Após novo surto, Wuhan vai testar toda a população
3 de agosto de 2021
Cidade chinesa estava há 14 meses sem registrar casos de transmissão doméstica de covid-19. Com variante delta em circulação, várias regiões do país retomam restrições severas.
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A cidade chinesa de Wuhan comunicou nesta terça-feira (03/08) que vai testar todos os seus 12 milhões de residentes para a covid-19, após a confirmação dos primeiros casos de transmissão doméstica da altamente contagiosa variante delta.
Wuhan não registrava um caso de infecção local desde meados de maio do ano passado, mas na segunda-feira as autoridades confirmaram três casos da delta. Nas últimas duas semanas, a variante foi registrada em algumas províncias e grandes cidades, incluindo Pequim.
Wuhan – onde o coronavírus Sars-Cov-2 foi identificado pela primeira vez – decidiu aplicar testes em todos os seus habitantes, "para garantir que todos na cidade estejam seguros".
"Os testes de ácido nucléico serão lançados rapidamente em toda a cidade para que todas as pessoas possam identificar resultados positivos e infecções assintomáticas", afirmou Li Qiang, funcionário do governo da cidade.
Autoridades de Wuhan relataram na segunda-feira que sete infecções transmitidas localmente foram detectadas entre trabalhadores migrantes na cidade. A confirmação quebrou um período de cerca de 14 meses sem contágios locais, depois de Wuhan ter conseguido reprimir um surto inicial com um lockdown extremamente severo e sem precedentes no início de 2020.
Fotos de Wuhan de segunda-feira mostraram prateleiras de supermercados esvaziadas. Muitos residentes decidiram estocar alimentos e produtos em preparação para o confinamento, em cenas que lembram o pânico de antes de a cidade ter sido isolada do resto do mundo por 76 dias no ano passado.
Em publicação nas redes sociais nesta terça, autoridades perdiram para que "se acalme o clima de pânico dos residentes da cidade", e anunciaram que as lojas prometeram manter os preços e as cadeias de abastecimento estáveis.
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Maior surto em meses
A China tem enfrentado o maior surto de coronavírus em seu território em meses. Autoridades confinaram moradores de cidades inteiras em suas casas, interromperam as conexões de transporte e implementaram testes em massa, enquanto a mais transmissível variante delta desafia a estratégia de combate à covid-19 no país.
A capital chinesa, Pequim, já se gabava de seu sucesso em suprimir o coronavírus e em recuperar sua economia enquanto partes do mundo ainda travavam uma batalha ferrenha contra a doença, que matou mais de 4 milhões de pessoas em todo o planeta.
Mas o sucesso da China está sendo colocado à prova com o surgimento de um novo surto com mais de 400 casos domésticos registrados desde meados de julho, quando um grupo de faxineiros no aeroporto de Nanjing, na província de Jiangsu, contraiu a covid-19.
Autoridades locais acreditam que a variante dela provavelmente veio à região num voo da Rússia. A nova onda de infecções gerou casos em mais de 20 cidades de mais de uma dúzia de províncias.
E o destino turístico de Zhangjiajie – famoso pela reserva natural cujas montanhas em forma de pilares inspiraram o filme Avatar – anunciou abruptamente nesta terça-feira que ninguém poderia sair da cidade. Na semana passada, as autoridades locais encorajaram visitantes a deixar a cidade localizada na província de Hunan e fecharam as atrações turísticas.
Grandes cidades, incluindo Pequim, já testaram milhões de residentes enquanto isolavam complexos residenciais e colocavam em quarentena contatos próximos de pessoas infectadas. A China relatou nesta terça-feira 61 casos domésticos de infecção.
pv/ek (AFP, Reuters)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine