Maus hábitos de motoristas e baixa aplicação da legislação ameaçam segurança do trânsito no país, que registra 40 mil mortes em acidentes por ano. Fiscalização é mais eficiente em grandes cidades.
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O Brasil lota um estádio de futebol por ano com o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito. São cerca de 40 mil pessoas mortas. A ingestão de bebida alcoólica fica atrás apenas de falha humana nas causas de acidentes de trânsito, segundo especialistas.
A Lei Seca, que completa dez anos nesta semana, cumpriu um papel fundamental ao estabelecer regras e penas para motoristas infratores, mas números indicam que o país ainda está bem distante do objetivo de transformar suas vias em locais seguros.
Em janeiro de 2008, um decreto presidencial dava o tom do que seria a futura Lei Seca. No texto, o Governo Federal proibia a venda de bebida alcoólica em rodovias federais ou faixas de acesso a rodovias. Em 20 de junho daquele ano passaria a vigorar a Lei Seca, diminuindo o limite de ingestão alcoólica para 0,2g/L no sangue, menos do que um copo de cerveja.
Se fosse flagrado em alguma blitz com mais do que o permitido, o motorista teria que pagar multa gravíssima, no valor de 955 reais, e ficar sem permissão para dirigir por um ano.
Com o tempo, a legislação ficou ainda mais restritiva. Em 2012, passou a valer a tolerância zero para álcool e trânsito, e as multas dobraram. Também passou a valer a prova testemunhal de agentes de trânsito contra os motoristas.
Apesar de regras atualizadas e mais restritivas, os números nacionais pioraram na última década. A última tentativa de aperfeiçoar a lei foi em abril deste ano, com o aumento da pena de três para cinco anos se um acidente provocado pela ingestão de álcool deixar feridos. A pena pode chegar a oito anos se houver vítima fatal.
"Não foi acidente"
Essa mudança foi proposta pelo movimento popular "Não foi acidente", formado por familiares e amigos de vítimas de acidentes de trânsito. Ainda em 2013, eles reuniram mais de 1 milhão de assinaturas para apresentar a proposta de alteração de lei no Congresso.
"Eu perdi um grande amigo em um acidente provocado por alguém que bebeu e dirigiu. Há várias pessoas que têm uma história parecida. Foi isso que me fez entrar no 'Não foi acidente'", afirma Avair Rosa Gambel, um dos líderes do movimento.
"Nós buscamos uma lei mais severa, porque entendemos que assim podemos diminuir a violência que existe no trânsito brasileiro. Infelizmente, adulto só aprende com punição", acrescenta.
Nos quatro primeiros meses de 2018, apenas em rodovias federais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou mais de 300 mortes em acidentes provocados por condutores que haviam ingerido bebida alcoólica.
Por isso, apesar de a proposta de mudança da Lei Seca ter sido aprovada e estar em vigor, Avair ressalta que o caminho para resolver os problemas de trânsito no país ainda é longo e requer mais rigidez por parte das autoridades.
"No começo de junho, registramos em um mesmo dia dois casos em São Paulo. Foram dois acidentes parecidos com morte no trânsito, mas apenas um caso foi enquadrado como homicídio doloso, quando há a intenção de matar. Coincidentemente, no caso que não foi considerado doloso pelo delegado que registrou a ocorrência, o motorista tinha recursos e um advogado", aponta Avair.
"É preciso combater essa visão de que é possível beber e não ser enquadrado como doloso. Para isso, apenas a lei não resolve, os agentes de segurança precisam ser mais rígidos", considera.
Lei não chegou ao interior do país
Em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, a blitz noturna mudou a rotina de quem aproveita a sexta-feira ou o fim de semana para tomar uma cerveja. De acordo com o Detran/RJ, o número de mortos por 100 mil habitantes na capital carioca diminuiu 28,4% desde o surgimento da Lei Seca.
No entanto, a realidade nacional foi na contramão. De acordo com o mais recente Global Status Report on Alcohol and Health, estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, o número de mortos por 100 mil habitantes no Brasil aumentou de 18,3 em 2006 para 23,4 em 2013.
Para o professor do departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Jorge Tiago Bastos, que faz pesquisas em conjunto com o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), a falta de estrutura dos órgãos de trânsito limita a aplicação da Lei Seca.
