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"Angra 3 é um escândalo por si só"

Jean-Philip Struck8 de julho de 2016

Deputada Sylvia Kotting-Uhl, do Partido Verde alemão, afirma que as suspeitas levantadas na construção da usina brasileira são uma evidência das fraudes que envolvem a energia nuclear como um todo.

Protesto contra a usina de Angra 3 durante evento na Alemanha em 2012: projeto é fruto de cooperação binacional
Protesto contra a usina de Angra 3 durante evento na Alemanha em 2012: projeto é fruto de cooperação binacionalFoto: dapd

Na última quarta-feira (6/7), a Eletronuclear foi mais uma vez alvo de operação da Polícia Federal que apura o pagamento de propina envolvendo a construção da Usina de Angra 3.

O principal alvo foi o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da subsidiária e considerado o "pai do programa nuclear brasileiro", que acabou sendo preso mais uma vez neste novo desdobramento da Lava Jato.

Ele é acusado de cobrar 12 milhões de reis em propinas, soma equivalente a 1% do dos contratos da empreiteira Andrade Gutierrez para tocar as obras da usina de Angra 3. Seu sucessor, Pedro Diniz Figueiredo, foi alvo de um mandado de condução coercitiva e acabou sendo afastado da presidência da Eletronuclear por suspeita de interferir em investigações internas da empresa.

Angra 3 começou a ser construída nos anos 80, e teve as obras retomadas em 2008. O projeto da usina é fruto do acordo bilateral entre a Alemanha e o Brasil firmado em 1975, que previa a construção conjunta de oito centrais. O projeto avançou pouco nas décadas seguintes e desde 1990 vem sendo prorrogado sucessivamente a a cada cinco anos. A última extensão do acordo ocorreu no final de 2014 passado apesar das críticas de vários políticos da Alemanha – país que pretende abandonar o uso da energia nuclear até 2022.

Sylvia Kotting-Uhl: "Sempre vão existir fraudes e trapaças envolvendo a energia nuclear"Foto: picture-alliance/dpa/Bernd von Jutrczenka

Em entrevista à DW, a deputada do Partido Verde lemão Sylvia Kotting-Uhl, umas das autoras da moção que tentou denunciar o acordo em 2014, afirma que as suspeitas levantadas na construção da usina são uma "evidência das fraudes que envolvem a energia nuclear" e que o caso pode ajudar no combate a uma nova prorrogação em 2019.

DW: Esse escândalo de corrupção reforça a ideia de que a continuação do tratado nuclear entre Alemanha e Brasil foi um erro?

Kotting-Uhl: Sim, de fato. Acima de tudo, esse escândalo é mais uma evidência de que sempre vão existir fraudes e trapaças envolvendo a energia nuclear. A perda financeira é até o menor dos problemas. Particularmente perigoso e grave é que essas fraudes são sempre feitas às custas da segurança. Foi assim em Fukushima e assim é na Europa. Essa é um das muitas razões que mostram por que a energia nuclear não pode ser segura, e que seu uso é irresponsável.

O acordo foi prorrogado mais uma vez em 2014, por mais cinco anos. Os deputados alemães que se opõem estão planejando lutar novamente contra a revogação em 2019?

Nós, os verdes, sempre vamos intervir. Em vez de um tratado pró-nuclear, precisamos de uma parceria para a oferta de energia renovável, que nao seja perigosa pra os seres humanos e ao meio-ambiente.

O escândalo envolvendo propina na usina nuclear pode fornecer novos argumentos para denunciar o acordo?

Penso que sim. Eu acho que todo o projeto é um escândalo por si só - como a construção de uma usina nuclear pode continuar depois do acidente de Fukushima. Ainda mais de um modelo de usina tão ultrapassado, ruim e perigoso, que deixou de ser construído na Alemanha há mais de 20 anos. É um jogo irresponsável e de alto risco! Angra 3 é semelhante à antiga usina alemã de Grafenrheinfeld, que foi fechada um ano trás porque não queríamos mais encarar esse risco.

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