Ao se aliar a Trump, Elon Musk quer mais poder ou dinheiro?
Matthew Ward Agius
22 de janeiro de 2025
Homem mais rico do mundo ajudou na reeleição do republicano e agora tem linha direta com a Casa Branca. Mas a motivação do bilionário será econômica, ideológica ou pessoal?
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O homem mais rico do mundo e um dos principais aliados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Elon Musk colocou seu considerável peso cultural e financeiro na bem-sucedida campanha presidencial do magnata nova-iorquino.
O multibilionário criou um comitê de ação política, o "America PAC", para eleger Trump, injetou nele mais de 119 milhões de dólares (R$ 700 milhões) e passou semanas antes da eleição incentivando os eleitores dos estados-pêndulo a irem às urnas, chegando a oferecer prêmios de milhões de dólares. Além disso, contribuiu com mais de 280 milhões de dólares para candidatos republicanos em todos os níveis, no ciclo eleitoral de 2023-24.
Observadores sugerem que, como um dos principais apoiadores de Trump, Musk – cujo patrimônio líquido atual circula pelos 290 bilhões de dólares – está agora pronto para se beneficiar de uma linha direta para a Casa Branca. A questão é como.
Da África do Sul para os EUA
Nascido em Pretória, na África do Sul, filho do promotor imobiliário, engenheiro e ex-político local Errol Musk e da modelo e nutricionista canadense Maye Musk, o bilionário emigrou para os EUA nos anos 90.
Ele foi cofundador das primeiras empresas da internet, como o guia de cidades online Zip2 e a plataforma de serviços financeiros X.com, que mais tarde se fundiu com uma plataforma semelhante, o PayPal.
Hoje, é provavelmente mais conhecido por ter fundado a empresa privada de exploração espacial SpaceX e ter fornecido o financiamento para a criação da montadora de carros elétricos Tesla. Ele é o diretor executivo de ambas. Também fundou a construtora de túneis The Boring Company e a fabricante de implantes cerebrais Neuralink.
Musk tem falado abertamente sobre suas preocupações com a população humana e a necessidade de partir para outros planetas. Pai de pelo menos 12 filhos, em 2022, tuitou sua crença de que "o colapso populacional decorrente das baixas taxas de natalidade é um risco muito maior para a civilização do que o aquecimento global", uma declaração criticada por cientistas climáticos e demógrafos.
Ele persegue sua ambição de colocar humanos em Marte por meio da Space X, que também formou parceria com a Nasa num projeto para levar astronautas à superfície do planeta vermelho na década de 2023.
Guinada à direita
Musk nem sempre apoiou Trump. Antes, descrevia-se como moderado, a meio caminho entre os democratas e os republicanos. Seu histórico de doações mostra contribuições para candidatos de ambos os partidos em nível estadual e nacional.
Em 2022, sugeriu que Trump era velho demais para ser presidente e que deveria "navegar em direção ao pôr-do-sol". Trump respondeu que Musk havia "implorado" a ele por subsídios durante seu primeiro mandato na Casa Branca. Mas ao fim da eleição de 2024, qualquer inimizade havia desaparecido, e Musk estava firme nas boas graças de Trump.
Há tempos Musk é uma personalidade pública incendiária. Muito disso se deve ao seu alto perfil público na plataforma de mídia social anteriormente conhecida como Twitter. Em 2022, ele a adquiriu por 44 bilhões de dólares, rebatizando-a "X". Durante seu tempo no comando, Musk também se tornou um reconhecido disseminador de desinformação.
Ele demitiu muitos membros da equipe, permitiu que usuários controversos e anteriormente banidos, inclusive Trump, voltassem à plataforma, e afugentou anunciantes. O que acabou provocando um êxodo de usuários e, na época da eleição, o X estava avaliado em cerca de um quinto do preço original pago por Musk.
Mas isso não parece preocupar Musk que, quando comprou o Twitter, se juntou a um grupo de vários bilionários com uma plataforma de mídia de massa. Outros, como o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, seguiram o mesmo caminho.
