Rússia acusada de crimes de guerra, no 22º dia da invasão
18 de março de 2022Uma série de ataques a alvos civis nesta quinta-feira (17/03) resultaram em novas acusações de crimes de guerra cometidos por Moscou, no 22º dia da invasão russa à Ucrânia.
Um ataque de mísseis atribuído a forças russas deixou 21 mortos e 25 feridos na cidade ucraniana de Merefa, na região de Kharkiv, segundo informações de promotores públicos locais. O bombardeio destruiu uma escola e um centro comunitário, na cidade de 21,5 mil habitantes. Entre os feridos, dez estariam em estado grave.
Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, vem sendo alvo de bombardeios intensos, enquanto as tropas russas não conseguem superar a resistência das forças locais, em sua tentativa de tomar a cidade.
Um ataque a um teatro na cidade portuária de Mariupol – que está sitiada –, usado como refúgio por centenas de civis, gerou uma onda de condenação em todo o mundo. Segundo o governo local, cerca de mil pessoas estariam abrigadas no edifício.
"A única palavra que descreve o que aconteceu hoje é genocídio", afirmou o prefeito de Mariupol, Vadym Boychenko.
Dmytro Kuleba, ministro do Exterior da Ucrânia, classificou o incidente como "mais um crime de guerra horrendo" e disse que era impossível que os russos não soubessem que se tratava de um alvo civil.
Autoridades em Mariupol afirmam que mais de duas mil pessoas morreram durante o cerco à cidade, e que 80% das moradias estão destruídas.
"Atingir intencionalmente alvos civis é um crime de guerra. Depois de toda a destruição das últimas semanas, acho difícil concluir que os russos estejam fazendo o contrário", afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Blinken defendeu a linguagem dura utilizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no dia anterior, ao classificar o líder russo, Vladimir Putin, como um "criminoso de guerra". Nesta quinta-feira, após protestos do Kremlin, Biden se recusou a fazer uma retratação, e chamou Putin de "bandido" e "ditador assassino".
O secretário de Estado afirmou que, apesar da pressão gerada pelas sanções internacionais e da resistência imposta pelas forças de defesa ucranianas, o presidente russo, Vladimir Putin, não demonstra sinais de estar "preparado para pôr fim à guerra".
OMS relata 43 ataques a hospitais na Ucrânia
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou ao Conselho de Segurança da ONU que a agência confirmou 43 ataques a hospitais e centros de saúde na Ucrânia, que deixaram 12 mortos e 34 feridos.
Em videoconferência, Tedros disse que "a ruptura dos serviços e do abastecimento representa risco extremo para pessoas com doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, HIV e tuberculose, que estão entre as principais causas de mortes na Ucrânia".
Os deslocamentos e os acúmulos de pessoas gerados pela fuga de milhões de civis das regiões de conflito aumentam os riscos de doenças como covid-19, pneumonia, poliomielite e sarampo.
Além disso, segundo a OMS, mais de 35 mil pacientes de hospitais psiquiátricos e outras instituições enfrentam uma grave escassez de medicamentos, alimentos e outros recursos essenciais.
Subsecretária da ONU para Assuntos Políticos pede investigação sobre mortes de civis
A subsecretária da ONU para Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, pediu uma investigação rigorosa sobre as mortes de civis na Ucrânia.
Em pronunciamento ao Conselho de Segurança nesta quinta-feira, DiCarlo citou dados das agências humanitárias da ONU que contabilizam 726 mortes (incluindo 52 crianças) e 1.174 feridos (63 crianças) desde o início da invasão russa ao país.
"O número verdadeiro é, provavelmente, muito maior", afirmou ao Conselho. "A maioria dessas mortes foi causada pelo uso de armas explosivas com grande área de impacto, em zonas residenciais. Centenas de edifícios residenciais foram danificados ou destruídos, assim como hospitais e escolas."
"A magnitude das mortes de civis e a destruição de infraestruturas civis na Ucrânia não pode ser negada. Isso exige uma investigação rígida e responsabilização", disse DiCarlo.
Rússia desiste de sua própria "resolução humanitária" na ONU
Após fracassar em conseguir apoio de seus aliados mais próximos, diplomatas russos cancelaram a votação que eles mesmos haviam convocado para esta sexta-feira, sobre uma resolução humanitária para a guerra na Ucrânia elaborada por Moscou.
