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Após denúncia de racismo, colégio em SP expulsa alunos

5 de novembro de 2022

Estudantes trocaram mensagens racistas e de cunho nazista em grupo, e caso foi denunciado à agência do governo alemão responsável por escolas alemãs no exterior. Porto Seguro diz que oito alunos foram desligados.

Mensagens trocadas por alunos do Colégio Porto Seguro, segundo postagem da mãe de um aluno vítima de racismo

O Colégio Visconde de Porto Seguro em Valinhos, no interior de São Paulo, disse que expulsou alunos envolvidos em trocas de mensagens de cunho racista, nazista, homofóbico e misógino em rede social, depois que um advogado e ex-aluno da instituição enviou uma carta denunciando o caso à agência do governo da Alemanha responsável por escolas alemãs em outros países.

Em comunicado enviado à DW Brasil, a escola disse que repudia "toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, os quais afetam diretamente nossos valores fundamentais".

"Nesse sentido, o colégio aplicou aos alunos envolvidos as sanções disciplinares cabíveis nos termos do Regimento Escolar, inclusive a penalidade máxima prevista, que implica seu desligamento imediato desta instituição", diz a nota.

O caso ocorreu no domingo, após o resultado das eleições, quando um aluno negro de 15 anos foi adicionado a um grupo no WhatsApp chamado "Fundação Anti Petismo". No grupo com mais de 30 participantes, os estudantes trocam mensagens racistas, homofóbicas e de conteúdo nazista, além de compartilhar imagens e frases de Adolf Hitler e Benito Mussolini.

No grupo, os alunos defenderam a morte de nordestinos e a "reescravização do Nordeste" e organizaram uma manifestação golpista contra o resultado das eleições, programada para ocorrer no colégio no dia seguinte.

Ao ver uma publicação com a imagem de Hitler e os dizeres "Se ele fez com judeus, eu faço com petistas", o estudante negro alertou que aquilo era crime e foi bloqueado. Ele sofreu posteriormente ataques racistas no Instagram.

Na carta enviada na quinta-feira (03/11) à agência alemã, o advogado brasileiro Frederico Reichel pediu que medidas fossem tomadas rapidamente e ressaltou que uma escola de alunos de classe alta não poderia privilegiar ainda mais seus estudantes só para preservar a sua reputação institucional.

"Por isso, peço encarecidamente que a agência exija do colégio uma estratégia clara para lidar e prevenir tais incidentes", finaliza a carta. Reichel foi aluno do Colégio Visconde de Porto Seguro de 1990 a 1998.

A resposta do colégio

Após a denúncia, o Porto Seguro disse ter feito uma apuração interna do caso e expressou sua "consternação e indignação com o conteúdo de caráter racista, antissemita e misógino" das mensagens trocadas pelos alunos na rede social.

Além de desligar os estudantes envolvidos no caso, a instituição se comprometeu a reforçar suas práticas de "conscientização e respeito à diversidade".

"Considerando o atual contexto de intolerância e violência verificado em nossa sociedade, o qual se reflete nas famílias e grupos de amigos, em vista dos fatos recentes, o colégio reforçará suas práticas antirracistas, de conscientização e respeito à diversidade, em todos os câmpus, abordando o assunto de forma ainda mais contundente em suas pautas cotidianas, com iniciativas envolvendo a comunidade escolar, inclusive com apoio de consultoria especializada, para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa", diz a nota.

O colégio expressou ainda "solidariedade e apreço a todos que foram ofendidos" e disse que continuará prestando o devido acolhimento aos alunos e famílias.

Em nota enviada à DW na sexta-feira, o Consulado Geral da Alemanha em São Paulo, afirmou: "O governo federal da Alemanha condena qualquer forma de discriminação racial ou antissemita. Os temas nazismo e racismo, assim como discriminação, são abordados regularmente nas escolas alemãs no exterior, especialmente no Colégio Porto Seguro."

"Primeira batalha foi vencida"

A advogada Thais Cremasco, mãe do aluno de 15 anos vítima de racismo, publicou um vídeo nas redes sociais ao lado dos filhos em que agradeceu o apoio que recebeu. Ela disse ainda que a "primeira batalha foi vencida", mas que a luta continua.

Em entrevista à DW Brasil, ela atribuiu o desligamento dos alunos à pressão exercida sobre o colégio, que já teria sido omisso em outros casos de racismo dentro da instituição.

"Acredito que o desligamento aconteceu justamente pelo apoio que eu tive de outras mães do Brasil inteiro, de outras unidades [do Porto Seguro]", afirma Cremasco.

"É uma pena que precise acontecer tudo isso para que uma atitude tão simples, que é punir um crime de racismo, seja concretizada. Mas como tem um histórico de eles já terem sofrido racismo outras vezes na escola e nenhuma medida ter sido tomada, eu acredito que, desta vez, aconteceu isso por conta das pressões."

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

ek,lja (DW, ots)