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Ano cultural 2012

4 de janeiro de 2012

Cinéfilos anseiam pelo novo 007, amantes da arte peregrinam para a Documenta de Kassel, melômanos têm mais oferta em Salzburgo, ratos de biblioteca antecipam os novos lançamentos. O novo ano tem muito a oferecer.

Documenta 13 já movimenta o mundo da arteFoto: picture alliance / dpa

Frederico 2º, rei da Prússia, dizia que cada um pode ser feliz a seu próprio modo. Em 2012 transcorre o 300º aniversário do monarca, apelidado "Velho Fritz" pelos alemães, e que, além da política e dos treinamentos militares, adorava tocar flauta transversa. O estado de Brandemburgo planeja festejos para o ano inteiro.

Outro homem cheio de fantasia é homenageado no ano que se inicia: o escritor de faroeste Karl May. Sua reputação não é acima de qualquer suspeita: durante anos ele esteve atrás de grades devido a atividades fraudulentas. E será que realmente viveu as aventuras que relatou, como costumava afirmar? Pouco importa: com mais de 100 milhões de exemplares vendidos, o pai de Winnetou e Old Shatterhand é o mais lido autor de idioma alemão. O centenário de sua morte pode ser uma boa oportunidade para uma visita ao Museu Karl May de Radebeul.

Especuladores e falsários

Após cinco anos de recesso, a Documenta de Kassel volta a abrir suas portas. Pela 13º vez, aquela que é considerada a mais importante mostra de arte contemporânea exibe objetos, instalações e performances de artistas de todo o mundo. O slogan deste ano é "Colapso e reerguimento". De acordo com a tradição, os nomes dos cem artistas convidados são mantidos em sigilo. Porém três já foram revelados; o italiano Giuseppe Penone, o escultor e urbanista norte-americano Theaster Gates e o sul-africano William Kentridge.

Entretanto, o interesse crescente pela arte moderna também faz dispararem os preços das obras. Até o pintor Gerhard Richter considera "tão absurdas quanto a crise bancária" as quantias exigidas por seus quadros. Atualmente são movimentadas algumas dezenas de milhões, toda vez que um "Richter" troca de mãos num leilão.

'Gudrun', de Gerhard Richter no leilão da Sotheby'sFoto: dapd

Tais somas são totalmente desproporcionais para um pedaço de tela e puro sinal de especulação, comenta o artista que comemora em fevereiro seu 80º aniversário. "As obras não são mais expostas, mas vão direto para um depósito, como investimento seguro de capital, da mesma forma que um relógio Rolex ou um Porsche", diz Markus Eisenbeis, proprietário de uma casa de leilões em Colônia.

O boom da arte contemporânea no mercado se mantém. E a caça à "mercadoria fresca" abre portas para um novo ramo de negócios: os escândalos de falsificação de obras têm causado não apenas vexames tremendos no mundo da arte, mas sobretudo prejuízos horrendos. E novas peças de origem desconhecida continuam a aparecer, chamando a atenção dos investigadores.

007 e discoteca russa

Os grandes eventos cinematográficos continuarão atraindo hordas de espectadores às salas de exibição, em 2012. O Festival Internacional de Cinema de Berlim abre a temporada em fevereiro. Seguem-se novas superproduções, encabeçadas por O Hobbit, o novo projeto do premiado Peter Jackson. Como na trilogia O Senhor dos Anéis, o diretor combina suspense e drama com efeitos especiais espetaculares.

Em seguida, vêm Os descendentes, com George Clooney, e o novo Homem-Aranha. Os fãs de James Bond estarão igualmente bem servidos: a mais nova produção da série se chama Skyfall e terá, é claro, o britânico Daniel Craig, pela terceira vez no papel do agente 007.

Os cineastas alemães também trabalham temas interessantes: o diretor Helmut Dietl roda, com o ator Michael Herbig, Zettl, que faz parte da bem-sucedida série Kir Royal. Matthias Schweighöfer, um dos mais conhecidos entre os jovens atores alemães, assume o papel principal em Russendisko, do autor bestseller Vladimir Kaminer. Sua personagem é um russo que vai para Berlim, logo após a queda do Muro, com a intenção de começar vida nova.

