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Analfabetismo

2 de outubro de 2011

Pensar que há analfabetos apenas em países em desenvolvimento é mero clichê. Em nações industrializadas, como a Alemanha, o problema atinge, há muito, um número considerável de pessoas.

Dislexia: problema para muitosFoto: picture alliance/dpa

Tim-Thilo Fellmer é um entre os chamados "analfabetos funcionais" na Alemanha, termo usado para designar as pessoas que sabem ler e escrever frases soltas, mas que não estão em condições de ler e entender textos corridos, como por exemplo instruções no ambiente de trabalho.

Quando ainda frequentava o segundo ano escolar, Tim Thilo Fellmer recebeu o diagnóstico de "dislexia". Hoje, o bem-sucedido autor de livros infantis e proprietário de uma editora guarda poucas lembranças positivas de sua fase escolar. Para ele, sempre foi um peso enorme não conseguir executar as tarefas como os colegas de escola e acima de tudo ter sempre que ocultar o problema. "Sempre tinha que dar um jeito usando truques. E sempre vivi com medo de ser descoberto", conta ele, ao lembrar "desse tempo difícil e muito negativo".

Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Hamburgo, há hoje na Alemanha 7,5 milhões de analfabetos funcionais, entre os quais 4,3 milhões têm o alemão como língua materna. Ou seja, mais de 14% das pessoas em idade ativa no país são consideradas analfabetas neste sentido.

Frustração em sala de aula é recorrente em alunos com dificuldades para aprender a ler e escreverFoto: Tomasz Trojanowski/Fotolia

Contornando o dia a dia

Para dar conta das atividades cotidianas, os analfabetos vão desenvolvendo diversos truques e desculpas, a fim de evitar situações em que teriam que ler ou escrever. Quando têm que preencher um formulário, por exemplo, dizem que esqueceram os óculos ou que machucaram a mão, por exemplo. Eles costumam decorar textos relevantes para suas profissões, para não serem obrigados a ler.

Desta forma, acabam mantendo segredo sobre o problema durante anos a fio, muitas vezes até mesmo frente a amigos, familiares e no ambiente de trabalho, sempre com medo da exclusão social. Por isso, frequentar um curso de alfabetização para adultos costuma custar a essas pessoas um grande esforço. 

Na Alemanha, esse assunto foi e ainda é um tabu. A escola de formação para adultos (Volkshochschule) de Bonn, por exemplo, não indica mais nomes de frequentadores de seus cursos como possíveis interlocutores para jornalistas que estão pesquisando sobre o assunto. Segundo informam os funcionários da escola, nos casos em que isso aconteceu, as pessoas deixaram de frequentar o curso depois de terem concedido entrevistas a órgãos de imprensa.

Curso de alfabetização para adultos: solução para todos os problemas?

Peter Hubertus, membro fundador e diretor da Confederação Nacional de Alfabetização e Formação Básica, comenta as dificuldades dos analfabetos em iniciar um curso, apontando para o fato de que somente "20 mil adultos frequentam cursos que ensinam a ler a e escrever".

Peter Hubertus defende melhor planejamento para contornar o problemaFoto: DW

Há de se dizer também que a maioria desses cursos não é totalmente apropriada às necessidades dos envolvidos, diz Hubertus. Nas ofertas da Volkshochschule, por exemplo, são oferecidas apenas de três a quatro horas-aula por semana. No caso de pessoas que têm emprego, esse volume de horas pode até parecer adequado, mas os desempregados entre os analfabetos têm mais tempo e precisariam de aulas com maior frequência, além de melhores possibilidades de aprendizado, mais frequentes e mais intensas.

"Certo é que deficiências para ler e escrever são frequentemente a razão pela qual esses desempregados não estão mais trabalhando, fala Hubertus. Ele ressalta a existência de cursos de alemão para imigrantes, que possuem, via de regra, mais conteúdo, sendo também mais baratos, às vezes até gratuitos. As mesmas condições deveriam funcionar para os analfabetos, reclama Hubertus.

Escolas para adultos, professor particular, cursos de computador

É possível que as ofertas didáticas para os analfabetos funcionais não sejam ótimas, mas, mesmo assim, Tim Thilo Fellmer optou por frequentar um dos cursos oferecidos. Depois de concluir sua formação como mecânico de carros, ele tentou exercer outras profissões, mas não pôde explorar seu potencial em nenhuma delas devido à sua deficiência de leitura e escrita. 

Aula de alemão para imigrantes e analfabetosFoto: DW

Entre os 20 e os 30 anos, o desejo de Fellmer de superar esse problema foi se tornando cada vez maior. Antes de tudo, ele frequentou um curso de alfabetização para adultos. A esse seguiram-se outros. Mais tarde, contou com a ajuda de um professor particular, de amigos e também de sua namorada. "Depois fiz uso de auxílio tecnológico também, como programas de computador que visam alfabetizar", lembra.

Quem assume a responsabilidade?

Muitos adultos analfabetos culpam a si próprios pela deficiência, mas Tim-Thilo Fellmer acredita que o erro esteja no sistema de ensino. As salas de aula com muitos alunos não permitem aos professores um acompanhamento individual dos alunos, que seria essencial principalmente para aqueles com dificuldades para ler e escrever.

No caso de Fellmer, passaram-se 10 anos até que ele conseguisse dispor da competência necessária na leitura e na escrita. Um tempo longo, mas que valeu a pena, diz. Por isso, ele recomenda a todos recorrer à ajuda disponível. "Vale a pena, porque depois você tem um retorno incrivelmente positivo", conclui.

Autora: Mehrnoosh Entezari (sv)

Revisão: Roselaine Wandscheer

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