Antigo homem mais rico da Rússia completa dez anos na prisão
25 de outubro de 2013A primeira imagem é a de um executivo num terno preto feito sob medida, com cabelos grisalhos e um olhar sério por trás dos óculos sem armação. A outra, atual, é do mesmo homem, que veste agora nada mais que o uniforme da prisão. Os óculos e a expressão facial ainda são os mesmos. Seu nome é Mikhail Khodorkovsky.
Entre as duas fotografias, uma década se passou. A primeira foi registrada em junho de 2003 em Moscou, na sede da empresa petrolífera Yukos. O então presidente da companhia era o homem mais rico da Rússia, com uma fortuna estimada em 8 bilhões de dólares. Já a segunda foto foi tirada em agosto de 2013, numa colônia penal.
Khodorkovsky foi preso há dez anos, em outubro de 2003. O magnata do petróleo foi considerado culpado em dois processos, um deles referente à sonegação de impostos. Quebrada, sua empresa foi desintegrada.
Bilionário na era Yeltsin
Matthias Schepp, o atual chefe do escritório do semanário alemão Der Spiegel em Moscou, conhece Khodorkovsky desde a metade dos anos 80, quando ele ainda era um dos oligarcas do país. "Era sem dúvida o mais quieto de todos eles, e o mais tranquilo", relembra o jornalista em entrevista à DW. "Ele não demonstrava ambições políticas em suas conversas comigo."
O magnata, porém, não ficou distante da política. Em 1996, ele e outros oligarcas russos apoiaram a reeleição do presidente Boris Yeltsin. "Como recompensa, o governo cedeu a eles a melhor fatia da indústria russa a um preço ridiculamente baixo", observa Schepp.
Em poucos anos, Khodorkovsky criou a Yukos, a maior empresa petrolífera da Rússia. Havia rumores de que ele poderia desafiar politicamente o presidente Vladimir Putin. Mesmo que negasse a intenção de concorrer à chefia de Estado, Khodorkovsky financiava uma ala da oposição.
Em encontro de Putin com oligarcas do país, o magnata do petróleo denunciou publicamente a corrupção do governo. A reunião acabou em gritaria, e alguns meses mais tarde o chefe da Yukos acabou preso.
Um quinto da vida atrás das grades
Khodorkovsky ficou detido primeiramente em Moscou e, mais tarde, foi transferido para uma colônia penal na Sibéria. Na prisão, o ex-bilionário trabalhava costurando luvas. Atualmente ele está preso em uma pequena cidade chamada Segescha, na região da Carélia, 1.200 quilômetros ao norte de Moscou. Seu trabalho agora é dobrar pastas de arquivo.
Em 2013 ele completou 50 anos, o que significa que passou um quinto da vida encarcerado. Numa entrevista, ele afirmou, em tom irônico, que se soubesse que seria assim, teria atirado em si mesmo. Seu filho Pavel Khodorkovsky, por outro lado, disse que seu pai não se sente pessimista sobre o futuro.
Na prisão, ele luta para sobreviver, afirma Schepp. Os intelectuais o ajudam a escrever. Em entrevistas, ensaios e livros, Khodorkovsky faz observações sobre a política russa e examina o futuro da humanidade.
Sem pedir clemência
Desde 2011, Schepp se corresponde com Khodorkovsky através de cartas. "Parece que de fato a vida na prisão o transformou", observa. Porém, ressalta, "a determinação " do célebre prisioneiro continua a mesma. Schepp descreve o ex-oligarca como alguém determinado e de posicionamento firme. O maior exemplo disso, segundo o jornalista, é o fato de ter negado nos últimos dez anos qualquer acordo com o Kremlin.
Khodorkovsky teria tido até a possibilidade de admitir culpa e obter permissão para sair do país, mas recusou o acordo. O ex-presidente da Yukos jamais pediu o perdão de seus acusadores. Schepps descreve esse embate entre o ex-magnata do petróleo e Putin como um "duelo de titãs", que após dez anos ainda não chegou ao fim.
O ex-oligarca se considera um prisioneiro político. Ele acredita na oposição, no papel das nações do Ocidente e em organizações dos direitos humanos como a Anistia Internacional. Em particular, o segundo julgamento de Khodorkovsky foi bastante criticado. A Corte Europeia de Direitos Humanos, em Estrasburgo, julgou que os processos contra ele não apresentavam provas suficientes para incriminá-lo, e considerou sua condenação política.
O caso Khodorkovsky divide a Rússia. Para alguns, ele é de fato um corrupto; para outros, um mártir. Muitos ainda querem que o ex-magnata entre para a política. "Meu pai é visto mais com um líder moral", defende Pavel Khodorkovsky. No entanto, seu pai não aspira um papel de líder da oposição. Ele mesmo já deixou isso bem claro em seus livros.
A pena de Khodorkovsky foi reduzida em dois meses. Ele deverá ser libertado em agosto de 2014. No entanto, Schepp acredita que deverá haver ainda um terceiro processo contra o ex-oligarca. Especulações sobre novas acusações já circulam há meses em Moscou.