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Após perdas no exterior, empresas alemãs retornam

Pablo Kummetz (bt)9 de agosto de 2006

Muitas companhias que transferiram parte da produção para outros países estão voltando à Alemanha. Perspectivas de baixar custos não se concretizaram.

Maciços investimentos no exterior nem sempre compensamFoto: AP

Quase 25% de todas as indústrias alemãs transferiram parte da produção para o estrangeiro entre 2001 e 2003. Mas as expectativas de grandes lucros nem sempre se tornaram realidade: uma em cada quatro empresas que se aventuraram em outros países durante o período abortou o projeto e retornou à Alemanha. Surgiram obstáculos e problemas de diversas naturezas que não estavam previstos, obrigando os investidores a mudar os planos e bater em retirada.

De acordo com um estudo do Instituto ISI, da cidade de Karlsruhe, cerca de dois anos após grandes movimentos de transferência de produção para o exterior, acontece uma onda de retornos à Alemanha. A principal justificativa para a volta são os custos de produção que, tempos depois, se revelam mais altos que o esperado.

Em segundo lugar entre as principais causas de retorno, apontadas em 40% dos casos, aparecem razões de qualidade. Outro motivo alegado é o alto custo de gerenciamento e comunicação entre a matriz alemã e a filial no exterior, assim como a falta de mão-de-obra qualificada e a corrupção generalizada em muitos países, ainda de acordo com o levantamento.

Salários mais baixos

Entre os argumentos apresentados por empresas alemãs para transferirem parte da produção para o exterior aparecem os salários pagos ao trabalhador, bem inferiores aos da Alemanha, os impostos aparentemente mais baixos e a conquista de novos mercados. Para 85% das empresas que investem fora, os custos de produção aparecem como uma das razões para a decisão, enquanto 40% esperam conquistar novos clientes na região de destino.

Perspectiva de reduzir custos logísticos motiva transferência da produçãoFoto: dpa

Um terço das empresas buscam, com a transferência da produção, ganhar em eficiência logística, podendo abastecer o mercado de forma mais rápida, enquanto um quarto é atraído por menores custos tributários. Mas segundo Steffen Kinkel, um dos autores do estudo do Instituto IFI, a decisão não é tão recional como parece: "No final, o que prevalece é a sensação de que é preciso transferir porque todas as empresas estão fazendo o mesmo", declara.

Decepção na Bulgária

A Optotec, que fabrica produtos ópticos, sentiu na própria carne as conseqüências negativas de transferir parte da produção para o exterior. Sediada no Estado de Brandemburgo, a empresa firmou em 1995 uma parceria com uma companhia búlgara para a fabricação de ferramentas de fundição a pressão. Joachim Mertens, diretor-gerente da empresa, relata que os prognósticos eram positivos. "Em lugar dos 43 mil euros que cada molde de fundição a pressão custava na Alemanha, o item iria custar 3900 euros na Bulgária", afirma.

Mas a história teve um final desastroso, por vários aspectos. "Os custos para a Optotec foram imensos: constantemente vinham à Alemanha operários búlgaros para aprender a trabalhar, e também vários técnicos alemães tinham que passar semanas na Bulgária. Além disso, os produtos que chegavam de lá tinham que ser corrigidos e retocados permanentemente", recorda o executivo.

No final, o prejuízo da Optotec foi enorme. "Quando fizemos um balanço, ficamos chocados: no primeiro ano, cada euro de faturamento na Bulgária custava outros sete euros, em lugar dos 40 ou 50 centavos esperados", conta Mertens.

Devido às altas expectativas, a companhia chegou a transferir cerca de 80% de toda sua produção para o país balcânico. Atualmente a situação é inversa, com apenas 20% sendo fabricados no exterior, correspondentes a peças de metal de menor complexidade.

Pirataria

A Sennheiser, empresa originária do Estado da Baixa Saxônia que produz microfones e fones de ouvido de alta tecnologia, também experimentou problemas ao transferir parte da produção para Xangai, na China. Problemas envolvendo qualidade dos produtos, logística, fornecedores, e perdas com tecnologia pirateada pela indústria local. Como conseqüência, a indústria decidiu retornar a produção para a Alemanha.

Outro exemplo negativo aconteceu com a Jungheinrich, de Hamburgo, que fabrica empilhadeiras. A empresa chegou a repartir o processo produtivo com unidades industriais próprias na Espanha, Reino Unido e França, mas o desempenho aquém do esperado fez com que a produção voltasse a ser tarefa das três fábricas localizadas em território alemão.

Setor elétrico tem menos problemas

Segundo o pesquisador do Instituto ISI, aquelas indústrias que investem fora da Alemanha com o objetivo maior de reduzir custos freqüentemente cancelam o projeto e regressam. "As empresas que saem buscando ficar perto do cliente ou abrir outros mercados são as que menos retornam", revela Kinkel.

Fabricar automóveis no exterior não é tão lucrativo como possa parecerFoto: AP

Ele acrescenta que as empresas que mais se arrependem da transferência de produção e regressam pertencem ao segmento químico ou automotivo, que demandam altos investimentos em maquinário e equipamentos. As empresas que menos retornam são do setor elétrico, em que os maiores custos são gerados pela mão-de-obra.

Outro aspecto relevante, de acordo com o estudo, é o destino escolhido pela companhia para investir. Seis de cada dez empresas alemãs que optaram por transferir a produção para a Europa ocidental fecham as novas instalações no estrangeiro. Porém, no caso dos novos países-membro da União Européia, América Central ou do Norte, isso acontece em 20% dos casos. Entre as indústrias que escolhem destinos como América do Sul, Ásia e países da Europa do Leste que não fazem parte da UE, os porcentuais de cancelamento dos projetos são ainda mais baixos.

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