução é a Seleção adotar um estilo mais guerreiro, mais "estilo Felipão".

Plano tático

No plano tático, Felipão tem opções interessantes. A mais simples, pelo fato de já ter atuado pela faixa esquerda do campo no Shakthar Donetsk, é a entrada de Willian. A Seleção manteria assim o mesmo esquema tático, e Willian, que tem bom passe, poderia fechar como segundo volante e formar uma linha de quatro no meio-campo.

Outra opção que não alteraria o esquema 4-2-3-1 é a entrada de Bernard. Assim como foi com Denílson na Copa de 2002, Felipão gosta de pontas velozes, mas provavelmente a opção seria para o decorrer do jogo, já que o poder de marcação de Bernard, que teria pela frente Philipp Lahm, não esta entre suas principais características.

Dante (2º da dir para esq.) fica com a vaga de Thiago Silva. E Willian (1º da dir.) pode ocupar a de NeymarFoto: Getty Images/Laurence Griffiths

Outra opção, repetindo assim a formação de 2002, seria trazer de volta o esquema 3-5-2, preenchendo assim o meio-campo com cinco jogadores: os alas Maicon e Marcelo, a dupla de volantes Luiz Gustavo e Fernandinho, além de Oscar. Como Hulk ajuda na marcação, a Seleção jogaria com dez jogadores atrás da linha da bola. O problema desta formação é que a zaga formada por David Luiz, Dante e Henrique teria dois zagueiros com praticamente nenhuma experiência em Mundiais.

Mas mais provável será a escalação com três volantes – Luiz Gustavo, Fernandinho e Ramires –, Hulk aberto pela esquerda e Oscar centralizado. Dentro de todas as opções, cresce a importância de jogar com um centroavante cabecear na frente. Felipão poderia arriscar um 4-5-1, com Hulk no comando de ataque e uma linha de quatro volantes e Oscar no meio, mas fugiria da característica de outras equipes do treinador no decorrer de sua carreira.

Plano psicológico

O trabalho psicológico, para muitos a principal virtude de Felipão, pode voltar a ser um trunfo. A missão é transformar a perda em algo positivo e motivar os jogadores para uma batalha campal.

Fred e Hulk: o primeiro vem sendo criticado e o segundo não tem fama de artilheiroFoto: Reuters

O mais óbvio é o clichê "jogar pelo companheiro". Certamente este pensamento não vence partidas, mas pode dar a disposição necessária para um carrinho providencial. Sem Neymar a responsabilidade de vencer é do adversário.

Afinal, a Seleção já vinha mal com Neymar, sem ele passa a ser vista como um time mediano. Jogando o favoritismo para Alemanha, Argentina e Holanda, Felipão pode libertar os jogadores da pressão por vencer a Copa e não repetir a tragédia de 1950.

Caso, em 2014, se repita um "Maracanazo" (ou um "Mineirazo"), o bode expiatório não será um atleta da própria Seleção, como foi o goleiro Moacir Barbosa, e sim um árbitro espanhol e um lateral colombiano.

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