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Após 80 anos, morte de García Lorca é investigada

19 de agosto de 2016

Juíza argentina aceita denúncia e solicita à Espanha documentos relacionados ao fuzilamento do poeta. Corpo do escritor espanhol segue desaparecido.

Federico García Lorca
Foto: picture-alliance/akg-images

Em 19 de agosto de 1936, há exatos 80 anos, o poeta espanhol Federico García Lorca foi fuzilado à queima-roupa por fascistas espanhóis. Justamente nesta semana, uma juíza argentina, que há anos se ocupa de violações dos direitos humanos na Espanha durante o regime de Francisco Franco, aceitou investigar a desaparição do escritor, ocorrida dois dias antes de sua morte.

A juíza María Romilda Servini de Cubría aceitou uma denúncia apresentada pela Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH) e solicitou à Espanha o envio de documentos sobre a detenção e a morte do poeta, cujo corpo permanece desaparecido.

A denúncia transferiu à magistrada um relato que comprovava "de maneira indubitável" as circunstâncias da detenção, em Granada, e do assassinato do poeta, a partir de um relatório da Chefia Superior de Polícia de Granada datado de 9 de julho de 1965.

O documento mostrou pela primeira vez a versão oficial do regime franquista sobre a morte do poeta. O texto aponta que García Lorca foi fuzilado junto com outra pessoa e define o poeta como "socialista e maçom", além de lhe atribuir "práticas de homossexualidade".

O relatório situa a detenção do poeta entre os últimos dias de julho e os primeiros de agosto de 1936, como resultado de uma ordem procedente do governo civil. A denúncia afirma que García Lorca foi conduzido em um carro até o município de Víznar, junto com outro detido, e que "ambos foram fuzilados".

Crime contra a humanidade

A ARMH considera que o caso está num "contexto de crimes contra a humanidade" e que "é indispensável" contar com toda a documentação relacionada a estes fatos que possa ser encontrada nos arquivos do Ministério do Interior espanhol.

A juíza argentina solicitou cópias certificadas de documentos da Terceira Brigada Regional de Investigação Social e da Sede da Polícia de Granada, que devem estar nas mãos do Ministério do Interior espanhol. A magistrada pediu ainda qualquer outra "documentação dos arquivos relativa à detenção e ao homicídio de García Lorca".

O caso foi incorporado à causa que Servini de Cubría investiga por crimes contra a humanidade, disse a AMPH em sua conta no Facebook. A juíza já investigou diversos casos apresentados por familiares de desaparecidos e mortos durante a Guerra Civil espanhola e o franquismo.

Lorca pertence à chamada "geração dos poetas de 1927", que popularizou a lírica espanhola em todo o mundo. Em 1928, publicou o Romanceiro Cigano, seu trabalho de maior sucesso. Nos anos seguintes, Lorca passaria a ser conhecido como renovador do drama no país com a publicação de peças como Mariana Pineda (1928), Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1933-1936).

Em setembro passado, arqueólogos retomaram as busca pelo corpo do poeta em Granada, no sul da Espanha.

LPF/efe/rtr/dpa