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Antechinus: o marsupial que chega a fazer 14h de sexo

29 de janeiro de 2024

Durante a época de acasalamento, macho sacrifica horas de sono para copular com o maior número possível de fêmeas. Quando termina, está exausto. Alguns morrem, e sua carne serve de alimento para os filhotes e a fêmea.

Marsupia lantechinus, o animal está entre galhos
Vale tudo pela reprodução: os antechinus machos sacrificam boas horas de sono Foto: Erika Zaidpicture alliance/dpa/Cell Press

Dormir é fundamental para os animais. A falta de descanso pode provocar problemas sérios de saúde, confusão mental e até a morte - não é à toa que a privação de sono é usada como método de tortura. Mas parece que um animal da Oceania sacrifica o sono em troca de sexo. É o que os cientistas descobriram ao observar os machos do gênero antechinus, marsupial das florestas costeiras da Austrália, que durante o período de acasalamento "ficam viciados em sexo" e deixam o sono de lado para se dedicarem ao ato. 

O artigo, publicado recentemente na revista científica Current Biology, reporta a surpreendente descoberta biológica, que provavelmente tem relação com a seleção natural e é a primeira a documentar esse tipo de restrição de sono em um mamífero terrestre. 

"Usando uma combinação de técnicas, mostramos que os machos perdem horas de sono durante o acasalamento, e que em uma das etapas reduz até pela metade", relata Erika Zaid, da Universidade La Trobe, em Melbourne, na Austrália.

"Nos seres humanos e em outros animais, restringir a quantidade normal de sono leva a um desempenho inferior quando se está acordado e o efeito piora noite após noite, mas os antechinus fazem exatamente isso: dormem três horas a menos por noite, todas as noites, durante três semanas", ressalta a pesquisadora.

Dormir menos traz vantagem?

No estudo pioneiro, os pesquisadores usaram acelerometria para rastrear os movimentos de cerca de 450 marsupiais do gênero, além de medições eletrofisiológicas e metabólicas para quantificar o quanto os animais dormiam.  

Os autores sugerem que esses animais podem obter algum tipo de vantagem por dormirem menos durante o período de acasalamento ou que aceitam a inconveniência de ficarem acordados para aumentar as chances de reprodução. Segundo especialistas, reduzir o sono pode ser uma forma de adaptação quando a necessidade de reprodução "é extrema".

"Na verdade, é surpreendente que eles não sacrificam ainda mais sono durante a estação de reprodução, já que, de qualquer forma, vão morrer em breve", comenta Zaid.  

Morte trágica e canibalismo

Os antechinus também são raros em outros aspectos. Os machos só se reproduzem uma vez durante toda a breve vida de menos de um ano. Já as fêmeas podem viver dois anos e têm mais oportunidades de reprodução.  

A equipe de pesquisa também descobriu que, na época de acasalamento, os machos competem pelo maior número de fêmeas para maximizar seu sucesso reprodutivo, motivo pelo qual chegam a fazer 14 horas de sexo com diferentes pares.

"Os machos têm apenas uma chance durante um único período de acasalamento de três semanas", explica o líder do estudo e pesquisador da Universidade La Trobe, John Lesku.  

Os filhotes e a fêmea comem a carne do macho morto após horas de sexoFoto: Imago/ANT/Avalon

No entanto, todo esse esforço tem consequências: após o período de acasalamento, os machos monitorados desenvolveram lesões na pele, perda de pêlo e diminuição do desempenho quando acordados. Alguns morrem logo após a única, curta e intensa temporada de acasalamento. Mas sua morte também tem outra função: os filhotes e as fêmeas usam os restos mortais do macho como fonte de alimento.

Mais resistentes ao sono dos que os humanos?

O estudo não esclarece o que faz com que alguns machos morram após a temporada de reprodução, embora os pesquisadores não acreditem que isso se deva apenas à perda de sono. A cada dez machos, apenas dois morreram depois logo depois do acasalamento, e eles não eram os que dormiram menos. 

Os cientistas também querem saber mais, também, sobre como os antechinus lidam com a perda de sono, que chega a um nível que faria com que os humanos agissem como se estivessem intoxicados ou drogados.  

Em estudos futuros, a equipe espera descobrir se esses animais são mais resistentes ao sono do que os humanos ou se eles "simplesmente continuam" instintivamente.

lr/le (dpa, efe, Reuters)

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