Wim Wenders
14 de agosto de 2010![](https://static.dw.com/image/4077882_800.webp)
Quem conhece algumas das cerca de 40 obras cinematográficas de Wim Wenders sabe que suas produções não são meros filmes, mas "pinturas com câmera", como ele mesmo define. O diretor, que completa 65 anos neste sábado (14/08), é uma das figuras mais importantes do Novo Cinema Alemão e do cenário alternativo internacional.
No seu aniversário, quem festeja é o público: o cinema Arsenal, em Berlim, realiza durante as próximas semanas uma retrospectiva em que serão exibidos os principais filmes de Wenders.
Vida na estrada
Wenders é natural de Düsseldorf. Filho de médicos, largou as faculdades de medicina e filosofia com a intenção de se tornar pintor. Seu interesse por cinema surgiu em Paris, onde ele morou ainda jovem e tentou estudar artes, mas não foi aceito na academia. Foi em Munique, na Universidade de Televisão e Cinema, que a paixão tornou-se profissão.
Dois de seus primeiros filmes, Alice nas cidades (1974) e No decurso do tempo (1976) já apresentavam o estilo road movie (filme de estrada), característica marcante de outras produções de sua carreira e de sua própria experiência de vida.
Wenders se viu em várias situações à frente de uma estrada. No final dos anos 70, se mudou para os Estados Unidos, onde filmou o clássico Paris, Texas (1984), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.
A era dos anjos
Uma das ideias mais geniais do cineasta, e que se tornou uma de suas marcas ao redor do mundo, é sua abordagem espiritual em Asas do desejo (1987) e Tão longe, tão perto (1993).
Em Asas do Desejo, Wenders mostra com incrível sensibilidade seu ponto de vista em relação aos anjos – presentes entre nós, mesmo que não seja possível vê-los. Eles se vestem de preto, entendem todos os idiomas, gostam de alturas e circulam por bibliotecas, onde leem os pensamentos das pessoas. Apesar de serem imunes à dor, fome, medo, tristeza ou alegria, têm a capacidade de se apaixonar.
No primeiro longa ambientado em Berlim, o anjo Damiel (interpretado por Bruno Ganz) abre mão da eternidade e "pula" para a existência mundana para vivenciar o amor e todas as coisas boas e ruins que só a humanidade tem o privilégio de sentir.
A ideia de anjos circulando entre os humanos foi além dos filmes. Wenders dirigiu o videoclipe de Stay, Faraway so Close, do U2, em que Bono – um de seus grande amigos -, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton interpretam criaturas divinas pelas ruas de Berlim.
Em 1998, nos Estados Unidos, foi filmado Cidade dos Anjos, um remake de Asas do desejo, com Nicolas Cage e Meg Ryan. A trilha sonora do filme contou também com a participação do U2, com a música If God will send his angels.
Sempre atual
Na capital alemã, Wenders é normalmente visto pelas ruas, andando de metrô, comendo uma tradicional "currywurst" ou nas idas e vindas dos aeroportos.
Apesar de estar há quase 40 anos no mercado cinematográfico, Wenders procura se manter sempre atualizado. Em 2006, ele fundou em Berlim a produtora Neue Road Movies, que incentiva diretores jovens e inovadores.
No momento, encara o desafio de produzir um filme em 3D: o documentário Pina, sobre Pina Bausch, a coreógrafa do Tanztheater Wuppertal que morreu repentinamente no ano passado.
Ponto de vista brasileiro sobre o mestre
O cineasta brasileiro Karim Aïnouz, diretor de Madame Satã (2002) e O Céu de Suely (2006), reside atualmente em Berlim. Em meio às filmagens de seu novo projeto, Aïnouz apresentou à Deutsche Welle um ponto de vista brasileiro, mas com um toque berlinense, sobre o diretor alemão:
"Adoro o Wim Wenders lá do começo: O medo do goleiro diante do pênalti, O estado das coisas, Paris, Texas e sobretudo o Wim Wenders de Alice nas cidades. Estou fazendo um filme agora que em parte é inspirado em um longa de Wenders, na menina rindo quando o ator diz 'Wuppertal? Ja, Wuppertal!'
Há algo de deserto pop em Paris, Texas que influenciou toda uma geração. Além de uma paixão pela estrada, como um não-lugar, um lugar onde tudo é possível e um romantismo áspero, seco, que eu adoro.
Seus filmes são inesquecíveis, fundadores. Têm um universo, um tempo e uma tristeza sombria e quase alegre. Que ele faça ainda filmes e mais filmes. Fico curioso em ver um filme dele sobre Berlim, hoje, 20 anos depois da queda do Muro.
Sei que ele está fazendo um projeto sobre a Pina Bausch e fico supercurioso. É uma combinação ímpar que traduz uma geração da Alemanha pós-guerra, pós década de 70. Vai ficar incrível, com certeza."
Autora: Julia Dócolas
Revisão: Carlos Albuquerque