Após polêmica, banco de alimentos alemão aceita estrangeiros
3 de abril de 2018
Organização na cidade de Essen havia provocado controvérsia no início do ano ao aceitar apenas inscrições de alemães. Decisão foi duramente criticada e incendiou debate sobre xenofobia no país.
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Um banco de alimentos da cidade alemã de Essen que recentemente atraiu atenção internacional após impor empecilhos para não alemães anunciou nesta terça-feira (03/04) que voltou a aceitar novas inscrições de estrangeiros. A nova medida passa a valer na quarta-feira.
O banco de alimentos Essener Tafel é uma organização de caridade que recolhe alimentos em mercados e os redistribui a pessoas necessitadas. A decisão anterior da organização havia sido severamente criticada pela Federação dos Bancos de Alimentos da Alemanha e organizações de ajuda humanitária, além da chanceler federal Angela Merkel.
Segundo o presidente da Essener Tafel, Jörg Sartor, uma houve mudança de cenário nas últimas semanas. "No momento, a relação entre alemães e estrangeiros é adequada. Se ocorrerem novos gargalos, teremos que nos adaptar novamente. Idosos, famílias com filhos, pais solteiros e pessoas com deficiências graves podem ter preferência", disse Sartor.
À época do anúncio da restrição, o próprio Sartor justificou a medida citando um aumento desproporcional no número de estrangeiros atendidos.
Segundo essa justificativa, a proporção de migrantes entre os atendidos pelo banco havia subido para 75%, percentual que não refletia a proporção de estrangeiros entre os necessitados da cidade. Antes da crise migratória de 2015, os não alemães eram 35%, disse ele. Sartor estima que agora sejam 45%.
A decisão de restringir o acesso de estrangeiros ao banco de alimentos já vinha sido aplicada desde janeiro, mas ganhou repercussão no mês seguinte. À época, Sartor negou que a medida tinha caráter xenófobo e disse que ela poderia ser revista em algumas semanas.
O presidente também disse que muitos alemães – especialmente idosos e mães solteiras – se sentiam desconfortáveis nas filas de distribuição e até mesmo deixavam de comparecer. Ele afirmou que alguns dos estrangeiros, muitos deles homens jovens, mostravam "pouco respeito em relação às mulheres". Segundo ele, o banco de alimentos de Essen atende a cerca de 6 mil pessoas.
À época da controvérsia, Merkel opinou sobre o tema e disse que ninguém deveria dirigir um serviço com base em tais "categorizações". A temperatura da discussão levou até mesmo a atos de vandalismo contra caminhões e vans da organização, que foram pichados com a palavra "nazistas".
Se por um lado a decisão anterior despertou críticas, também recebeu elogios de deputados e membros da direção do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que chamaram a medida de um "passo corajoso".
JPS/dpa/ots
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