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Ao vencedor, as batatas

Neusa Soliz7 de fevereiro de 2003

Uma espingarda ou bazuca que usa batatas como munição está causando sensação entre os jovens na Alemanha. E dor de cabeça à polícia, pois a arma de brincadeira pode machucar para valer.

Alimento ou muniçãoFoto: BilderBox

Os alemães não conhecem Machado de Assis, mas de batatas eles entendem. Ao que tudo indica, o tubérculo não serve apenas de guarnição na culinária, mas tornou-se uma perigosa arma, ou melhor: uma perigosa munição para uma "arma" das mais curiosas, o Kartoffelkanone. Literalmente um canhão de batatas, ela mais se parece a uma espingarda de cano longo.

Sua fabricação é doméstica, para o que se usa canos de água ou plástico, latas de aerossol e apetrechos encontrados em qualquer loja de material de construção no país. O combustível também é sui generis: uma mistura à base de laquê.

A origem desse "canhão" é desconhecida e não seria de se admirar que algum professor de física em algum país tenha tido a idéia de construí-lo para ensinar algumas leis e princípios, tornando a aula mais interessante. Aliás, ao escrever sobre o assunto, encontramos até o artigo A física em um canhão de batatas, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física em 1999 (vide link).

Engenhocas e malvadezas

Quem deu o alarme do que estava acontecendo no país foi o conceituado semanário Der Spiegel, com uma reportagem sobre várias apreensões de Kartoffelkanonen pelo país e os "estragos" que a garotada andou fazendo. O artigo abre com o relato do destino que teve um infeliz porquinho-da-Índia, usado por algum malvado no lugar da batata. Atirado a uns 100 metros de distância com grande impacto, dele só sobrou uma "mancha disforme", como descreveu o autor da crueldade, o usuário número 16700001 num fórum na Internet.

O site que abriu esse fórum, www.Kartoffelkanone.de, fornecia até instruções para quem quisesse construir uma dessas engenhocas. Mas, com a atenção que o fato despertou na mídia, o número de acessos foi tão grande que o servidor acabou pifando.

Como a polícia andou confiscando armas, os donos da página resolveram tirar do ar as instruções. A última novidade é que resolveram colocar à venda esse domínio e outros, como o www.potatogun.de, vendo a oportunidade de tirar o máximo proveito de tanta publicidade. Ao vencedor, as batatas.

Tiroteio de batatas e testes de balística

O primeiro caso que ocupou a Justiça alemã foi em Mühlhausen, pequena cidade da Turíngia, no leste alemão, no final de 2001. Quatro jovens haviam chamado a atenção dos moradores da região com o "tiroteio" de batatas que promoveram num bosque. Assustados, eles chamaram a polícia.

O promotor Dirk Gemerodt não deu importância à brincadeira, e "condenou" os autores da algazarra a 25 horas de trabalho para a comunidade. Quando houve um segundo caso, dias depois, ele ordenou o confisco da arma e decidiu cobrar multas de até 250 euros, por infração à lei de porte de armas.

Os técnicos do departamento de balística que a testaram ficaram admirados com o resultado. Com calibre de 45 a 50 milímetros, a aceleração das batatas foi de 80 ou até 90 metros por segundo. Os especialistas mediram uma energia de até 300 joules. Uma pessoa atingida, portanto, ficaria, no mínimo, com hematomas graves. Na internet, afirma-se que os projéteis podem alcançar uma distância de 200 metros e uma velocidade de mais de 200 quilômetros por hora.

O hobby, porém, acabou se espalhando pelo país e houve casos de disparos de uma bazuca de 1,40m em um parque infantil na Renânia e outro em que as batatas voaram no pátio de uma escola, no sul da Alemanha, o que preocupa as autoridades.

Ataque inglês ao pacifismo alemão

Se a mídia no exterior noticiou o caso mais pela curiosidade, o assunto teve uma outra conotação na Grã-Bretanha, onde a Alemanha e os alemães costumam ser ridicularizados na imprensa por qualquer banalidade.

Os comentários pejorativos, agora, voltam-se contra uma juventude que prefere atirar batatas em vez de ir à guerra, o que, no fundo, não passa de uma crítica ao "não" do governo alemão a uma guerra no Iraque. "A guerra começou", escreveu alguém na Internet. Comentando as repercussões no Reino Unido, "os ingleses responderam o fogo e atingiram o nosso coração de batata". Essa batalha, pelo menos, não é tão sangrenta.

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