Após protestos, Rostock desiste de abrigo para refugiados
Ben Knight (md)4 de agosto de 2016
Cidade do leste da Alemanha, que tem histórico de violência contra migrantes, afirma que desistência do projeto se deve à falta de segurança, após série de protestos pró e contra centro de acolhimento.
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Uma série de protestos pró e contra refugiados levou autoridades de Rostock, no nordeste da Alemanha, a decidir vetar a criação de um novo abrigo no distrito local de Gross Klein.
O secretário de Assuntos Sociais de Rostock, Steffen Bockhahn, afirmou que a decisão "dói", mas que vários protestos contra refugiados, aliados a incidentes na área, o forçaram a decidir contra o novo abrigo, que seria instalado num prédio atualmente vazio.
A decisão foi imediatamente condenada por políticos de oposição locais – cerca de uma semana antes, um abrigo próximo para refugiados desacompanhados menores de idade teve que ser parcialmente desocupado.
"Acho que é questionável se nos permitimos receber ordens de direitistas sobre onde os refugiados devem morar e para onde devem ir ou não", disse o político local Uwe Michaelis ao jornal Ostsee Zeitung. "Eles vão considerar esta decisão como uma vitória deles."
Área conhecida
Ulrike Seemann-Katz, presidente do conselho consultivo do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental para questão de refugiados, concorda que o governo de Rostock enviou um sinal fraco.
"Este é realmente um grande erro", disse à DW. "O sinal significa 'tudo o que precisamos é fazer barulho suficiente ou atirar pedras suficientes ou qualquer outra coisa e, então, eles desistem'. Eu não acho isso aceitável", afirmou.
Mas Seemann-Katz também observa que o distrito de Gross Klein ganhou certa notoriedade recentemente. "Eles podem ter levado isso em consideração desde o início e não planejado nada lá", disse. "Mas acho isso seria errado também, porque toda a sociedade deve estar preparada para acolher refugiados. Isso é o que a humanidade exige: dar proteção a pessoas em busca de proteção."
Seemann-Katz chegou a sugerir que a razão para o abandono do plano pode não ter tido nada a ver com a segurança. "É porque há poucos refugiados vindo no momento, porque as fronteiras estão fechadas", assinalou.
Jogo de empurra
O secretário de Assuntos Sociais de Rostock disse que a decisão de não criar o novo abrigo era de responsabilidade do secretário estadual do Interior de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Lorenz Caffier.
Em entrevista ao jornal Die Zeit, Bockhahn, afirmou que Caffer comunicou a ele sua rejeição à construção do abrigo naquela parte da cidade. "Para mim, aquilo era uma instrução, já que o secretário de Interior é responsável pela segurança", justificou Bockshahn.
Os municípios recebem financiamento para abrigos de refugiados do governo do estado, cuja secretaria tem que concordar sobre a necessidade de abrigos. Mas a prefeitura é, em última instância, responsável por ele.
Por seu lado, o secretário estatal do Interior divulgou um comunicado insistindo que a decisão havia sido tomada por Bockshahn sozinho, mas acrescentou que compartilha das preocupações sobre segurança da polícia local.
"Por essa razão, a Secretaria Estadual do Interior recomendou, com base numa avaliação de riscos da polícia, encomendada pela autoridade dos Assuntos Sociais em Rostock, que os estrangeiros menores de idade não acompanhados fossem retirados do estabelecimento em Gross Klein, porque qualquer conflito poderiam colocar as crianças em perigo", diz o comunicado.
Má reputação
Enquanto isso, a polícia de Rostock afirma que, embora tivesse havido uma série de protestos, Gross Klein não é especialmente conhecido como um bairro onde ocorrem ataques xenófobos.
De acordo com um comunicado da polícia, um grupo de cerca de 60 pessoas, que se juntaram de forma espontânea, se formou em 2 de junho e foi provocado por cerca de 40 outras. A polícia disse que o encontro foi dissolvido pacificamente.
A polícia não libera suas avaliações de risco, mas um porta-voz disse à DW que tais incidentes haviam sido levados em conta. Segundo ele, proteger as crianças no lar de refugiados de potenciais conflitos era a principal preocupação.
Rostock tem má reputação na Alemanha, por causa de um incidente notório em 1992, quando um abrigo para requerentes de asilo foi sitiado e incendiado, com cerca de cem vietnamitas e uma equipe de TV alemã no interior do prédio.
Dados divulgados nesta quarta-feira (03/08) mostram que houve neste ano 665 crimes contra abrigos de refugiados na Alemanha.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.