A Rússia não conseguiu assegurar a colaboração da China e da Índia, o que sugere que esses dois países não apoiariam o texto na votação. O embaixador russo, Vassily Nebenzia, confirmou a desistência russa durante uma reunião do Conselho nesta quinta-feira, após ficar claro que não haveria chance de aprovação, uma vez que as potências ocidentais certamente iriam vetar o texto.
Com a resolução, Moscou tentava demonstrar que ainda tinha algum apoio no cenário mundial, após a decisão do Kremlin de invadir a Ucrânia. O texto condenava os ataques a civis e pedia para que a população pudesse deixar as zonas de conflito.
As nações ocidentais deixaram claras sua descrença nas boas intenções expressadas por Moscou. "A Rússia, de maneira perversa, propôs uma resolução que, entre outras coisas, pede a proteção dos civis, incluindo mulheres e crianças", criticou a embaixadora britânica na ONU, Barbara Woodward. "Isso é um joguete, frente ao sofrimento humano extremo."
A enviada americana, Linda Thomas-Greenfield, qualificou o texto como uma farsa, e disse que estava "fadado ao fracasso".
Nebenzia alegou ter havido uma forte pressão para que muitos países não apoiassem a resolução de Moscou. "Muitos colegas de muitas delegações nos contaram sobre uma pressão sem precedentes dos parceiros ocidentais, com braços torcidos, chantagens e ameaças", disse.
Após a reunião, Thomas-Greenfield rebateu seu colega e afirmou que "os únicos torcendo braços por aqui são os russos, porque é a única maneira de eles conseguirem que alguém os apoie".
A França e o México elaboraram em parceria uma resolução humanitária para a crise na Ucrânia que deverá ser votada pela Assembleia Geral da ONU, onde a Rússia não tem poder de veto, como é o caso nas votações do Conselho de Segurança.
No início do mês, os Estados-membros da Assembleia aprovaram por ampla maioria – 141 votos a favor, cinco contra e 35 abstenções – uma resolução condenando a invasão russa da Ucrânia.
Rússia finge negociar enquanto intensifica ataques, diz ministro francês do Exterior
O ministro do Exterior da França, Jean-Yves Le Drian, acusou a Rússia de fingir que negocia com a Ucrânia, enquanto emprega no país vizinho a mesma estratégia brutal utilizada em outras partes do mundo.
"Infelizmente, observamos a mesma lógica russa: fazer exigências máximas, como querer a rendição da Ucrânia, enquanto intensifica sua guerra de cerco", afirmou Le Drian ao jornal Le Parisien.
"Assim como em Grozny (Chechênia) e em Aleppo (Síria), há três elementos característicos: o bombardeio indiscriminado, os chamados 'corredores humanitários' criados para permitir que acuse o outro lado de não respeitá-los, e as conversações sem outro objetivo que não seja fingir que estão negociando", observou.
Segundo Le Drian, a Ucrânia, por sua vez, "se envolve nas conversas de modo responsável e com a mente aberta".
O gabinete do presidente Volodimir Zelenski rejeitou a proposta russa de a Ucrânia se tornar um país neutro, como a Suécia ou a Áustria, afirmando que precisaria de fortes garantias de segurança antes de aceitar qualquer coisa nesse sentido.
Le Drian disse ainda que a ajuda europeia à Ucrânia, que inclui a entrega de armamentos ao país, não será impedida pelas ameaças de Vladimir Putin de atacar os comboios, ou de lançar mão de suas tropas nucleares.
"O agravamento retórico em termos nucleares é um hábito do presidente Putin", disse o ministro. "Por enquanto, há um tema: urgente cessar-fogo, cessar-fogo, cessar-fogo, o que a Rússia recusa."
"As sanções serão intensificadas até que Putin se dê conta de que o preço do prolongamento do conflito será tão alto que é preferível um cessar-fogo, e inicie conversas com o presidente Zelenski", concluiu Le Drian.
Bombardeio a escola deixa 21 mortos na região de Kharkiv
Um ataque de mísseis deixou 21 mortos e 25 feridos na cidade ucraniana de Merefa, na região de Kharkiv, segundo informações de promotores públicos locais. O bombardeio destruiu uma escola e um centro comunitário, informou o prefeito da cidade de 21,5 mil habitantes. Entre os feridos, dez estariam em estado grave.
A região de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, vem sendo alvo de fortes bombardeios, enquanto as tropas russas não conseguem superar a resistência das forças locais, em sua tentativa de tomar a cidade.
