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Após as bombas, as empresas americanas

Rolf Wenkel /am28 de abril de 2003

A reconstrução do Iraque será uma verdadeira mina de ouro para algumas empresas. Mas o mais importante é que a economia mundial livrou-se das incertezas impostas pela crise do Iraque.

Apesar das turbulências ainda existentes, a paz no Iraque favorece a economia mundialFoto: AP

A reconstrução do Iraque deverá valer ouro para o próximo balanço de algumas firmas, na sua maior parte americanas. Os críticos afirmam, com razão, que a forma adotada pelos Estados Unidos para a licitação das obras de infra-estrutura desrespeitam inteiramente as regras estabelecidas pela OMC – Organização Mundial do Comércio.

O conceituado diário New York Times avaliou da seguinte forma a situação: "A conquista, a ocupação e a reconstrução do Iraque custarão aos contribuintes americanos mais de 100 bilhões de dólares. Empresas com contatos políticos, como a Halliburton, estão entre as ganhadoras do primeiro momento. Isto aparenta um favorecimento aberto e liquida os esforços do governo Bush, de apresentar a guerra como uma cruzada pelo desarmamento e pela democracia, e não como um caso de ganância."

Ex-chefe na vice-presidência

Vice-president norte-americano Dick CheneyFoto: AP

O fato de que a Halliburton tenha obtido enormes contratos para reconstruir a infra-estrutura petrolífera iraquiana parece, sem dúvida, um caso óbvio de favorecimento. Pois o vice-presidente dos Estados Unidos e uma das figuras-chave da administração Bush, Dick Cheney, foi durante cinco anos o presidente da Halliburton.

Por outro lado, há de se considerar que a infra-estrutura petrolífera do Iraque está inteiramente destruída, a reconstrução tem de ser iniciada o mais depressa possível e demorará vários anos. Além disto, esta tarefa só pode ser executada praticamente por empresas americanas, que dispõem da melhor tecnologia do setor. Até mesmo o Irã, inimigo figadal dos EUA, importa seus equipamentos e instalações petrolíferas de empresas americanas.

Esperança para os aliados

Também as empresas de países que apoiaram os Estados Unidos, direta ou indiretamente, na sua política para o Iraque podem ter esperança de negócios: como, por exemplo, as refinarias de Gdansk na Polônia ou a Urkneft – empresa petrolífera da Ucrânia. Um total de onze países do extinto bloco comunista da Europa oriental faz parte da lista americana dos que apoiaram o "desarmamento imediato do Iraque". E tais países serão beneficiados com encomendas para a reconstrução da infra-estrutura iraquiana.

Refinaria perto de BagdáFoto: AP

Uma coisa é certa: o futuro da indústria petrolífera iraquiana terá um significado decisivo para a reconstrução, a recuperação econômica e a amortização das dívidas externas do Iraque, avaliadas entre 100 e 120 bilhões de dólares. No entanto, ainda está inteiramente em aberto, até que ponto a indústria petrolífera iraquiana (que continua sendo estatal) permitirá a atuação de concorrentes estrangeiras, como Exxon, ChevronTexaco, BP ou Royal Dutch/Shell. Também não existe clareza, se as empresas petrolíferas da França e da Rússia, que antes possuíam acordos lucrativos durante o regime de Saddam Hussein, poderão continuar atuando no Iraque no futuro.

Excluídos da reconstrução

Em outros países, entre os quais a Alemanha, os políticos e dirigentes do setor econômico poderão lamentar que o processo de recuperação do Iraque não atenda às regras da OMC, mas isto não lhes adiantará muito. O presidente da Federação Alemã das Empresas da Construção Civil, Ignatz Walter, não espera "absolutamente nada" em termos de encomendas relacionadas com o Iraque. O que pode ser tomado como uma avaliação inteiramente realista.

Trabalhadores da construção civil, setor que enfrenta grave crise na AlemanhaFoto: bilderbox

Também Anton Börner, presidente da Federação Alemã de Comércio Exterior e Atacadista, afirma que "os aliados não deixarão que o cetro lhes seja tirado das mãos". A Alemanha só terá vez, quando o setor privado da economia iraquiana retomar suas atividades. Mas isto deverá tardar, no mínimo, um ano e meio. Até lá, somente as subsidiárias americanas de empresas alemãs é que poderão ter chance de receber alguma encomenda, ainda que pequena.

Também a avaliação de Anton Börner pode ser considerada bastante realista. Para o setor econômico alemão não adiantará lamentar. O lema agora é esperar o momento certo. Quando o setor civil no Iraque retomar o caminho da expansão, então as boas relações econômicas tradicionais com empresas alemãs e francesas voltarão a dar frutos.

Um dos países mais ricos do mundo

Em princípio, o Iraque é um dos países mais ricos do mundo, possuindo a segunda ou terceira maior reserva mundial de petróleo. Assim que for reiniciada a exploração das jazidas, o país poderá ter uma renda anual entre 18 e 25 bilhões de dólares, dependendo da quantidade exportada e do preço do óleo bruto no mercado internacional, de acordo com os cálculos de especialistas do setor.

Por mais que algumas empresas enriqueçam no Iraque – por exemplo, na reconstrução dos aeroportos e do abastecimento de água e das redes de esgoto – e apesar das perspectivas positivas de uma sólida base financeira para o país, o processo do pós-guerra deverá ter pouca influência direta na economia mundial. Os fatores psicológicos desempenham nisto um papel preponderante.

O que paralisou a economia mundial durante meses foram os conflitos que precederam a guerra no Iraque. Eles geraram um compasso de espera, com uma drástica suspensão dos investimentos em todo o mundo. Esta incerteza terminou agora, da mesma maneira como a ameaça de uma terceira crise do petróleo, comparável às das décadas de 70 e 80 do século passado. Quanto a isto, a economia mundial livrou-se de duas enormes preocupações. A paz no Iraque criou melhores condições para que a conjuntura internacional retome o caminho do crescimento.