1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
VariedadesReino Unido

Após lockdown, uma rua de comércio volta à vida em Londres

Anna Lekas Miller
13 de abril de 2021

Depois de três meses de confinamento, lojas, bares e restaurantes têm permissão para reabrir na Inglaterra. População oscila entre alegria pela volta ao normal e receio de que o terceiro lockdown não tenha sido o último.

Mesa com quatro homens em pub de Londres
Richard (dir.) e amigos num pub londrinoFoto: Anna Lekas Miller/DW

Katrina acordou nesta segunda-feira (12/04) já se coçando para sair de casa: "Sacudi o meu parceiro e disse: 'Vamos, vamos!'", conta a artista de 32 anos no Ricco's Café, um bar local na Walthamstow High Street, no norte de Londres.

São 10 horas da manhã do dia em que o governo britânico relaxou as primeiras restrições para estabelecimentos não essenciais, após o terceiro confinamento ditado pela pandemia de covid-19 no país.

Comer do lado de fora agora é permitido, e Katrina e Alex estão ansiosos para ter novamente uma sensação de vida normal. "É simplesmente gostoso pode fazer alguma coisa além de dar uma caminhada", comenta o cuidador sorrindo, enquanto beberica um cappuccino.

Embora tenha trabalhado durante todo o confinamento, Alex acha que a flexibilização fará diferença quanto aos lugares aonde pode levar o nonagenário de que toma conta. "É realmente importante para a saúde mental dele. Incrível como fazer algo diferente pode mudar totalmente o humor da pessoa."

Artista Katrina aproveitou o primeiro dia de flexibilização para sentar-se num caféFoto: Anna Lekas Miller/DW

"Espero que seja o último lockdown"

Lá perto, começa a se formar uma fila diante de uma loja de segunda mão, outro tipo de negócio não essencial com permissão para reabrir. "Espero que eu consiga encontrar algo para vestir nas entrevistas de emprego", comenta Effie, jovem de 23 anos da cidade de Sheffield, que perdeu o emprego de garçonete.

Os setores de gastronomia, turismo, hospedagem e lazer estão entre os mais atingidos pelo coronavírus: a associação sindical UK Hospitality estima que em 2020 se perderam 600 mil vagas de trabalho. "Estou torcendo mesmo para simplesmente pôr de novo a minha vida um pouco em ordem", explica Effie. "Conseguir um emprego, voltar à academia de ginástica, esse tipo de coisa."

Mais abaixo, na Dench Fitness Gym, que também está reabrindo, Amin Maruf está feliz de dar boas vindas a quem esteja pronto para retornar, e espera que não haja mais lockdowns. "Disseram sempre para a gente que ia ser o último", diz, ecoando uma queixa comum entre os comerciantes.

Embora o governo do Reino Unido tenha assegurado à população que o primeiro confinamento seria o único, vieram mais dois e uma série de restrições. Por isso, agora os britânicos tomam o cuidado de não ser otimistas demais.

"Tentei usar o tempo com inteligência, atualizando um monte do equipamento que temos no andar de baixo, mas foi um investimento caro." Maruf conseguiu sobreviver graças a uma clientela leal de fisiculturistas locais, mas outros não tiveram tanta sorte. "Espero que seja diferente, principalmente agora que temos a vacina."

Mais duro para os sem teto

Desde que aprovou tanto o imunizante de Oxford-AstraZeneca quanto o da BioNTech-Pfizer, em dezembro, o país já conseguiu vacinar mais da metade da população. Associado a medidas de confinamento estritas, isso proporcionou uma queda significativa dos novos casos de covid-19.

Para muitos, porém, os danos serão de longo prazos. Como Singh, de 39 anos, que perdeu o emprego no comércio varejista e não pôde mais pagar o aluguel. "Estou sem casa agora", conta, enquanto espera na fila de uma cantina local que fornece almoço para os necessitados. "Olhe, eu tenho um filho de 13 anos e nós viemos aqui para pegar a nossa comida. Lockdown significa não ter casa, não ter dinheiro, muitos problemas."

Embora no início da pandemia o governo tenha se apressado em atender às necessidades de sua população sem teto, dados recentes mostram que, desde então, mais de 70 mil famílias foram despejadas. "Tem sido duro, minhas notas caíram à beça", afirma Kishar, o filho de Singh, quando questionado sobre a escola.

O transtorno da alternância constante entre aulas presenciais e digitais tem sido difícil para muitos estudantes, mas o desafio é ainda maior para os alunos pobres e sem teto. "Eu quero realmente ser boxeador profissional", revela Kishar. "Estou torcendo para encontrar um lugar para treinar, agora que as coisas estão abrindo."

Prazer de ir às compras na Walthamstow High StreetFoto: Anna Lekas Miller/DW

"Na verdade, é nosso direito"

Eu sabia que minha última parada tinha que ser um pub, a instituição que, para muitos londrinos, é o teste final para se a vida realmente retornou à normalidade. Nas próximas cinco semanas, só se pode servir nas mesas do lado de fora e para grupos de, no máximo, seis pessoas.

Lá pelas 2 horas da tarde, no entanto, o sol saiu inesperadamente, e a área externa comum a um pequeno grupo de restaurantes e lojas estava fervilhando de gente que aproveitava a chance de socializar pela primeira vez em meses.

"A gente vinha fazendo isso pelo Zoom nos últimos seis meses", explica Richard, um professor de 30 anos que se encontrou com quatro colegas para tomar uma cerveja. "Nunca mais vou achar que é uma coisa óbvia", acrescenta, rindo. Entre os três confinamentos nacionais e os meses de restrições locais, encontrar os amigos fora da própria casa só foi permitido por quatro meses, em 2020.

O amigo Kyle tem outra versão: "Estivemos trancafiados por tanto tempo que começamos a pensar que fosse um privilégio, uma espécie de evento especial, passar tempo com os amigos. Mas, na verdade, é o nosso direito."

Pular a seção Mais sobre este assunto