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Após anos de tensão, Alemanha e Turquia buscam reaproximação

6 de setembro de 2018

Recebido em Ancara por Erdogan e mais autoridades, ministro alemão do Exterior diz que ambos países estão determinados em retomar relações amistosas. Preocupação com escalada na Síria é ponto de acordo entre os governos.

Os ministros do Exterior turco, Mevlüt Çavusoglu, e alemão, Heiko Maas, em Ancara
Os ministros do Exterior turco, Mevlüt Çavusoglu, e alemão, Heiko Maas, em AncaraFoto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka

A Alemanha e a Turquia, que vivem um período tumultuado em suas relações bilaterais, desejam cooperar para restaurar e fortalecer seus laços, afirmou nesta quarta-feira (05/09) o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, em sua primeira visita oficial ao país euroasiático.

Em Ancara, Maas se reuniu com seu homólogo turco, o ministro Mevlüt Çavusoglu, com quem discutiu os passos a serem tomados para a normalização dos laços, bem como questões regionais e os mais recentes desenvolvimentos na cidade síria de Idlib.

"A Turquia é mais do que uma grande vizinha, é também uma importante parceira da Alemanha. Estamos determinados a trabalhar para melhorar nossas relações", afirmou o alemão, que foi recebido também pelo primeiro-ministro Binali Yildirim e pelo presidente Recep Tayyip Erdogan.

Berlim, contudo, tem pressionado pela soltura de sete cidadãos alemães detidos por motivos políticos na Turquia. Çavusoglu, por sua vez, se recusou a aceitar pré-requisitos para um processo de reaproximação. "Não pode haver condições ou barganhas durante a normalização", disse.

As relações entre a Alemanha e a Turquia estão há tempos fortemente desgastadas devido, entre outras razões, à detenção de alemães sob suspeitas de terrorismo.

Desde a tentativa de golpe de Estado, há dois anos, as autoridades turcas vêm reprimindo supostos seguidores do clérigo muçulmano Fethullah Gülen – que o governo diz ser culpado pelo golpe fracassado – e também outras figuras de oposição. Vários jornalistas estão presos no país.

Maas tem insistido repetidamente na libertação dos presos políticos alemães. "Esses casos devem ser resolvidos", afirmara o ministro na semana passada. Em Ancara, no entanto, ele evitou dizer se a soltura é um dos pré-requisitos da Alemanha para a retomada dos laços com a Turquia.

Em entrevista ao lado de Çavusoglu, Maas afirmou apenas que conversou sobre a questão com seu homólogo, e que ambos concordaram em "manter contato" sobre o tema. "Nós vivenciamos situações que nunca quisemos que acontecessem. Não queremos retornar àqueles dias", reiterou o ministro turco do Exterior, em referência às relações estremecidas com Berlim.

Maas foi recebido também pelo presidente turco, Recep Tayyip ErdoganFoto: picture-alliance/AA/M. Kula

Crise na Síria

Entre os assuntos mais importantes da visita de Maas à Turquia esteve um tema sobre o qual ambos os governos estiveram de acordo: a iminente catástrofe humanitária em Idlib. O regime sírio, com apoio da Rússia e do Irã, vem preparando uma ofensiva para retomar a cidade, que é o último reduto dos rebeldes contrários ao presidente Bashar al-Assad.

"Este não é apenas um problema da Turquia. É uma questão mundial, tanto em termos de segurança como de humanidade", afirmou Çavusoglu, que antes do encontro com Maas condenara os ataques aéreos russos contra a cidade no noroeste da Síria.

O ministro alemão, por sua vez, afirmou que seu país "fará de tudo para apoiar aqueles que buscam uma solução política na Síria" e para evitar uma iminente catástrofe humanitária em Idlib.

"Nós sempre estivemos no mesmo lado que a Alemanha em relação à questão síria. A postura sincera que a Alemanha demonstrou neste processo é louvável", respondeu o turco.

Çavusoglu, contudo, apelou por uma melhor cooperação com Berlim e a União Europeia (UE) na questão dos refugiados, afirmando que a atual colaboração entre as potências, apesar de existente, é "inadequada".

Ancara teme que um grande número de pessoas possa chegar ao país em caso de uma ofensiva em Idlib, uma cidade onde vivem, além de milhares de rebeldes, cerca de 3 milhões de civis. A Turquia já acolhe mais de 3 milhões de refugiados sírios, também por conta de um pacto migratório com a UE.

Longe dos EUA, perto da Europa

Erdogan, agora um presidente com plenos poderes em seu país, tem dado passos para se reaproximar de alguns países europeus, enquanto se elevam as tensões com os Estados Unidos em relação a várias questões, incluindo a prisão de um pastor cristão.

A disputa diplomática e comercial com Washington, também um aliado na Otan, desencadeou uma crise cambial na Turquia, com a lira turca perdendo quase 40% de seu valor em relação ao dólar desde o início do ano.

Maas e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, rejeitaram a possibilidade de ajuda financeira à Turquia. Ancara, por sua vez, também não estaria atrás de tal contribuição para lidar com a crise, mas de mais investimentos.

O ministro alemão tem uma reunião marcada com executivos de empresas alemãs para esta quinta-feira. Estima-se que mais de 1.700 companhias da Alemanha estejam presentes na Turquia.

Maas, que faz sua primeira visita oficial ao país de Erdogan, e Çavusoglu partiram nesta quarta-feira para Istambul num jato do governo alemão. Também na quinta, os dois devem visitar uma escola alemã na cidade que neste ano celebra seu 150º aniversário.

A viagem de dois dias de Maas prepara o terreno para uma visita de Estado de Erdogan à Alemanha, em 28 e 29 de setembro, quando a almejada reaproximação deve ser discutida mais a fundo.

Antes disso, o genro do presidente, o ministro das Finanças Berat Albayrak, viajará a Berlim em 21 de setembro para uma reunião com seu homólogo alemão, Olaf Scholz. Já o ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, visitará a Turquia em outubro.

Anos de tensão

As relações entre Berlim e Ancara, já arranhadas devido à crise migratória, foram definitivamente abaladas quando o Parlamento alemão aprovou, em 2016, uma resolução que classifica de genocídio o massacre perpetrado há um século pelo Império Otomano contra a minoria armênia. O governo turco rechaçou a decisão como "um erro histórico".

Os laços se deterioraram ainda mais após Ancara reagir a uma tentativa de golpe militar, em julho de 2016, com detenções e demissões em massa.

A situação piorou quando autoridades de alguns países europeus, inclusive da Alemanha, impediram ministros turcos de realizarem comícios com expatriados turcos para promover um referendo que visava expandir os poderes do presidente – e que acabou favorável a Erdogan.

Um fator que particularmente afetou a relação entre Berlim e Ancara foi a prisão de uma série de cidadãos turco-alemães na Turquia, entre eles o jornalista Deniz Yücel, acusado de terrorismo. A Alemanha deixou claro que a detenção de Yücel era um obstáculo para melhorar as relações bilaterais. O jornalista acabou sendo libertado em fevereiro, após um ano preso.

O ano seguinte ao golpe de Estado fracassado, 2017, foi marcado por uma nova escalada das tensões, com Ancara acusando Berlim de "práticas nazistas" e Merkel de populismo e de apoiar terroristas. Em meio à crise diplomática, o governo alemão endureceu as advertências de viagem de seus cidadãos à Turquia.

EK/afp/dpa/rtr

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