Após decapitação de francês, Paris cogita aderir à ofensiva na Síria
25 de setembro de 2014
Ministro da Defesa admite que França, que no momento atua apenas no Iraque, estuda ampliar ofensiva contra extremistas. Bombardeios dos EUA miram refinarias e deixam pelo menos 19 mortos.
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Após a decapitação de um turista francês por extremistas ligados ao "Estado Islâmico" (EI) na Argélia, o ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian, disse nesta quarta-feira (25/09) que está sendo estudada a possibilidade de o país se unir aos Estados Unidos na ofensiva aérea na Síria.
A França aderiu à coalizão internacional que combate o "Estado Islâmico" no Iraque, com base em um pedido de ajuda de Bagdá. Mas vem sendo reticente quanto a se juntar aos ataques também na Síria, preferindo apoiar a oposição moderada ao ditador Bashar al-Assad.
"A possibilidade está sobre a mesa", disse Le Drian, sobre aderir à ofensiva na Síria. "Mas já temos uma importante tarefa no Iraque, e vamos ver nos próximos dias como a situação se desenvolve."
Na quarta-feira, o presidente dos EUA, Barack Obama, usou seu discurso na Assembleia Geral da ONU para emitir um chamado global para que os países se unam à coalizão liderada pelos americanos.
Novos ataques
Segundo Le Drian, a França está em busca dos autores da decapitação. Ele reconheceu haver uma preocupação com as dezenas de milhares de cidadãos franceses que vivem na Argélia.
O presidente François Hollande convocou para esta quinta-feira uma reunião de emergência do gabinete para discutir o assunto. Na quarta, na Assembleia Geral da ONU, ele disse que a França não aceita chantagem, após os radicais exigirem o fim das operações no Iraque. "A luta contar o terrorismo precisa continuar e avançar", disse Hollande.
O assassinato do turista Hervé Gourdel, de 55 anos, aconteceu dias após o "Estado Islâmico" convocar seus seguidores a continuarem com as decapitações de cidadãos ocidentais de países envolvidos nos bombardeios na Síria e no Iraque. A declaração fez menção aos "franceses sujos e perversos".
Os ataques aéreos dos Estados Unidos na Síria na quarta-feira tiveram como alvo refinarias de petróleo controladas pelo "Estado Islâmico" no leste do país. Foram realizados 13 ataques, contra 12 refinarias e um veículo dos extremistas, que foi destruído.
Segundo a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos, pelo menos 19 extremistas foram mortos nos ataques americanos e de seus aliados na madrugada de quarta para esta quinta-feira.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.