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Andréa del Fuego fala sobre a fascinação da literatura

Luisa Frey11 de outubro de 2013

Jovem autora ganha destaque ao participar da delegação brasileira em Frankfurt pela segunda vez e ter livro traduzido para o alemão. Em entrevista, ela fala sobre seu trabalho e o premiado romance "Os Malaquias".

Titel: Brasilien Frankfurter Buchmesse 2013 Beschreibeung: Die Brasilianische Schriftstellerin Andrea del Fuego. Datum: 09.10.2013 Copyright: Luisa Frey
Foto: DW/L. Frey

Após integrar a pequena comitiva de dez autores brasileiros na Feira do Livro de Frankfurt de 2012, Andréa del Fuego voltou a Frankfurt ao lado de 69 colegas no ano em que o Brasil é o convidado de honra. Para a autora, o convite representa um reconhecimento de sua literatura no próprio país, além de possibilitar o contato com o público internacional.

A paulista nascida em 1975 e que adotou o pseudônimo Del Fuego no início da carreira escrevia crônicas e blogs literários. O primeiro livro publicado foi uma coletânea de contos: Minto enquanto posso, de 2004. Logo após estrear nos romances, recebeu o prêmio José Saramago de 2011 por Os Malaquias.

Na terra da maior feira literária do mundo, Os Malaquias acaba de ser publicado em alemão pela editora Carl Hanser. E os seis mil exemplares da primeira tiragem já estão esgotados.

Antes de participar de leituras em Frankfurt nesta quinta-feira (10/10), Andréa falou à DW sobre o ingresso na literatura, o tom autobiográfico de Os Malaquias e as particularidades de escrever para a internet.

DW: Como foi já receber o Prêmio José Saramago pelo seu romance de estreia, Os Malaquias, de 2011?

Andréa del Fuego: Foi uma confirmação pessoal, mais do que uma confirmação literária. Ela me deu estímulo para continuar a escrever. Porque escrever é uma coisa muito delicada, improvável. Muita coisa tem que dar certo para que se consiga tempo, uma disponibilidade íntima para a escrita. Não há nenhuma garantia de que você vai conseguir terminar de ler um livro, ser publicado ou ter leitores. É um grande mistério, desde o começo.

Como você ingressou nesse universo tão incerto?

Assim que tive contato com a literatura, ainda no colégio, no início da adolescência, eu me apaixonei por ela e pela escrita. Foi assim que o professor apresentou um texto em que nada daquilo existia, eram pessoas de mentira, lugares de mentira, sentimentos de mentira, e aí, logo depois, deu liberdade para que o aluno fizesse o mesmo, também mentisse como quisesse. Desde então eu adoro escrever. Mas nunca tive uma referência de uma vida de escritor, nem do que se faria para chegar a publicar um livro. Só fui publicar aos 27 anos, mas antes disso a escrita sempre foi um hábito natural, um prazer. Minha escrita antecede a literatura e leitores.

Por "Os Malaquias", ela recebeu o Prêmio José Saramago de 2011Foto: DW/L. Frey

Para o seu primeiro romance, você teve uma inspiração bastante especial. Quanto de autobiográfico tem Os Malaquias?

Ele é baseado na história dos meus bisavós em Minas Gerais, que foram vitimados por um raio. Deixaram, então, os filhos órfãos. Eu me lembrava dessa história desde a infância e decidi que um dia a escreveria. E que o momento em que esse raio cai na casa seria a cena inicial do livro.

Você é uma autora jovem, que vive em São Paulo, mas nesse livro foge da tendência atual de se produzir uma literatura mais urbana no Brasil. Após ser traduzido em Portugal e na Argentina, Os Malaquiasacaba de sair na Alemanha. Você acredita que haja um interesse do público estrangeiro por conhecer esse Brasil rural do tempo dos seus bisavós?

Acho que pode suscitar um interesse pelo fato de que esse Brasil rural do começo do século 20 não existe mais e só pode ser conhecido através da literatura. Essa é uma das coisas que me agrada na literatura: trazer mundos que não posso mais conhecer. Talvez um mundo contemporâneo, urbano e violento seja um mundo que você possa viver exatamente agora.

Por outro lado, você está em contato constante com a tecnologia e a internet, escrevendo em blogs literários há mais de dez anos. Qual a diferença de escrever para a internet e para um livro publicado em papel?

Andréa del Fuego lê um trecho de "Os Malaquias"

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A diferença é o tempo. O blog é um perigo, porque você se autopublica. Ele está ao alcance de seus dedos, e seus dedos estão relacionados a uma ansiedade. Acho que a escrita na internet pode ter qualidade, mas escrever para um blog corre no tempo atual – efêmero, rápido. O tempo da feitura do livro é outro. O livro é feito na sombra. Por muitos anos eu tentei divulgar meu trabalho pela internet, escrevendo minicontos, o que resultou em dois livros de contos. Até que resolvi entrar no mundo dos romances, o que exigiu um contato muito mais profundo e diário com o mesmo texto. Fiquei sete anos escrevendo Os Malaquias.

Você também publicou livros infanto-juvenis. Qual a diferença de escrever para o público infanto-juvenil e para o público adulto?

Escrever para o público infantil é um desafio interessante, mas confortável. Busco nos livros infantis uma voz que já foi minha. Fico me lembrando da minha visão de mundo aos 13, 14 anos. Eu me sentia absolutamente preparada para tudo. Isso não acontece nem agora, aos 38, que dirá aos 14, mas uso essa voz para a voz de um adolescente dos livros. E os jovens se identificam com essa pessoa que, sim, está pronta para tudo aos 14 [risos].

Você está trabalhando em um novo romance?

Acabei de lançar As Miniaturas e estou escrevendo meu terceiro romance. Ele ainda não tem título, mas um dos elementos fortes do livro são as artes marciais. Estou em pesquisa, apaixonada pelo tema e quero me demorar uns três, quatro anos. Pois sei que o tempo faz parte da receita de um livro.

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