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Antissemitismo em protestos pró-Gaza gera críticas na Alemanha

Jeanette Seiffert (ca)23 de julho de 2014

Incidentes antissemitas se acumulam em manifestações pelo país e abrem debate sobre o limite entre a crítica legítima às políticas israelenses para os palestinos e o ódio aos judeus.

Nahost-Friedensdemonstration
Foto: picture-alliance/dpa

"A polícia berlinense se submete aos que odeiam os judeus." O título dado pelo jornal Berliner Tagesspiegel para um protesto contra Israel em Berlim causou alvoroço nas redes sociais. "Judeu, judeu, seu porco covarde: saia e lute sozinho", teriam gritado árabes, sem que a polícia tenha interferido.

Desde o início da ofensiva em Gaza, vários protestos em cidades europeias iniciados pacificamente terminaram em violência, como na França no último fim de semana, quando lojas judaicas e sinagogas foram alvo de vandalismo. Em Berlim, as autoridades investigam um pregador muçulmano que teria pedido a morte de judeus em um vídeo no Youtube.

"Não temos nada contra manifestações nem contra a liberdade de expressão, isso é a essência da democracia", disse o embaixador de Israel em Berlim, Yakov Hadas-Handelsman. "Mas violência contra a polícia ou contra manifestantes pró-Israel, como aconteceu neste fim de semana, isso não se pode aceitar. Isso também deveria preocupar os alemães. Um slogan antissemita como "judeus para a câmara de gás", e isso na Alemanha?"

Na Alemanha, onde o tema antissemitismo é extremamente sensível, abriu-se a questão sobre como lidar com esse tipo de manifestação. Uma série de políticos de diferentes partidos criticou enfaticamente as declarações antijudeus. O governo alemão, no entanto, não vê ainda motivos para elevar o estado de alerta. Ainda assim, tudo está sendo feito para proteger instalações judaicas, garante uma porta-voz da chancelaria federal.

Maior mobilização

O conflito na Faixa de Gaza chegou ao centro da Europa e, com ele, diz o cientista político Stephan Grigat, também o ódio declarado a Israel: "Não é preciso uma grande capacidade de discernimento para se dizer: isso é antissemitismo puro, como se pôde escutar provavelmente na mesma forma drástica há 70 anos nas ruas alemães."

Para o especialista do Instituto de Estudos Judaicos na Universidade de Viena, o atual clima anti-Israel na Alemanha não é uma surpresa. Já nos últimos confrontos entre Israel e o Hamas, em 2012, houve protestos com milhares de manifestantes. "Nos anos anteriores, no entanto, eram especialmente pessoas de orientação esquerdista", relembra.

Protestos na França evoluíram para a violênciaFoto: picture-alliance/dpa

Desta vez, diz Grigat, as manifestações foram dominadas por grupos islâmicos: "Muitos dos participantes assumem abertamente estar do lado do Hamas, do Hisbolá xiita no Líbano ou da Jihad Islâmica."

Segundo ele, por trás disso está uma tática pérfida dos islamistas: "Eles usam as imagens de civis mortos em Gaza para então poderem gritar bem alto 'Israel, assassino de crianças' em sua cruzada propagandística de clara tradição antissemita."

A novidade agora, segundo Grigat, está no caráter agressivo das manifestações e no fato de, devido às redes sociais, ser possível mobilizar milhares de pessoas num curto espaço de tempo.

Debate nas redes sociais

A questão de saber se os manifestantes são mesmo impulsionados pela preocupação com a situação humanitária em Gaza também está sendo discutida nas redes sociais. Assim como Grigat, muitos expressam a suspeita de que a crise na Faixa de Gaza está sendo instrumentalizada.

"Quando me posicionei contra a guerra no Iraque, eu gritava 'Parem a guerra no Iraque'", escreveu uma usuária do Twitter. "Se vocês são contra a guerra no Oriente Médio, porque gritam 'Abaixo Israel'?"

"Mas quando se pode dizer que se trata de genocídio sem que se seja chamado de antissemita?", retrucou outra usuária. "Eu posso perfeitamente ser contra o antissemitismo nas manifestações na Alemanha e, ao mesmo tempo, ser contra os ataques israelenses em Gaza", escreveu outra.

Manifestações pró-Gaza em VienaFoto: Reuters

O judeu Rolf Verlegen, ex-membro da diretoria do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, atribui a responsabilidade pelos sentimentos anti-Israel principalmente ao próprio governo israelense. Segundo ele, deve ser possível criticar a política de Israel para Gaza sem automaticamente ser tachado de antissemita.

"Se nossos políticos e nossa mídia dizem todos 'sim, está certo o que Israel está fazendo', e se os representantes do judaísmo na Alemanha e na França dizem 'quem for contra as medidas de Israel está contra os judeus', isso se torna justamente um estímulo para tais slogans antissemitas", opina.

Ele diz também não entender o fato de políticos alemães terem receio de criticar Israel por causa do passado da Alemanha. "O que tem a ver os familiares mortos com o fato de agora estar acontecendo uma injustiça no Oriente Médio? Não se pode permitir que uma injustiça aconteça hoje apontando para coisas terríveis que aconteceram no passado", afirma Verlegen.

Com tais palavras, ele fala por muitos alemães. Segundo uma pesquisa de opinião da revista Stern, mais da metade dos alemães culpa tanto os radicais do Hamas quanto o Estado de Israel pelo conflito. Para 86% dos alemães, Berlim não deveria tomar abertamente partido em favor de Israel nesse conflito.

Em todo caso, as manifestações pró-Gaza deverão continuar, na Alemanha como também em outros países europeus. Nesta sexta-feira, elas deverão atingir um ápice no dia de celebração do Al-Quds. O "Dia Mundial de Jerusalém" é usado anualmente para se realizar grandes manifestações contra Israel, nas quais se exige a "libertação de Jerusalém da ocupação sionista."

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