Governo alemão aprova repasse de 660 milhões de euros ao Museu de História Natural da cidade. Com carência de recursos para obras necessárias, cerca de 70% do acervo e do prédio estavam há anos fechados para visitação.
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O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro foi uma tragédia de repercussão global. A notícia e as imagens do fogo consumindo séculos de história circularam no mundo todo, causando comoção e acendendo o alerta em instituições cujas condições de segurança também estavam em situações um tanto precárias.
Um destes alertas foi feito em Berlim. Após a tragédia brasileira, o diretor do Museu de História Natural da cidade, Johannes Vogel, escreveu um longo artigo no jornal local Tagesspiegel sobre a importância do Museu Nacional e os terríveis impactos do incêndio. No texto, lembrou ainda que a instituição carioca não era uma exceção em relação à situação de risco: muitos museus em todo o mundo enfrentavam problemas semelhantes, inclusive o que ele coordena.
Inaugurado em 1889, o museu é atualmente um dos mais visitados de Berlim, recebeu em 2016 mais de 820 mil visitantes. Apesar da popularidade, a instituição não tinha verba suficiente para fazer reformas necessárias, como restaurar algumas das salas que estavam no mesmo estado que ficaram no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Além disso, faltava um sistema moderno de proteção contra incêndio e também isolamento nas paredes do prédio para evitar umidade e alterações de temperatura que danificam os objetos.
Há anos, Vogel vem alertando sobre essa situação e lembrando que cerca de 70% do acervo e do prédio não tinham condições de serem abertos ao público. Outro problema era o armazenamento inadequado, do ponto de vista de conservação, que atingia grande parte dos 30 milhões de objetos que pertencem ao museu. Mas até então esses alertas constantes pareciam não chegar ou comover os governantes.
Em seu artigo sobre o incêndio no Rio, Vogel mencionou novamente esses problemas e, no final, fez um apelo a governantes e parlamentares para evitar uma tragédia semelhante na Alemanha.
Quem visita o museu, se depara com essa triste realidade. Muitas salas estão fechadas, outras parecem que se perderam no tempo. Mesmo assim, o passeio é enriquecedor. Entre as estrelas do museu estão a coleção de ossos de dinossauros e algumas das amostras colecionadas por Alexander von Humboldt e Charles Darwin. A instituição guarda ainda exemplares de 10% de todas as espécies conhecidas no mundo, inclusive algumas já extintas.
Depois de tantos apelos, finalmente, os governos federal alemão e local resolveram tomar uma atitude. Em meados da semana passada, foi anunciada uma verba extra de 660 milhões de euros para o museu, a partir de 2020. O dinheiro será repassado ao logo de dez anos.
Parte destes recursos será investida em reformas e restaurações necessárias, na ampliação do prédio e na modernização da exposição e laboratórios. O projeto prevê ainda aproximar visitantes das pesquisas que são realizadas na instituição e ampliar as pesquisas, voltadas para a preservação, sobre o genoma de espécies raras.
Se a decisão de repassar uma verba extra ao museu berlinense tem alguma relação com o incêndio no Rio de Janeiro, é difícil dizer, mas, com certeza, as imagens do fogo consumindo séculos de história chegaram aos parlamentares que aprovaram a medida. Certo é que há anos os apelos de Vogel sobre a situação da instituição eram ignorados e, de repente, foram prontamente ouvidos.
Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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Numa ilha fluvial no centro da capital alemã, encontra-se um Patrimônio da Humanidade: a Ilha dos Museus. Seus cinco prédios abrigam uma das mais importantes coleções de arte do mundo. Conheça algumas peças de destaque.
A Ilha dos Museus no bairro berlinense de Mitte é um dos complexos de museus mais importantes do mundo. Um deles é o Novo Museu (Neues Museum). Ali se encontra uma das peças mais significativas da história mundial da arte: o busto da rainha egípcia Nefertiti. Ele foi confeccionado em pedra calcária e gesso em cerca de 1340 a.C., na chamada Era de Amarna durante o Novo Império, na 18ª Dinastia.