George Clooney é habitué dos festivais de cinemaFoto: dapd

Dívidas, Occupy

"O cotidiano volta a ganhar grande importância", revela Andreas Erb, professor de Literatura da Universidade de Duisburg, ao definir o ano literário 2012. Quanto mais complexa a realidade, maior é a ânsia por histórias que se possa compreender. Os problemas de nosso tempo ganham foco: a crise de endividamento, o movimento Occupy ou os protestos contra os transportes radioativos Castor.

"A tendência é representar o momento", diz Tanja Postpischil, da editora Suhrkamp: muito da produção literária se ocupa do "agora". Campeões de vendas na Alemanha continuam sendo os livros de contemporâneos famosos – políticos e VIPs.

O ex-apresentador de TV Jörg Kachelmann, que respondeu a processo por suposto estupro, mas venceu, pretende publicar suas vivências de prisão em Mannheim, a ser lançado ainda no início do ano. E a ministra alemã da Família, Kristina Schröder, expõe sua máxima já no título de seu livro: "Obrigada, emancipadas nós já somos".

Frederico 2º da Prússia, o "Velho Fritz"Foto: Fotolia/ArTo

Jubileus e datas comemorativas são pretexto para novas biografias e, também aqui, Frederico, o Grande, é o número um. Como Charles Dickens estaria completando 200 anos de vida, em 2012 estão programadas novas edições de suas obras. Março é temporada de desfile literário na Feira do Livro de Leipzig. Uma festa da leitura, agora com uma nova seção dedicada ao tema "educação". Na Feira de Frankfurt, em outubro, o país convidado é a Nova Zelândia, que se apresenta sob o slogan "Antes que fique claro na terra de vocês".

Bayreuth, Salzburgo, Ruhr

Turbulências não são nenhuma novidade no Festival de Bayreuth. Porém não é nada agradável receber visita de advogados e ter problemas com o Tribunal Federal de Contas justamente às vésperas de um jubileu Richard Wagner – em 2013 transcorrem os 200 anos de nascimento do compositor.

O motivo: o sistema de distribuição de ingressos do festival de ópera é severamente criticado. Consta que o número de entradas liberadas para a venda ao público é reduzida demais, grande parte delas ou é concedidas gratuitamente ou é reservada a patrocinadores e convidados VIP – isso, embora o tesouro estadual e federal arque com quase a metade do financiamento do evento.

Como se não bastasse, a montagem da tetralogia O anel do Nibelungo, programada para 2013, está entravada. O altamente cotado cineasta Wim Wenders declinou do convite. E a opção recaiu sobre o diretor artístico do teatro Berliner Volksbühne, Frank Castorf, um intelectual anticonvencional e provocador, sem experiência operística.

A exibição das récitas ao vivo, em telões, alcançou grande sucesso de público, porém está sendo colocada em questão; a Siemens, a principal patrocinadora, encerrou seu contrato. Há, novamente, nuvens sobre Bayreuth.

Antigo espaço industrial reciclado para a arte, em Duisburg, RuhrFoto: Annette Jonak, Anne Lochmann

Já em Salzburgo a situação é mais promissora. Na primeira edição sob o novo diretor artístico Alexander Pereira, o festival deverá se tornar mais longo e mais exclusivo, e será criada uma seção dedicada à música sacra.

A Ruhr Triennale – evento internacional de música, teatro, literatura e dança – está às portas de uma mudança de diretoria, e a indicação do compositor e encenador Heiner Goebbels promete inovação e projetos excitantes. Seu foco são os locais de exibição inusitados à disposição: os antigos galpões de máquinas e coquerias da região mineira e siderúrgica do Vale do Rio Ruhr.

Autora: Gudrun Stegen (av)
Revisão: Alexandre Schossler

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