Turquia ameaça a Síria
6 de outubro de 2011Depois da Rússia e da China terem vetado sanções contra a Síria no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, não pretende mais assistir de braços cruzados à violência cometida pelo regime do presidente Bashar al Assad.
Nesta quarta-feira (05/10), Erdogan anunciou que a Turquia irá impor um pacote de sanções ao regime de Assad. "Vemos que a liderança síria não adotou as medidas necessárias e tenta calar o próprio povo com pressão e violência, apesar das promessas de reforma", disse Erdogan durante viagem à África do Sul.
Erdogan sente-se passado para trás por Bashar al-Assad, segundo deixou transparecer durante a visita oficial à África do Sul. Ele comparou os atos do presidente sírio com os de seu pai e antecessor, que em 1982 ordenou o Massacre de Hama, no qual morreram pelo menos 10 mil manifestantes.
Para Erdogan, as ações das tropas de Assad na capital portuária de Latakia, no último mês de agosto, foram tão brutais quanto as ordenadas pelo pai dele. "Pouco antes de bombardear Latakia com navios de guerra, Assad anunciou que havia suspendido o estado de emergência. O que seu pai fez no passado em Hama e Humus está se repetindo agora", disse.
O primeiro-ministro turco lembra que um clima amigável se desenvolveu entre a Turquia e a Síria nos últimos anos, mas que amizades se baseiam em certos princípios. "Se esses princípios não são observados, termina para nós uma amizade."
Relação antiga
As relações políticas e econômicas entre a Síria e a Turquia intensificaram-se depois que o governo sírio expulsou do país, há mais de 13 anos, o ex-líder e fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) Abdullah Öcalan. Desde então, o comércio cresceu quatro vezes, e um acordo de livre comércio e o fim da exigência de vistos de entrada em ambos os países melhoraram os contatos.
Porém desde o início das manifestações contra Assad, as relações entre a Turquia e a Síria ficaram abaladas. Antes, 50 mil sírios atravessavam diariamente a fronteira com a Turquia para ir às compras. Agora, em vez de consumidores, passam pela fronteira refugiados. Os comerciantes fronteiriços, que nos últimos anos lucraram com os clientes sírios, já percebem a diferença.
Apelo turco
Quando esteve em Damasco, há dois meses, o ministro do Exterior da Turquia, Ahmet Davutoglu, exigiu novamente a necessidade de reformas na Síria, mas Assad ignorou os apelos e aumentou ainda mais a violência contra os opositores.
Davutoglu defende que a Turquia não pode ficar parada diante da situação na Síria. Ele lembra que muitos turcos e sírios são parentes e que, além disso, existe uma fronteira de 910 quilômetros unindo os dois países. "Esses fatos nos impulsionaram, no passado, a desenvolver projetos em conjunto. Hoje essas mesmas razões nos levam a ficar do lado da população síria nesse difícil momento de pressão e represálias. A Turquia apoia as legítimas exigências do povo sírio."
Pressão militar
Em outras palavras: A Turquia está exigindo a troca de governo na Síria. Para pressionar Assad, o Exército turco estacionou tropas nas proximidades da fronteira com a Síria, bem como embargou o transporte de armas no mar Mediterrâneo e já forçou o pouso de duas aeronaves sírias que levavam armamento para o regime de Assad. Além disso, Erdogan pretende visitar um campo de refugiados sírios nos próximos dias.
O próximo passo são sanções econômicas. De acordo com jornais turcos, o governo de Ankara está à procura de rotas alternativas para as exportações à Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico. Até agora, a maior parte dos bens vinha sendo transportada por caminhões, por território sírio.
Autor: Armin Hering (br)
Revisão: Alexandre Schossler