No Novo Museu se encontram hoje as coleções do Museu Egípcio, o qual antes da queda do Muro de Berlim se localizava no bairro de Charlottenburg. Além da Nefertiti, chama atenção esta estátua de culto do faraó Amenemés 3°, executada em granito no Médio Império, durante a 12ª Dinastia, em cerca de 1840-1800 a.C., em Mênfis.
O Altar de Pérgamo é outra grande atração da capital alemã. Construído na Ásia Menor (atual Turquia) no século 2° a.C., ele foi desmontado por arqueólogos alemães e levado para Berlim no final do século 19. O altar faz parte da Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu de Pérgamo (Pergamonmuseum) na Ilha dos Museus.
Foto: SMB/DW/C. Albuquerque
Nicho com estalactites
No Museu de Pérgamo também se encontra a coleção do Museu de Arte Islâmica. Uma das peças do acervo é este nicho com estalactites (centro) de uma residência dos samaritanos, executado em Damasco, na Síria, durante o século 15-16. Ele foi feito em mármore, com incrustações coloridas e pintura.
Foto: SMB, Museum für Islamische Kunst; Foto: DW/C. Albuquerque
Estátua do Menino Rezando
Comprada em Paris por Frederico 2° em meados do século 18, esta estátua do "Menino rezando" adornava os jardins do palácio do rei prussiano em Potsdam, até ser levada para a Ilha dos Museus, em 1830. Executada em bronze, a peça foi fundida no fim do século 4° a.C. na ilha de Rodos. Ela também pertence à Coleção de Antiguidades, abrigada no Museu Antigo (Altes Museum).
Foto: SMB/Foto: DW/C. Albuquerque
Prato de Atena
Outro objeto da Coleção de Antiguidades abrigada no Museu Antigo da Ilha dos Museus é o "Prato de Atena do Tesouro de Hildesheim", executado no século 1° a.C. Este tesouro romano de peças de prata foi encontrado durante a preparação de um campo de prática de tiro para a Infantaria alemã, próximo à cidade de Hildesheim, em 1868.
Quem gosta de esculturas não deve deixar de visitar o Museu Bode (Bode-Museum). Ali se pode apreciar, por exemplo, o famoso "Fauno Barberini", executado em Roma por Vincenzo Pacetti, em 1799. Na parede, vê-se o ciclo de afrescos do Palazzo Volpato-Panigai, que Giovanni Domenico Tiepolo realizou em 1754.
Foto: SMB,Gemäldegalerie/Eigentum des KFMV; Foto: DW/C. Albuquerque
A Queda dos Anjos Rebeldes
Outra joia do Museu Bode é esta decoração de altar que se vê aqui em detalhe: "O juízo final" / "A queda dos anjos rebeldes". A peça foi feita em marfim, madeira e folha de cobre dourada, tendo sido executada em Nápoles, na primeira metade do século 18. A obra faz parte da Coleção de Esculturas.
Na Ilha dos Museus, a Antiga Galeria Nacional (Alte Nationalgalerie) abriga esculturas e pinturas do neoclassicismo e do romantismo, períodos que marcaram a imagem da Alemanha no mundo até hoje. Na foto, vê-se o quadro "O porto de Greifswald", pintado a óleo por Caspar David Friedrich, entre 1818-1820.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque
Na Estufa, de Edouard Manet
Na Antiga Galeria Nacional, também estão importantes obras impressionistas, como também do início do modernismo. Uma das mais importantes é a pintura "Na estufa", um óleo sobre tela executado por Edouard Manet, em 1879. Em 1999, a Ilha dos Museus foi elevada a Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, como um conjunto cultural e construtivo único.
Foto: Staatliche Museen zu Berlin; Foto: DW/C. Albuquerque