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Após ataque no Paquistão, começa "jogo de sobrevivência" para talibãs

Gabriel Domínguez (av)16 de dezembro de 2014

Em entrevista à DW, o especialista em risco nacional Omar Hamid aposta que Exército paquistanês reforçará o combate aos militantes depois do atentado que matou dezenas de crianças no noroeste do país.

Foto: Reuters/K. Parvez

Pelo menos 141 pessoas, incluindo 132 crianças, foram mortas nesta terça-feira (16/12) e dezenas ficaram feridas, quando militantes talibãs invadiram uma escola pública na cidade de Peshawar, no noroeste do Paquistão.

Calcula-se que cerca de 500 estudantes entre 10 e 18 anos de idade se encontravam pela manhã no prédio, quando começou um dos mais sangrentos atentados dos últimos anos no país. Os terroristas, que entraram atirando a esmo, também tomaram como reféns centenas de alunos e professores.

O ato foi reivindicado pelo movimento Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), que desde 2007 lidera uma guerra violenta contra o governo em Islamabad. O grupo alegou tratar-se de uma retaliação pela continuada ofensiva do Exército paquistanês contra os militantes na área tribal do Waziristão do Norte, próximo a Peshawar. Islamabad vem combatendo os fundamentalistas islâmicos do país há mais de uma década.

Em entrevista à DW, Omar Hamid, diretor do departamento de avaliação de risco nacional para a Ásia-Pacífico da firma de análise global IHS, afirma que o presente atentado só reforçará a determinação do Exército em seu combate. Para o TTP, começa um jogo de sobrevivência.

DW: Por que foi escolhido esse alvo e por que agora?

Omar Hamid: Trata-se de uma escola pública administrada pelo Exército, ao qual pertence a maioria dos pais dos alunos. Assim, ela representa um alvo não militar que atinge diretamente as Forças Armadas. Como disse o porta-voz do TTP: eles queriam que o Exército sentisse a dor deles.

A estrutura do ato é muito semelhante à de atentados de alta projeção anteriores. Em especial o de 2009, contra o quartel-general do Exército, em que o TTP usou uniformes militares para passar pelo controle de segurança. Ou, antes desse, os ataques a colégios de cadetes em Razmak, no Waziristão do Norte.

Omar Hamid é especialista em risco nacional da firma IHS de análise globalFoto: IHS

De que forma o atentado está relacionado à operação em curso, das Forças Armadas contra os militantes da área tribal do Waziristão do Norte próxima a Peshawar?

Não há dúvida que a operação do Exército enfraqueceu as capacidades do TTP. Por isso, foi escolhido um alvo relativamente próximo às áreas tribais, ou seja, em Peshawar. O propósito é vingar-se pela operação militar e tentar abalar a determinação dos comandantes.

Os militares paquistaneses haviam alegado que os militantes estavam significativamente debilitados. Como o senhor vê essa afirmativa, depois deste atentado?

Embora debilitado, o TTP possui a capacidade de perpetrar ataques como este. Provavelmente seria mais difícil para eles realizar um mais longe de sua área de operações, por exemplo, na província de Punjab. Mas Peshawar é facilmente acessível a partir das áreas tribais e, portanto, um alvo óbvio.

Como o Tehreek-e-Taliban Pakistan será visto no país depois desse massacre de crianças?

Acho que há algum tempo a opinião pública paquistanesa já se voltou contra o TTP. Mas é claro que alguns elementos ainda defendem as conversações de paz. Contudo, desde o início da operação militar, em julho de 2014, não tem realmente havido apetite para negociações.

De fato: ao visitar Washington no mês passado, o chefe do Estado-maior paquistanês, general Raheel Sharif, declarou publicamente que não cogitava qualquer tipo de negociação com militantes que tinham jogado futebol com as cabeças dos soldados dele.

Ataque talibã a escola no Paquistão

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Acho que esse ataque vai fortalecer ainda mais a determinação do Exército, e é de se contar com a condenação bastante generalizada do TTP. Para o grupo, trata-se agora de um jogo de sobrevivência, e ele vai propagar tais atentados na esperança de que sua barbárie enfraqueça a resolução dos militares.

Que impacto esse atentado deverá ter sobre governo do primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif?

O agente principal, no que tange o antiterrorismo, é o Exército. O TTP também está ciente disso, e, por isso, a escolha de um alvo relacionado à instituição. O Exército tomará a dianteira, qualquer que seja a reação, e é improvável que o governo o impeça de algum modo.

Uma das principais mudanças decorrentes da desestabilização política do governo Sharif nos últimos meses é que ele praticamente entregou às Forças Armadas a responsabilidade pela segurança e pela política do país em relação ao Afeganistão. Sharif está sendo criticado por algumas alas por ter postergado a ação do Exército em seis meses. Mas, de forma semelhante, alguma culpa recairá sobre seus adversários do partido PTI, de Imran Khan, que governa a província de Khyber-Pakhtunkhwa, que demonstram favorecer de certa maneira o TTP.

Ataque a escola deixou dezenas de crianças mortas e dor nas famíliasFoto: Reuters/F. Aziz

De que modo um Talibã mais forte no Paquistão influenciará a situação no Afeganistão?

A questão do Talibã no Paquistão está enredada com o Afeganistão, pois é provável que Islamabad exija ação dos Estados Unidos e dos afegãos contra a liderança dos talibãs paquistaneses no leste do Afeganistão, como uma retribuição por apoiar ou impelir os talibãs afegãos no sentido de conversações de paz.

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