Agência europeia suspende missão a Marte com a Rússia
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) anunciou que suspendeu indefinidamente uma missão conjunta com a russa Roscosmos, chamada ExoMars, que visava pousar um rover em Marte. O lançamento era planejado para setembro.
"Lamentamos profundamente as baixas humanas e as trágicas consequências da agressão à Ucrânia", disse um comunicado da ESA. "Embora reconheça o impacto na exploração científica do espaço, a ESA está totalmente alinhada com as sanções impostas à Rússia por seus Estados membros”.
O chefe dos Roscosmos, Dmitry Rogozin, disse que o anúncio da ESA é uma "vergonha". "Esta é uma (decisão) muito amarga para todos os entusiastas do espaço", escreveu Rogozin no Telegram. Ele acrescentou que a Rússia "conduzirá esta expedição de pesquisa por conta própria".
A missão do rover ExoMars já havia sido adiada em 2020 devido à pandemia de coronavírus. Ela seria lançada por um foguete russo Proton-M em Baikonur, no Cazaquistão.
Presidente turco convida Putin a conversar com Zelenski
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, teria se oferecido para receber o presidente russo, Vladimir Putin, e o chefe de governo ucraniano, Volodimir Zelenski, para conversas, segundo informou o gabinete de Erdogan. A oferta teria sido comunicada a Putin durante um telefonema entre os dois líderes.
Segundo informações do governo turco, Erdogan disse a Putin que um acordo sobre certas questões poderia exigir uma reunião entre os dois líderes. Erdogan também disse a Putin que um cessar-fogo duradouro poderia levar a uma solução de longo prazo, conforme a nota.
Tanto Kiev quanto Moscou expressaram abertura para que a Turquia medie as negociações e ofereça garantias de segurança para um possível acordo de paz.
Destroços de míssil derrubado atingem prédio residencial em Kiev
Ao menos uma pessoa morreu e três ficaram feridas após destroços de um míssil derrubado atingirem um prédio residencial na capital ucraniana, Kiev, em meio a ataques russos à cidade, afirmou o serviço de emergência ucraniano nesta quinta-feira.
O prédio de 16 andares foi atingido por volta das 5h da manhã (hora local), disseram as autoridades, apontando que 30 pessoas haviam sido retiradas do local e um incêndio havia sido apagado.
Segundo jornalistas da agência de notícias AFP, a parte de cima do prédio foi parcialmente destruída, incluindo um apartamento no último andar.
O incidente ocorreu apenas duas horas antes do fim de um toque de recolher imposto na noite de terça-feira em meio ao que o prefeito de Kiev chamou de um "momento perigoso".
Há vários dias, tropas russas que tentam cercar Kiev vêm lançando bombardeios contra a cidade nas primeiras horas da manhã.
Quatro pessoas foram mortas em ataques a prédios residenciais em Kiev na terça, e outras duas na segunda.
Zelenski pede que Alemanha derrube novo muro que divide a Europa
Três semanas após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, falou na manhã desta quinta-feira (17/03) ao Bundestag, o Parlamento alemão, por videochamada, pedindo mais apoio.
Em referência à queda do Muro de Berlim, Zelenski apelou diretamente ao chanceler federal alemão, Olaf Scholz, para que destrua o que chamou de um novo muro entre a Europa "livre e não livre", erguido a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Caro senhor chanceler federal Scholz, destrua esse muro. Dê à Alemanha o papel de liderança que ela merece. Apoie a liberdade, apoie a Ucrânia", disse.
Ele acusou a Alemanha de não ter feito o suficiente para evitar a guerra e ter contribuído para que fosse erguido esse novo muro na Europa, isolando a Ucrânia por meio de negócios com a Rússia e do gasoduto Nord Stream 2, construído para levar gás diretamente da Rússia para a Alemanha.
"É um muro entre liberdade e ausência de liberdade e ele fica maior a cada bomba que cai sobre a Ucrânia, com cada decisão que não é tomada", afirmou Zelenski.
A Alemanha mudou sua política de não enviar armas a regiões de conflito e mandou equipamentos militares à Ucrânia. No entanto, segue sustentando a posição da Otan de não enviar tropas ao país, o que significaria se envolver diretamente na guerra.
O discurso de Zelenski ao Bundestag é parte de uma série de apelos diretos a líderes mundiais. Antes, o presidente ucraniano já havia discursado ao Congresso dos Estados Unidos e aos Parlamentos do Reino Unido e Canadá.
rc (AFP, AP, DPA, Reuters, EFE, ots)