"Tem gente rica que [...] quer continuar ganhando dinheiro e ver o mundo pelo prisma de seus interesses comerciais e acumular mais riqueza", resume David Faris, professor associado de ciência política da Universidade Roosevelt, que escreveu sobre a influência da riqueza na política dos EUA.
"E há gente que é tão rica, que diz: 'Não me importa se eu perder 44 bilhões de dólares comprando o Twitter'. [Musk] parece estar se enquadrando nessa última categoria. Ele está aproveitando sua riqueza de uma forma que não faz nenhum sentido econômico."
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Elon Musk entrará para a política?
Por ter nascido na África do Sul, ele não pode concorrer à presidência americana, mas, como cidadão americano, poderia se candidatar a um cargo mais baixo. Também poderia simplesmente trabalhar para influenciar a política por meio de suas conexões com Trump.
Steve Nelson, economista político da Northwestern University, observou a tendência dos bilionários de buscarem cargos políticos, embora isso viesse ocorrendo principalmente em autocracias. É menos comum nas democracias, onde eles preferem doar dinheiro para os candidatos que apoiam.
"Para alguém como Musk, provavelmente é o caso de você ter um interesse pessoal muito forte em seguir uma agenda política específica que acha que não pode ser controlada de uma forma mais indireta", sugere Nelson.
Mesmo que ele se mantenha afastado da política, o relacionamento de Musk com Trump está estabelecido. Ele foi nomeado chefe-adjunto do Departamento de Eficiência Governamental, ou Doge, na verdade um painel de consultoria criado para reduzir os gastos do governo.
Nelson pode imaginar Musk tentando obter um cargo político, pois pode achar que estará mais bem posicionado para promover determinados objetivos se estiver de fato no poder, em vez de depender de outros. "Para Musk, acho que há uma crença quase messiânica em sua própria eficácia e uma agenda realmente clara em torno de tecnologias de ponta", afirma Nelson.
A SpaceX provavelmente prosperará durante o segundo mandato trumpista, mas outros negócios de Musk talvez não. O novo velho presidente anunciou que reduzirá as iniciativas voltadas para o clima, inclusive no setor de transporte elétrico – principal sustento da Tesla.
Mas é possível que o apoio de Musk a Trump ajude a proteger suas empresas contra condições políticas desfavoráveis ou crie um ambiente mais lucrativo. Se for esse o caso, isso enfatizaria ainda mais a tendência de Musk de prever e aproveitar as mudanças culturais e políticas a favor de seus interesses.
O mês de janeiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Kenny Holston/The New York Times/AP/picture alliance
Ataque a faca deixa dois mortos no sul da Alemanha
Um homem de 41 anos e um menino de dois anos foram mortos e duas outras pessoas ficaram feridas em um ataque a faca em um parque na cidade de Aschaffenburg, no estado da Baviera, no sul da Alemanha. Um afegão de 28 anos, requerente de asilo, foi detido ao tentar escapar por trilhos de trem. A indignação com o crime pode impactar a campanha eleitoral, a um mês das eleições antecipadas. (22/01)
Foto: Ralf Hettler/dpa/picture alliance
Incêndio mata dezenas em resort de esqui na Turquia
Mais de 70 pessoas morreram e ao menos 51 outras ficaram feridas no incêndio num hotel localizado em uma popular área de esqui nas montanhas de Bolu, no noroeste na Turquia. O incêndio começou durante a madrugada no Grand Kartal, um hotel de 12 andares construído de madeira na estação de esqui de Kartalkaya, a uma altitude de 2.200 metros. (21/01)
Foto: IHA/AP/picture alliance
Trump de volta à Casa Branca
O republicano Donald Trump tomou posse em seu segundo mandato como presidente dos EUA. Em seu primeiro dia de governo, o republicano anunciou um pacote de medidas conservadoras, reverteu dezenas de decisões de seu antecessor, Joe Biden, concedeu perdão a 1.500 condenados pelo 6 de janeiro de 2021 e prometeu dar início a uma nova "era de ouro" no país. (20/01)
Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP/dpa/picture alliance
Alívio e emoção dos primeiros reféns liberados
Doron Steinbrecher, uma das três reféns israelenses libertadas no primeiro dia de cessar-fogo entre Israel e o grupo extremista Hamas, reencontra sua mãe após 15 meses de cativeiro. Hamas também libertou Romi Gonen e Emily Damaria, dando início ao processo previsto no acordo. Em troca, cerca de 95 prisioneiros palestinos deverão ser libertados, a maioria mulheres e adolescentes. (19/01)
Foto: Israeli Army/AP/picture alliance
Milhares vão às ruas de Washington contra Trump
Dois dias antes da volta de Donald Trump à Casa Branca, milhares protestaram contra políticas anunciadas pela próxima gestão. Chamada "Marcha do Povo", a manifestação foi organizada por movimentos de defesa dos direitos civis em defesa de pautas como o acesso ao aborto, proteção climática e direitos dos imigrantes. Mais de 350 marchas semelhantes aconteceram em todo o país. (18/01)
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Gabinete israelense aprova cessar-fogo em Gaza
O governo israelense aprovou o acordo de cessar-fogo e libertação de reféns em Gaza, após horas de consultas que se estenderam até a madrugada de sábado (18/01)."O governo aprovou o plano de devolução dos reféns", disse o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em comunicado. As armas deverão ser silenciadas inicialmente por seis semanas a partir do próximo domingo. (17/01)
Foto: Koby Gideon/AFP
David Lynch, diretor de "Cidade dos sonhos", morre aos 78 anos
Conhecido por produções como "Cidade dos Sonhos", "Twin Peaks" e obras surrealistas, o renomado diretor americano acumulou quatro indicações ao Oscar durante sua carreira. Causa da morte não foi divulgada. Em 2024, ele afirmou que foi diagnosticado com enfisema pulmonar. (16/01)
Hamas e Israel chegam a acordo para encerrar conflito em Gaza
Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo para encerrar o conflito na Faixa de Gaza após 15 meses de combates, segundo informaram mediadores nesta quarta-feira. O texto prevê troca de reféns por prisioneiros e a retirada de militares israelenses. População foi às ruas em Gaza e em Israel para comemorar a decisão. (15/01)
Foto: Abdel Kareem Hana/AP/picture alliance
Procurador diz que havia evidências para condenar Trump
Em relatório tornado público, o procurador especial Jack Smith afirma que havia evidências suficientes para condenação do presidente eleito dos EUA por tentar anular o resultado da eleição de 2020. Parte do documento foi enviado ao Congresso pelo Departamento de Justiça – não sem que antes Trump tentasse impedir que isso acontecesse. Republicano reagiu tachando Smith de "perturbado". (14/01)
Foto: Jacquelyn Martin/AP Photo/picture alliance
Lula sanciona lei que proíbe uso de celular nas escolas
Lei restringe uso de aparelhos eletrônicos portáteis, sobretudo telefones celulares, nas salas de aula de escolas públicas e privadas em todo o país. Há exceções para uso pedagógico, sob supervisão dos professores, ou em casos excepcionais de acessibilidade ou necessidade de saúde. Medida ainda será regulamentada por decreto a tempo de entrar em vigor no início do ano letivo, em fevereiro. (13/01)
Sobe para 16 número de mortos em incêndios em Los Angeles
O número de mortos nos incêndios florestais que atingem a região de Los Angeles aumentou para 16, enquanto as equipes lutam para conter as chamas antes da chegada prevista de novas rajadas de ventos fortes capazes, potencialmente, de empurrar o fogo em direção a outras regiões da cidade. (12/01)
Foto: Jae C. Hong/AP Photo/picture alliance
Milhares protestam contra convenção da ultradireita na Alemanha
Mais de 10 mil pessoas participam de uma manifestação em uma pequena cidade do leste alemão contra a convenção nacional do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A convenção é parte da campanha do partido para as eleições federais de 23 de fevereiro, convocada após o colapso do governo de coalizão do chanceler federal, Olaf Scholz. (11/01)
Foto: EHL Media/IMAGO
Trump é sentenciado e será 1º presidente condenado dos EUA
