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Energia nuclear

29 de março de 2011

Antes a favor das usinas nucleares, coalizão de governo agora debate o fechamento das centrais alemãs. Merkel diz que o desastre no Japão a fez repensar suas posições sobre os riscos da energia atômica.

Merkel quer amplo debate sobre energia, incluindo a oposiçãoFoto: dapd

A coalizão de governo alemão aparentemente quer ganhar de volta a confiança do eleitorado com uma rápida desativação da energia nuclear do país. O secretário-geral do Partido Liberal (FDP), Christian Lindner, pediu nesta terça-feira (29/03) o desligamento permanente das usinas nucleares desligadas pelo governo em caráter temporário. Também na CDU (União Democrata Cristã) cresce o apelo por uma rápida desativação das centrais atômicas.

De acordo com um porta-voz do FDP, Lindner se disse a favor de um acordo imediato com a indústria nuclear para desativar as usinas mais antigas.

Os democrata-cristãos – parceiros dos liberais na coalizão – receberam a sugestão de Lindner com cautela. Um porta-voz do partido lembrou que existe uma moratória de três meses, durante a qual a segurança das centrais nucleares alemãs deve ser verificada. Somente após as avaliações, agendadas para terminarem em meados de junho, o governo alemão deve decidir sobre o futuro das usinas paralisadas.

Secretário-geral do FDP, Christian LindnerFoto: dapd

O assunto é controverso entre os democrata-cristãos. O líder do partido no Parlamento alemão, Volker Kauder, alertou para "decisões precipitadas". Já o governador da Baixa Saxônia, David McAllister, pediu um rápido desligamento das centrais nucleares. "Devemos renunciar à energia atômica de forma mais rápida do que o planejado atualmente", afirmou.

O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, confirmou na segunda-feira ser a favor de que a vida útil das usinas nucleares seja reduzida "o mais rapidamente possível", contanto que a mudança seja "razoável e economicamente viável".

Já a oposição social-democrata e verde exige que as oito usinas paralisadas permaneçam desligadas e que o fornecimento de energia restante não seja transferido para instalações atômicas mais recentes.

Mudança de política não evitou derrota nas urnas

Após o início da crise nuclear de Fukushima, no Japão, o governo alemão decidira inspecionar a segurança das 17 usinas nucleares do país e desativar temporariamente os sete reatores atômicos mais antigos da Alemanha. Além disso, a central de Krümmel, pertencente à nova geração de reatores, já está desligada desde 2007, em decorrência de uma série de panes.

A decisão não evitou a derrota dos partidos que compõem a coalizão de governo alemão nas eleições regionais realizadas no último fim de semana nos estados de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado. As disputas foram vencidas pela oposição, com amplo crescimento do Partido Verde, em campanhas eleitorais marcadas pela discussão em torno da energia nuclear.

Amplo diálogo político

A chanceler federal Angela Merkel anunciou um amplo diálogo político sobre a futura política energética alemã. Além das verificações de segurança das usinas, devem ser realizadas conversações com a oposição, segundo Merkel. A chanceler lembrou a reunião com todos os governadores do país, agendada para 15 de abril, na qual será discutido um rápido desenvolvimento das fontes de energia renováveis.

"Nas próximas semanas vamos debater de forma intensa uma nova política energética", declarou a premiê. "Isso inclui decisões fundamentais sobre política energética". Merkel, que é física, reiterou seu apoio à energia nuclear, mas disse que o desastre no Japão a forçou a repensar os riscos associados à tecnologia.

"Minha percepção sobre a energia nuclear se alterou com os acontecimentos no Japão", disse a chanceler federal. Ela disse que mudou principalmente seu ponto de vista em relação aos riscos envolvidos e ao que pode acontecer.

Ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert RöttgenFoto: dapd

Reviravolta teria desagradado eleitores conservadores

O conselho empresarial da CDU alertou o partido contra uma saída precipitada. "É preciso observar todo o contexto da economia, segurança e abertura tecnológica", disse o presidente da entidade, Kurt Lauk. A mudança da política nuclear do governo provocou, segundo ele, a insatisfação de muitos eleitores tradicionais dos democrata-cristãos.

O deputado democrata-cristão Joachim Pfeiffer, especializado em questões econômicas, é contra o fim rápido das usinas nucleares na Alemanha. Segundo ele, a competitividade da indústria do país pode ficar comprometida com o fim da energia atômica. Ele lembrou que atualmente a Alemanha tem 80% de sua energia de fontes não renováveis.

Já o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, atribui a derrota recente do partido nas eleições regionais em Baden-Württenberg à falta de força de persuasão do governo na política nuclear. O político, também democrata-cristão, vê como correta a moratória nuclear determinada por Merkel. "Foi absolutamente correto e necessário reconsiderar nossa posição após os eventos no Japão. Depois de um evento como esse, não podemos simplesmente continuar como antes", afirmou.

MD/afp/dpa
Revisão: Alexandre Schossler

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