Apadrinhada por Merkel desiste de candidatura a chanceler
10 de fevereiro de 2020
Annegret Kramp-Karrenbauer renuncia ao posto de líder da CDU e diz que não concorrerá à sucessão de Merkel. Decisão é anunciada em meio à crise provocada por eleição de governador com votos de populistas de direita.
Anúncio
A sucessora designada por Angela Merkel, Annegret Kramp-Karrenbauer, decidiu renunciar à sua candidatura como chanceler federal da Alemanha e anunciou nesta segunda-feira (10/02) que deixará a presidência da União Democrata Cristã (CDU), em meio à grave crise provocada pela aliança de sua legenda com populistas de direita na eleição para o governo do estado da Turíngia.
Kramp-Karrenbauer, conhecida como AKK, disse durante reunião com a cúpula da CDU que "não tem objetivo de ser candidata a chanceler" e informou que iniciará no meio do ano o processo para escolha de uma nova liderança, antes de deixar a chefia do partido. Merkel afirmou, entretanto, que Kramp-Karrenbauer deve continuar no cargo de ministra da Defesa, que ocupa desde julho de 2019.
A Alemanha deve realizar sua próxima eleição geral no segundo semestre de 2021, quando deve ser decidida a sucessão de Angela Merkel. Chefe de governo do país há 15 anos, ela não pretende concorrer a um quinto mandato como chanceler.
A renúncia de Kramp-Karrenbauer ocorre em meio à crise política gerada pela controversa eleição do governador da Turíngia com ajuda dos votos do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
O ocorrido provocou protestos e quebrou o que é considerado um tabu no país em torno da cooperação partidária com populistas de direita. Pouco depois de ser eleito, Thomas Kemmerich, do Partido Liberal Democrático (FDP), renunciou. Ele fora escolhido com apoio de legisladores estaduais de seu partido, da CDU e da AfD.
O caso provocou também a queda, por ordem de Merkel, do secretário de Estado parlamentar, o encarregado do governo alemão para os estados do leste do país, Christian Hirte, que foi duramente criticado por parabenizar Kemmerich.
"Vejo essa decisão com o maior respeito, mas também lamento", comentou Merkel, agradecendo AKK pelo seu trabalho e por aceitar permanecer na liderança da legenda até a escolha de um novo presidente.
A desistência de AKK foi elogiada por integrantes da CDU, que defenderam a união do partido. "Tenho grande respeito por esta decisão inesperada", afirmou Friedrich Merz, um de seus maiores rivais dentro da legenda.
O secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, disse que a decisão foi louvável. "Precisamos de uma renovação fundamental do partido, especialmente com a participação de conservadores e liberais econômicos", afirmou, citando Merz como um substituto ideal para Kramp-Karrenbauer.
No entanto, a decisão foi vista com preocupação por outros partidos. "Os acontecimentos no topo da CDU são muito preocupantes. A CDU enfrenta uma disputa interna e há muito tempo está visivelmente sem guia", disse Markus Söder, presidente da União Social Cristã (CSU), tradicional parceira do partido de Merkel.
Norbert Walter-Borjans, líder do Partido Social-Democrata (SPD), legenda que integra a coalizão do governo federal com a CDU, afirmou que, além de a legenda estar sem uma liderança, não está claro qual direção a CDU irá tomar. "Como parceiro de coalizão, essa situação é extremamente preocupante", destacou. "Agora, a CDU tem que esclarecer sua relação com os extremistas de direita."
A líder dos Verdes, Annalena Baerbock, também espera que a CDU se apresente como um partido democrata cristão que não se deixa conduzir pela extrema direita. Já o presidente dos liberais, Christian Lindner, classificou a decisão como consequente diante da divisão na legenda.
Kramp-Karrenbauer foi eleita presidente da CDU em dezembro de 2018, sucedendo a Merkel, que decidiu renunciar à liderança do partido devido à sua crescente impopularidade após uma série de derrotas eleitorais e a ascensão eleitoral da AfD.
AKK, de 57 anos, foi designada pela própria Merkel como sua sucessora mesmo antes de ser escolhida chefe da CDU, mas nunca conseguiu impor sua autoridade no partido. Ela foi fortemente criticada após a CDU apoiar a eleição de um candidato do FDP como governador da Turíngia juntamente com os populistas de direita da AfD e, assim, impedir a reeleição do socialista Bodo Ramelow, do partido A Esquerda.
De jovem cientista da Alemanha Oriental à primeira mulher a liderar uma das maiores potências do mundo: em 17 de julho, a chanceler federal completa 65 anos.
Foto: imago
Futuro brilhante
Quem diria que Angela Dorothea Kasner seria um dia a mulher mais poderosa do mundo? Dedicação, objetividade, discrição, pés no chão: são as qualidades que lhe transmitiu o lar protestante em Templin, no estado de Brandemburgo, na antiga Alemanha Oriental, embora ela tenha nascido em Hamburgo. O pai era pastor luterano, e a mãe ficava em casa, cuidando de "Angie" e de seus dois irmãos mais novos.
Foto: imago
Raízes polonesas
Os avós Greta e Ludwig Kazmierczak com o filho Horst, pai de Merkel. A família de origem polonesa mudou-se de Poznań (Posen, em alemão) para Berlim e, em 1930, trocou seu nome para Kasner. As raízes não alemãs da chanceler federal só foram divulgadas em 2013, causando um alvoroço temporário, sobretudo na Polônia. O sobrenome Merkel veio do primeiro marido, Ulrich Merkel, com quem se casou em 1977.
