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Apertem os cintos, o Brasil ruma para uma estagflação

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
18 de março de 2021

País caminha para o pior de todos os mundos: estagnação econômica e inflação em alta, uma combinação que vai acelerar processo de empobrecimento dos brasileiros.

Brasil vive o aumento mais rápido dos preços dos alimentos em 18 anosFoto: Picture-alliance/Zumapress/E. Lustosa

A inflação brasileira é como um jumbo prestes a decolar, e é hora de agir, advertiu o economista Samuel Pessôa. E assim fez o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, aumentando a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 2,75%. Isso é mais do que a maioria dos economistas esperava. Além disso é o primeiro aumento em quase seis anos.

Com a alta, o Banco Central reagiu principalmente ao rápido aumento da inflação. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 5,2%, pouco abaixo do teto de 5,25% estabelecido pelo Banco Central. Mas os números são enganosos.

A maioria dos brasileiros sente na pele em seu cotidiano como sobretudo os preços dos alimentos e combustíveis subiram muito mais do que isso. O preço do óleo de soja aumentou 90% em um ano. Os do arroz (70%) e do feijão (60%) também têm sofrido aumentos maciços. Os preços da gasolina subiram, dependendo do estado, entre cerca de 15% (São Paulo) e 25% (Distrito Federal).

Não é de se admirar que circulem na internet vídeos zombando do aumento geral dos preços no estilo de propagandas de supermercados. "Bolsocaro" é o nome da cadeia de varejo imaginária retratada, em referência ao presidente sob cujo governo houve os maiores aumentos de preços em muitos anos. De fato, os brasileiros estão atualmente vivenciando o aumento mais rápido dos preços dos alimentos em 18 anos, ou seja, em quase uma geração.

Diante desse cenário, apenas poucos economistas criticaram a forte alta da Selic. Afinal, a inflação só pode ser contida se o Banco Central reduzir a quantidade de dinheiro em circulação (porque, com a taxa de juros mais alta, brasileiros e investidores preferem investir seu dinheiro em vez de gastá-lo) e o real se fortalecer novamente (porque investidores trocam dólares por reais para aproveitar as altas taxas de juros no Brasil).

O único problema é: o aumento da taxa de juros acerta o Brasil no ponto errado. O crescimento econômico está estagnando novamente porque as infecções pelo coronavírus aumentam e mais estados restringem o comércio, os serviços e os transportes. Os economistas esperam apenas cerca de 3% de crescimento para o Brasil este ano. Para 2022, eles reduziram as previsões para menos de 3%. Isto significa que, por causa do chamado carry-over, ou seja, da herança estatística de 2020, o primeiro ano pandêmico, o Brasil provavelmente também não crescerá neste ano. Possivelmente, a economia brasileira voltará a crescer lentamente somente em 2022.

O Brasil caminha, portanto, para o pior de todos os mundos: enquanto a China e agora também os EUA e possivelmente em breve a Europa se recuperarem significativamente, o Brasil continuará estagnado e, ao mesmo tempo, terá que combater a inflação. A respeitada economista Solange Srour agora se pergunta se o Brasil está no caminho da estagflação, o que levaria a um maior empobrecimento da população. Pois como adverte Srour, "uma vez que o gênio da inflação sai da lâmpada, é difícil domá-lo de volta".

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas. 

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.