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Aos poucos, população laica se une a protestos contra o Exército no Egito

Markus Symank, do Cairo (cn)20 de novembro de 2013

Durante meses, apenas os seguidores da Irmandade Muçulmana protestaram nas ruas contra o Exército egípcio. Aos poucos, ativistas laicos quebram seu silêncio. E miram o general Al-Sisi.

Manifestação lembra o chamado "massacre de Mohammed Mahmud" no CairoFoto: picture-alliance/dpa

Acompanhado por uma bandinha e homens de uniforme, o primeiro-ministro Hazem al-Beblaui inaugurou um memorial para as vítimas da revolução nesta segunda-feira (18/11) na Praça Tahrir, no Cairo. Poucas horas depois, ativistas destruíram a placa oficial e picharam o monumento.

"Abaixo os traidores da revolução: islamistas, seguidores de Mubarak e Exército", foi escrito com tinta vermelha. Durante a ação, um ativista gritava no megafone: "Não queremos matar ninguém, não queremos derramar sangue. Tudo o que queremos é justiça para os mártires e punição para os que prejudicaram o país e a revolução."

O jovem afirmou que, três anos após a revolução contra o ex-presidente Hosni Mubarak, os assassinos dos manifestantes continuam livres, e acrescentou que o novo regime, assim como o antigo, protege as forças de segurança responsáveis pelo massacre. Que agora os assassinos erijam um monumento às suas vítimas é uma farsa, completou.

Nos últimos quatro meses, apenas os seguidores do presidente deposto Mohammed Morsi protestaram nas ruas contra o Exército e o governo de transição por ele indicado. Agora, vozes da resistência também são ouvidas entre a população laica.

Os jovens laicos estavam evitando participar das manifestações para não serem confundidos com simpatizantes da Irmandade Muçulmana. Mas, com a proliferação de notícias sobre prisões arbitrárias e tortura, e desde que ficou claro que os generais não querem entregar seus privilégios constitucionais, esses jovens ativistas cansaram de ficar em silêncio.

Memorial inaugurado na Praça TahrirFoto: picture-alliance/dpa

Protesto contra Al-Sisi

O estopim foi dado pelo ativista cego Ahmed Harara, de 33 anos. Durante a sua participação em um programa de televisão, o jovem se tornou o primeiro não islamista a atacar publicamente o chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sisi.

Harara escolheu bem a data para se pronunciar: poucos dias antes do segundo aniversário do chamado massacre de Mohammed Mahmud – uma rua perto da Praça Tahrir, onde no mínimo 47 pessoas morreram durante um protesto contra a presença dos militares na política. Elas foram mortas pelas forças de segurança com metralhadoras.

Durante o tumulto, Harara foi atingido no olho esquerdo por uma bala de borracha. O direito ele havia perdido dez meses antes, durante a revolta popular contra Mubarak. "O conselho militar que matou essas pessoas precisa ser responsabilizado. Al-Sisi, que hoje está no poder, fazia parte desse conselho", disse o ativista na televisão.

Para o Exército, a intervenção do famoso ativista veio em má hora, pois os militares já estavam nervosos com o aniversário de dois anos do massacre. Apesar de a popularidade dos generais ter aumentado após a queda de Morsi, a intensiva propaganda do governo não conseguiu se sobrepôr às imagens da violência brutal do Estado contra os manifestantes, há dois anos.

Familiares mostram fotografias das vítimasFoto: picture-alliance/dpa

Assim, as forças de segurança procuraram se apropriar do dia 19 de novembro. Em cima da hora, o Ministério do Interior proclamou feriado nacional para lembrar as vítimas civis, bem como policiais e soldados mortos desde o início da revolução.

A Irmandade Muçulmana também utilizou esse dia para fins próprios e anunciou passeatas de protestos, apesar de, há dois anos, ter ficado calada diante da violência militar contra os manifestantes.

"O governo e o Ministério do Interior querem nos fazer acreditar que a Irmandade Muçulmana foi responsável por aquelas mortes. E a Irmandade Muçulmana quer se aproveitar dessa data para voltar ao poder. Eles omitem que, no passado, quando ainda estavam no poder, também morreram manifestantes", afirma uma ativista, criticando a hipocrisia do governo e dos islamistas.

A maioria dos ativistas de esquerda e liberais que participam dos protestos está determinada a impedir que o Exército e os islamistas se apoderem do legado da revolução. Mas o número de críticos dos militares ainda é pequeno.

Apenas mil pessoas participaram do protesto na Praça Tahrir nesta segunda-feira. Outras mil entraram em confroto com seguidores de Al-Sisi na terça-feira, enquanto um helicóptero do Exército sobrevoava a multidão.

Um jovem ativista reclama ser muito difícil competir com a máquina de propaganda do governo. Segundo ele, quem vai para as ruas protestar será, inevitavelmente, difamado como islamista ou terrorista. "Precisamos encontrar um terceiro caminho. Precisamos montar um governo que não seja religiosamente fascista nem militarmente fascista", diz.

Al-Sisi foi criticado na televisãoFoto: Reuters

Caso protestos como esse se tornem frequentes, o governo já tomou precauções. O presidente interino, Adli Mansur, preparou um projeto de lei que permite ao Ministério do Interior declarar a qualquer momento a ilegalidade de manifestações.

O governo também está elaborando uma lei contra a pichação. Quem quiser usar sprays na luta contra o Exército, pode ir parar na cadeia por quatro anos. O único policial condenado pelos atos de violência de 19 de novembro de 2011 foi condenado a três anos de prisão.

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