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi sentenciado por sua condenação criminal decorrente do pagamento em dinheiro para silenciar uma atriz pornô. A penalidade, porém, não inclui multa, prisão ou liberdade condicional. O juiz aplicou ao republicano uma sentença de "dispensa incondicional", que reconhece a culpa do réu, mas não impõe uma pena específica. (10/01)
Foto: Brendan McDermid-Pool/Getty Images
"Sinceramente, estou morrendo", diz ex-presidente do Uruguai José Mujica
Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer em seu esôfago se espalhou para o fígado e que a progressão da doença não pode mais ser interrompida. "Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta", disse. "O que eu peço é que me deixem em paz. O guerreiro tem direito ao descanso." (09/01)
Foto: Santiago Mazzarovich/AFP
Incêndios deixam rastro de destruição na Califórnia
Incêndios florestais de enormes proporções atingiram a Califórnia e deixaram ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. No condado de Los Angeles, cerca de 180 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por ordem das autoridades, com as chamas consumindo uma área de 117 quilômetros quadrados. (08/01)
Foto: Ringo Chiu/REUTERS
Morre o extremista francês Jean-Marie Le Pen
Líder histórico da extrema direita francesa e pai da ultradireitista Marine Le Pen morreu aos 96 anos. Ele foi um dos fundadores do partido Frente Nacional, renomeado em 2018 para Reunião Nacional. Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. (07/01)
Congresso dos EUA certifica vitória eleitoral de Trump
O Congresso dos EUA certificou Donald Trump como vencedor da eleição de 2024. A cerimônia aconteceu sem interrupções – em contraste à violência de 6 de janeiro de 2021, quando, com pelo menos aquiescência de Trump, uma multidão invadiu o Capitólio para impedir certificação de Joe Biden. Os legisladores se reuniram sob forte segurança para cumprir a data exigida pela lei eleitoral. (06/01)
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Neve traz caos à Europa e aos Estados Unidos
Após um fim de ano com temperaturas relativamente amenas, nevou no Reino Unido e em outras partes da Europa. Pistas congeladas geraram transtorno nas estradas e levaram ao cancelamento de voos e fechamento de aeroportos, inclusive na Alemanha. Nos Estados Unidos, algumas áreas devem ter a pior nevasca da década. (05/01)
Foto: Danny Lawson/PA Wire/dpa/picture alliance
Trens de longa distância operados pela alemã Deutsche Bahn batem recorde de atraso
Em 2024, 37,5% dos trens de longa distância registraram atraso superior a seis minutos – a maior taxa em 21 anos. Empresa atribuiu piora no desempenho à "infraestrutura ultrapassada e sobrecarregada", obras na rede ferroviária, aumento do tráfego, falta de mão de obra e eventos climáticos extremos, mas disse trabalhar em um plano de ação para melhorar sua pontualidade. (04/01)
Foto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance
Milhares de alemães assinam petição contra uso de fogos de artifício
Mais de 270 mil alemães assinaram uma petição online pedindo a proibição de fogos de artifício particulares em todo o país, após um Ano Novo marcado por cinco mortes e dezenas de feridos pelo uso incorreto dos fogos. Em várias cidades, equipes de emergência foram atingidas pelos explosivos. Em Berlim, um policial ficou gravemente ferido e precisou ser operado. (03/01)
Foto: Christian Mang/REUTERS
Multidão protesta contra prisão de presidente afastado da Coreia do Sul
Uma centena de pessoas se reuniram em Seul para protestar contra o mandado de prisão imposto ao presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, acusado de insurreição. Apoiadores se posicionaram em frente à residência de Yoon, que se propôs a "lutar até o fim". Agentes já se posicionam no local para cumprir a ordem judicial. (02/01)
Foto: Philip Fong/AFP
Homem atropela multidão em Nova Orleans e deixa 10 mortos
Ataque ocorreu na Bourbon Street, uma rua turística com bares e clubes noturnos. Condutor do veículo morreu em confronto com policiais e FBI investiga "ato de terrorismo". Suspeito, um cidadão americano do Texas, carregava bandeira do Estado Islâmico. (01/01)