Ao menos 140 migrantes morrem no naufrágio mais letal do ano
30 de outubro de 2020
Barco com 200 pessoas partiu da costa do Senegal rumo às Ilhas Canárias, mas pegou fogo e naufragou logo em seguida. Agência da ONU pede união de governos para desmantelar redes de tráfico humano.
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Ao menos 140 pessoas morreram depois que um barco que transportava cerca de 200 migrantes naufragou na costa do Senegal no último fim de semana, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM) nesta quinta-feira (29/10).
De acordo com o órgão das Nações Unidas, o número trágico de mortos no naufrágio o torna o mais letal envolvendo um barco de refugiados registrado até agora em 2020.
Duas centenas de migrantes embarcaram na cidade senegalesa de Mbour, no oeste do país, no sábado, rumo às Ilhas Canárias, na Espanha. Mas a embarcação logo pegou fogo e afundou na costa noroeste do Senegal, perto da cidade de Saint-Louis. Segundo a OIM, 59 passageiros foram resgatados com vida.
A organização disse estar "profundamente triste" com a tragédia, que se seguiu a outros quatro naufrágios no Mar Mediterrâneo na semana passada, e outro no Canal da Mancha.
"Apelamos à unidade entre governos, parceiros e a comunidade internacional para desmantelar as redes de tráfico e contrabando que se aproveitam da juventude desesperada", disse Bakary Doumbia, chefe da OIM no Senegal, em comunicado.
A entidade alertou que o número de barcos que tentam chegar às Ilhas Canárias a partir do Senegal "aumentou significativamente nas últimas semanas". No mês passado, 14 embarcações tentaram a travessia, e cerca de um quarto "sofreu algum incidente ou naufrágio", disse a OIM.
O arquipélago espanhol fica a mais de 100 quilômetros da costa africana em seu ponto mais próximo, e a viagem é geralmente feita em barcos de madeira superlotados e mal conservados.
A costa senegalesa já foi um importante ponto de partida para quem quer migrar para a Europa, mas nos últimos anos havia se tornado mais comum viajar por terra para a Tunísia e a Líbia antes de tentar cruzar o Mediterrâneo.
Agora, a rota pelo Atlântico rumo à Europa voltou a ser cada vez mais usada. Pelo menos 414 pessoas morreram nesse trajeto em 2020, segundo o Projeto de Migrantes Desaparecidos da OIM, que registrou 210 óbitos em todo o ano de 2019.
Cerca de 11 mil migrantes chegaram às Ilhas Canárias neste ano, em comparação com 2.557 durante o mesmo período de 2019. O total, contudo, ainda está muito abaixo do pico registrado em 2006, quando mais de 32 mil chegadas foram computadas pela OIM.
EK/afp/ap/lusa/ots
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac