Anistia acusa curdos de "crimes de guerra" na Síria
13 de outubro de 2015
ONG de direitos humanos afirma que combatentes curdos estão deslocando forçosamente árabes de suas casas e destruindo vilarejos. Liderança local, por outro lado, anuncia aliança com grupos rebelde árabes.
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A Anistia Internacional acusou, nesta terça-feira (13/10), as autoridades curdas de forçosamente deslocar árabes de suas casas em algumas partes da Síria. Paralelamente, militantes curdos anunciaram uma aliança com combatentes árabes.
A organização não governamental que defende os direitos humanos afirmou que uma missão investigativa visitou 14 cidades e aldeias no norte e nordeste da Síria e descobriu uma "onda de deslocamentos forçados e demolições de casas que remetem a crimes de guerra cometidos pelo governo autônomo curdo".
"Ao deliberadamente demolir casas de civis, em alguns casos devastando e queimando vilarejos inteiros, deslocando seus habitantes em motivos militares justificáveis, o governo autônomo está abusando de sua autoridade e descaradamente desprezando o direito humanitário internacional", disse o conselheiro sênior de crises da Anistia, Lama Fakih.
Alguns civis disseram que foram ameaçados com ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos se eles se recusassem a deixar suas casas, afirmou a Anistia por meio de relatório publicado nesta terça-feira.
Presença forte contra o "Estado Islâmico"
As forças do governo sírio se retiraram de quase todas as áreas curdas em 2012, com o governo autônomo curdo preenchendo a lacuna. Suas forças de segurança, que incluem as Unidades de Defesa do Povo (YPG), revelaram-se eficazes na luta contra a organização jihadista "Estado Islâmico" (EI), esculpindo uma zona autônoma para si no norte da Síria e até avançando em áreas controladas pelos extremistas em direção à cidade de Raqqa.
No entanto, conforme relatório da Anistia, moradores do centro de Raqqa e da província de Hasakesh, no nordeste do país, disseram que os combatentes curdos têm usado a batalha como pretexto para destruir casas, principalmente de árabes.
Em seu relatório, contudo, a Anistia citou combatentes curdos dizendo que o deslocamento forçado visa atingir simpatizantes do EI, incluindo curdos, e que ocorreu, em alguns casos, para a segurança dos próprios moradores.
Suprimento de armas e novas alianças
Mais cedo, a milícia curda YPG anunciou uma nova aliança com pequenos grupos de combatentes árabes, que também lutam contra o jihadistas do EI. O YPG, que alcançou ganhos territoriais com a ajuda do poder aéreo do EUA, forma a maior parte da aliança, com os outros grupos se autodenominando a Coalizão Árabe-Síria.
As forças americanas realizaram uma entrega aérea na segunda-feira. As suspeitas indicam que o carregamento continha munição para armas pequenas e outros suprimentos e que faz parte de uma nova estratégia.
Rebeldes árabes da aliança disseram terem sido informados por Washington de que um novo carregamento de armas está a caminho – equipamento que iria ajudá-los a lançar uma ofensiva conjunta com os curdos contra o EI em Raqqa.
O Exército americano confirmou apenas a entrega de suprimentos para combatentes da oposição "aprovados", mas não deu maiores detalhes sobre os grupos ou o conteúdo do equipamento. Washington, no entanto, disse que poderia direcionar recursos e armas para combatentes árabes que são aliados do YPG.
PV/ap/afp/dpa/rtr
Síria: patrimônio histórico destruído na guerra civil
Cerca de 300 locais de interesse histórico já foram danificados, saqueados ou totalmente destruídos na guerra civil da Síria. Uma excursão aos patrimônios culturais ameaçados do país.