"É difícil analisar, pois não há uma plataforma unificada dos registros de blitz no país, muito menos da Lei Seca. Mas é nítido que cidades maiores recebem mais atenção. As experiência mais maduras que encontramos no país ocorrem em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, todas grandes cidades", afirma.
"Um município pequeno do interior não tem nem agentes de trânsito suficientes para realizar uma blitz. Não seria exagero dizer que provavelmente algumas cidades do país nunca tiveram uma blitz da Lei Seca", acrescenta.
Tolerância zero
No relatório da OMS, o Brasil aparece como um dos poucos países com lei que prevê tolerância zero para bebida alcoólica. Estados Unidos e Alemanha, por exemplo, ainda permitem uma quantidade mínima de álcool no sangue.
No entanto, enquanto no Brasil há 40 mil mortes por ano no trânsito, EUA e Alemanha somados contabilizaram um total de 36 mil vítimas fatais de trânsito em 2013, ano do estudo.
"Acompanhando relatórios mundiais, vemos que a legislação brasileira está em um bom caminho. No entanto, a fiscalização ainda é falha", afirma Bastos. "Talvez um caminho seja reforçar a formação dos condutores no país e, claro, educar as crianças para que a gente perca essa cultura de que beber e dirigir é algo aceitável."
De acordo com o último relatório elaborado pela UFPR com o ONSV, mesmo em concentrações pequenas no sangue, o álcool já causa perda de reflexo e aumenta o tempo de reação no trânsito. Após um copo de 500 ml de cerveja, o risco de acidente aumenta até 35 vezes.
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Peculiaridades do trânsito na Alemanha
Para dirigir na Alemanha é preciso conhecer alguns aspectos que são diferentes no Brasil. Confira dicas para guiar bem e ficar dentro da lei de trânsito no país da Autobahn.
Foto: imago/blickwinkel
Afinal, eu posso dirigir?
A carteira de motorista estrangeira, como a brasileira, vale por até seis meses após a chegada na Alemanha. Depois disso, é preciso tirar uma habilitação alemã (Führerschein). Como brasileiros, temos a vantagem de não precisar, obrigatoriamente, tomar aulas na auto-escola, mas elas são recomendáveis. A carteira internacional também perde a validade depois de seis meses.
Foto: Jürgen Fälchle - Fotolia
Retrovisor, grande amigo
Bicicletas estão por todo lado, menos na Autobahn. Por isso, o motorista sempre tem de conferir os pontos cegos do veículo antes de mudar de faixa, dobrar uma rua ou estacionar. Não se envergonhe de usar todos os espelhos e virar bem o pescoço para conferir se não tem ninguém mesmo vindo atrás.
Foto: Imago/Seeliger
Seta verde
Quando não houver sinalização especificando a preferencial, quem vem da direita sempre tem prioridade. Uma peculiaridade é a seta verde (Grüner Pfeil) em alguns semáforos. Quando o sinal está vermelho, ela permite dobrar à direita se o trânsito permitir. Mas, atenção, é obrigatório parar antes de dobrar.
Foto: picture-alliance/dpa
O caminho para a esquerda
As conversões à esquerda funcionam de forma diferente. Nas vias brasileiras, vamos para o acostamento para cruzar a pista. Na Alemanha, ou existe uma faixa central somente naquele trecho ou o motorista aguarda na própria pista e espera a chance de entrar na pista transversal.
Foto: picture-alliance/dpa
Faixa de segurança
Pode ser que no Brasil ela não seja levada ao pé da letra, mas na Alemanha a faixa de segurança (Zebrastreifen) é respeitada.
Foto: picture-alliance/dpa
Regra do zíper
Há mais de 40 anos, foi introduzida no trânsito alemão a regra do zíper (Reißverschlussverfahren). Quando pistas convergem para uma só, os especialistas recomendam ir até o final para só então entrar na nova pista, alternadamente, carro a carro. Quem pensa que deve mudar já bem antes de acabar a pista, se engana. Ele acaba atrapalhando ainda mais o trânsito.