Foto: picture-alliance/dpa
Aluna aplicada
Esta foto foi tirada em 1973, num acampamento em Himmelfort, após Merkel concluir o curso secundário com uma média de 1,0 – nota máxima no sistema escolar alemão. Seus fortes eram russo e matemática. Durante a escola, foi filiada à associação juvenil socialista Juventude Alemã Livre (FDJ). Ela é a primeira chefe de governo da Alemanha crescida no regime comunista da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Ciência em vez de rock 'n' roll
Na década de 70, Merkel estuda Física em Leipzig. Depois, trabalha no Instituto de Química da Academia de Ciências da República Democrática Alemã (RDA). Sua tese de doutorado é sobre reações de desintegração. Nesse período, conhece o primeiro marido. "Angela me chamou a atenção por ser amigável, aberta e natural", lembra Ulrich Merkel. Um dos prazeres dela é viajar – como nesta foto, em Praga.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio de Kohl
"Um dia, ela pegou suas coisas e se foi do quartinho em que vivíamos", conta o ex-marido. O banheiro era compartilhado com outros estudantes. "Ela levou a máquina de lavar, e eu fiquei com os móveis." Merkel passa a ser politicamente ativa, primeiro no movimento oposicionista Despertar Democrático, depois na União Democrata Cristã (CDU). Lá, conquista a confiança do chefe do partido, Helmut Kohl.
Foto: Reuters
Apesar dos ventos contrários
Merkel esforça-se para subir e, em 1990, torna-se deputada federal no Bundestag. O então premiê, Helmut Kohl, a nomeia ministra para Assuntos Femininos e Juvenis, embora a alemã-oriental não disponha de bons contatos na CDU e tenha pouca experiência. Quatro anos mais tarde, ela se torna ministra do Meio Ambiente, além de ser responsável pela segurança das usinas nucleares.
Foto: Reuters
Sem dó nem piedade
Em 1998, Merkel é nomeada secretária-geral da CDU, e, quatro anos depois, torna-se presidente do partido. No meio tempo, renegara publicamente seu padrinho político, Kohl, retirando-lhe todo apoio no contexto de um escândalo de doações partidárias. Em 2005, por fim, se elege chanceler federal, vencendo o social-democrata Gerhard Schröder. Sob a nova chefe, a CDU se torna um partido mais de centro.
Foto: Reuters
Motivos para rir
Merkel move-se sem problemas no mundo masculino da política. Encabeçando a locomotiva econômica europeia, ela dita o tom durante a crise financeira mundial e defende os interesses alemães. Críticos no país a acusam de excesso de manobras e estratégias e também carência de palavras claras – sobretudo quando o assunto é o escândalo de espionagem da NSA na Alemanha.
Foto: Reuters
Relação com Putin
Mesmo antes da crise da Crimeia, a relação entre Merkel e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não era tão amigável como a deste com o antigo chanceler federal Gerhard Schröder. Porém, Putin diz ter grande respeito por Merkel, e ambos conversam fluentemente tanto em alemão como em russo.
Foto: picture-alliance/AA/M. Gambarini
"Primeira dama"
Com a política mundial nas mãos de sua esposa, Joachim Sauer pode cumprir sem preocupações o papel de "primeira dama" da Alemanha. Merkel casou-se com seu segundo marido em 1989. Com fama de ser avesso às atenções públicas, Sauer é professor de Química e tem dois filhos do primeiro casamento.
Foto: Reuters/A. Gebert
Como a Casa Branca para os americanos...
... ou o Palácio do Eliseu para os franceses, assim está a residência no bairro berlinense de Mitte para o casal Merkel-Sauer. A chanceler federal não necessita de muita pompa. Os vizinhos a encontram regularmente no supermercado, pois ela não abre mão de fazer as compras, nem de cozinhar de vez em quando para o marido.
Foto: picture-alliance/dpa
Música erudita e futebol
Assim como na política, também no lazer ela parece atender a uma ampla gama de gostos, mostrando ser tanto amante da música erudita (sempre presente no Festival Wagner de Bayreuth), como do futebol. Na foto, Merkel com a seleção de Joachim Löw, campeã da Copa do Mundo de 2014.
Foto: Reuters
Crise dos refugiados
A abertura das fronteiras aos refugiados em 2015 foi uma medida que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, bancou sozinha, politicamente. Não houve decisão da União Europeia, o Parlamento alemão não foi consultado, e muito menos a população do país.Isso lhe trouxe muitas críticas dentro do próprio partido e arranhou sua imagem junto à população.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Quebrando clichês
Uma mulher que cresceu na Alemanha Oriental, sem padrinhos políticos, que primeiro ascendeu à chefia do partido conservador e, depois, se tornou chanceler federal. E, desde então, já foi reeleita três vezes. Assim chega Merkel aos 65 anos. E a líder alemã já teve até uma peça de teatro dedicada a ela: "Mutti" (Mãezinha, como é apelidada no país), da autora Juli Zeh.
Foto: Reuters
Crises de tremor
Uma série de crises de tremedeira em público nas semanas anteriores fez com que Angela Merkel se decidisse a receber a premiê da Dinamarca sentada em 11 de julho último. Embora Merkel repetidamente tenha assegurado que goza da saúde necessária para continuar no cargo, desenvolveu-se na Alemanha um debate sobre a saúde da chefe de governo.