Foto: Fotolia/Facundo
Destruição
Em quase quatro anos, a guerra civil síria contabilizou centenas de milhares de mortos e o deslocamento de cerca de dez milhões de pessoas. Análises do Instituto das Nações Unidas para a Formação e Pesquisa (Unitar, em inglês) feitas por satélites mostram a destruição de patrimônios culturais no país. Nesta foto, o centro histórico de Damasco.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Tödt
Mesquita dos Omíadas
A análise revelou que 290 sítios culturais foram fortemente atingidos. Do ano 708, a Mesquita dos Omíadas, em Damasco, teve o mosaico de sua fachada destruído por tiros.
Foto: picture-alliance/blickwinkel/Neukirchen
Imagem de destruição
Especialmente atingida foi a metrópole de Aleppo, que, com 7 mil anos de história de assentamentos, faz parte das cidades mais antigas do mundo. A imagem de satélite à direita mostra a destruição na região próxima à cidadela.
Foto: US Department of State, Humanitarian Information Unit, NextView License (DigitalGlobe)
Antes dos tiros
A Mesquita dos Omíadas, em Aleppo, também foi fortemente danificada. A mesquita, do ano 715, foi reconstruída diversas vezes nos séculos seguintes à sua construção. Especialmente o minarete, do ano de 1092, é considerado uma obra-prima arquitetônica. Aqui, uma foto da mesquita antes de ser destruída.
Foto: picture alliance/Bibliographisches Institut/Prof. Dr. H. Wilhelmy
Troca de acusações
O minarete da Mesquita dos Omíadas foi destruído durante uma batalha, em 2013. Hoje sobrou somente o escombro, já que grande parte da edificação foi gravemente danificada. O governo e os rebeldes acusam-se mutuamente.
Foto: J. Al-Halabi/AFP/Getty Images
Luta implacável
A batalha entre o governo e rebeldes por Aleppo ocorre desde 2012 e faz com que os danos sejam proporcionais ao tempo do confronto. O hotel Carlton, de 150 anos, em frente à cidadela de Aleppo, era famoso, entre outros motivos, por seu interior histórico e bem conservado.
Foto: CC-SA-BY-Preacher lad
Totalmente destruído
Hoje não sobrou nada do hotel. Em maio de 2014 foram acionados explosivos em um túnel localizado embaixo da construção. De 210 prédios históricos analisados pela Unitar em Aleppo, a metade foi danificada e um quinto foi totalmente destruído.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Mercado de "conto de fadas"
Visitantes do mercado de Aleppo se sentiam num conto de fadas das mil e uma noites. O bazar, que permaneceu inalterado desde o século 16, consistia de uma longa rede de vielas totalizando sete quilômetros.
Foto: AP
Perdido para sempre
Em 2012, um incêndio causou danos irreversíveis ao mercado. De acordo com números oficiais, 1.500 das 1.600 lojas no bazar foram danificadas ou destruídas.
Foto: AP
Inconquistável, mas…
Numa fortaleza curda, foi construído durante os séculos 12 e 13 o chamado Forte dos Cavaleiros, um castelo para cavaleiros das Cruzadas. A edificação era conhecida por nunca ter sido conquistada por meio de guerra ou de cerco.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Vranic
… não indestrutível
O castelo, que se localiza ao leste de Homs e próximo à fronteira com o Líbano, foi submetido novamente à artilharia de fogo e ataques aéreos. A luta deixou o teto e muros destruídos, como também partes da edificação desmoronadas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Vranic
Impossível de se reconhecer
Dura Europos foi fundada no ano 300 a.C. como uma colônia militar. Aqui não somente as batalhas, mas também os constantes saques foram responsáveis para que muitas edificações da chamada "Pompeia síria" não sejam mais reconhecíveis.
Foto: picture-alliance/akg-images/Leo G. Linder
Templo destruído
A cidade de Palmira é considerada um dos centros culturais da antiguidade. Lutas, saques e o roubo de pedras afetaram consideravelmente as atrações históricas. De 2 mil anos, o templo de Baal – na foto, antes da guerra civil – perdeu uma de suas colunas.