Foto: picture alliance/Roland Witschel
Limites de velocidade
Engana-se quem pensa que não há restrição de velocidade na Alemanha. Enquanto na Autobahn, caso não haja nada especificado, a velocidade recomendada é 130 km/h (a mínima é de 60 km/h), nos perímetros urbanos, o limite é de 50 km/h e em alguns locais de 30 km/h. Em vias secundárias, de pista simples, a velocidade permitida varia de 70 km/h a 100 km/h.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Förster
Não pare na pista
Nas placas de estacionamento (foto), a seta indica exatamente onde começa a proibição. Há ainda outras, que mostram o final do trecho, o meio da área de estacionamento ou os horários em que ele é permitido. Outro recurso é o disco de estacionamento (Parkscheibe), colocado dentro do carro com o horário de chegada. Ele só pode ser usado onde está especificado por quanto tempo é gratuito estacionar.
Foto: picture alliance
Colete refletor, triângulo e primeiros socorros
Todo carro que circula na Alemanha precisa ter um kit de primeiros socorros, um triângulo de sinalização e ao menos um colete refletor. Extintor de incêndio não é obrigatório. Na época de frio, chuva e neve, pneus de inverno são obrigatórios. E nos locais que ficam perigosos quando a via está coberta por neve, há placas mostrando a obrigatoriedade do uso de correntes de neve nas rodas.
Foto: picture-alliance/dpa/Themendienst/M. Scholz
Cadê o frentista?
Nos postos de abastecimento alemães, não há! O próprio motorista se serve e informa o número da bomba ao caixa. Muitos lava-jatos também não têm atendentes. Outra diferença é que muitos carros são movidos a diesel, cujo preço é mais baixo, mas o imposto é mais alto. Alguns postos também oferecem etanol. E são cada vez mais comuns pontos para abastecer carros elétricos.
Foto: picture-alliance/dpa
Passagem de sapos
Em épocas específicas do ano, podem ser vistas placas de trânsito para proteger animais, como esta, advertindo que sapos atravessam a faixa.
Foto: picture alliance/ZB
Preocupação com o ambiente
Desde 2008, as principais cidades alemãs têm zonas urbanas de atmosfera protegida (Umweltzone), onde não podem transitar carros muito poluentes. Para controlar isso, os veículos precisam ter um selo no para-brisa, nas cores verde, amarelo ou vermelho, de acordo com as emissões de poluentes pelo veículo.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Sem pedágios
A Alemanha não cobra pedágio para circulação, ao contrário de muitas nações vizinhas. É um dos poucos países onde carros de passeio podem viajar livremente sem pagar. Já para caminhões existe um sistema de pedágio nas autoestradas alemãs.
Foto: picture-alliance/dpa
O corredor de salvamento
Em caso de acidente ou de uma emergência na Autobahn, os motoristas devem obrigatoriamente criar um corredor para carros de polícia, ambulâncias e bombeiros. Já na auto-escola se aprende que este corredor, que precisa ser respeitado também em engarrafamentos, é aberto entre a faixa bem da esquerda e a seguinte.
Foto: picture-alliance/dpa
Motoristas na contramão
É comum algumas emissoras alemãs de rádio transmitirem informações sobre a situação do trânsito a cada meia hora. Algumas vezes, há advertências chocantes, sobre alguém que está vindo na contramão (Geisterfahrer, ou motorista fantasma). Ele pode ter intenções suicidas ou se enganou ao entrar na autoestrada. Neste caso, como é proibido retornar na Autobahn, ele precisa procurar a próxima saída.
Foto: imago/blickwinkel
Não tem psicotécnico
Para fazer uma carteira de motorista na Alemanha, não é preciso fazer o teste dos risquinhos. Mas é necessário ir ao oculista e ainda fazer a prova teórica e a prática. Antes das provas, há um curso obrigatório de um dia sobre primeiros socorros. Para o caso de brasileiros que já tenham carteira de habilitação, o primeiro passo é traduzi-la.
Foto: Bilderbox
Prova em português
Quem mora na Alemanha e pensa em pedir a licença para dirigir, pode escolher o idioma das provas teórica e prática. Entre as opções, estão inglês, espanhol e português. Mas fique atento: é português europeu, de Portugal. Não seja surpreendido por termos como "marcha-atrás" ou "mudança de velocidades".
Foto: DW/Victor Weitz
Carteira eterna
A boa notícia para passa nas provas de direção na Alemanha é que habilitação vale para sempre. A menos que você cometa uma infração grave, que implique a perda da licença para conduzir. Para conter falsificações, fotos muito velhas e evitar que quem perdeu a carteira não a faça em país vizinho, desde 2013 elas têm de ser renovadas a cada 15 anos. As de antes de 2013 devem ser trocadas até 2033.