Controvérsia continua
12 de outubro de 2007![](https://static.dw.com/image/2822504_800.webp)
A prorrogação do mandato das Forças Armadas alemãs no Afeganistão até outubro de 2008 foi aprovada com maioria esmagadora. Na votação do Parlamento, nesta sexta-feira (12/10), 453 deputados pronunciaram-se a favor, 79 contra e 48 se abstiveram.
"Sem o apoio das tropas da comunidade internacional, a reconstrução civil é uma causa perdida", argumentou a ministra de Cooperação Econômica Heidemarie Wieczorek-Zeul. Segundo ela, outra questão vital é evitar o retorno dos talibãs ao poder, pois o Afeganistão não pode voltar a ser o espaço de retirada e regeneração do terrorismo internacional.
Estratégia de escalada
O contingente alemão continuará restrito a 3.500 soldados, e o apoio dos seis aviões Tornado a missões de esclarecimento será mantido. O chefe da bancada social-democrata no Parlamento e ex-ministro da Defesa Peter Struck calcula que a Bundeswehr ainda terá que permanecer, no mínimo, mais dez anos no Afeganistão. Porém, apesar de aprovada, a mobilização tem numerosos adversários.
Deputados do Partido Verde instaram a chanceler federal, Angela Merkel, a viajar para o Afeganistão, a fim de se convencer quanto à realidade local. A chefe da bancada verde, Renate Künast, foi veemente. "Não podemos dar a este governo nosso voto de confiança e dizer 'continuem assim', pois estamos seriamente preocupados sobre a desproporção entre a presença militar e o déficit de civis."
O partido A Esquerda votou em massa contra a prorrogação da missão, que o líder Lothar Bisky considera fracassada. "A missão [internacional de paz] Isaf sai do controle. Quem quiser insistir na participação alemã estará apoiando a estratégia de escalada da Otan."
Perigo para as ONGs
Este é também o temor de diversas organizações humanitárias alemãs. Segundo Jürgen Lieser, da Associação das ONGs Alemãs para Política de Desenvolvimento (Venro), a proximidade da Bundeswehr torna o trabalho humanitário no Afeganistão cada vez mais perigoso.
Soldados e civis são integrados nas assim chamadas "equipes de reconstrução". Além disso, os militares circulam em roupas e veículos civis, o que torna impossível distinguir os dois grupos pela aparência. "Antes, era uma proteção ser reconhecido como pertencente a uma organização humanitária, hoje em dia, não é mais o caso", critica Lieser.
Por isso, diversas organizações, entre as quais a Caritas e a Welhungerhilfe, de combate à fome no mundo, exigiam, ainda antes da votação, uma reviravolta na política para o Afeganistão. Como enfatizou Lieser, elas não são contra o mandato na Isaf, mas sim pleiteiam que as tropas se concentrem em sua tarefa central, que é assegurar a paz por meios militares, deixando que as entidades civis cuidem da reconstrução.
Ajuda civil sai perdendo
Reihhold Robbe, representante da Bundeswehr no Parlamento, contra-argumenta que proteção militar e reconstrução civil são dois lados da mesma moeda. Uma não seria possível sem a outra, e sua interação é a fonte do atual sucesso, afirmou o militar.
Porém é justamente este suposto sucesso que as organizações humanitárias colocam em dúvida. De seu ponto de vista, a combinação entre os dois tipos de mobilização se dá à custa da reconstrução civil.
O mandato militar alemão no Afeganistão – Isaf e Tornados – custará em 2007 um total de 530 milhões de euros. Em centraposição, só estão previstos 100 milhões de euros para as atividades civis. Ao prorrogar, nesta sexta-feira, a presença da Bundeswehr, os parlamentares alemães selaram esta desproporção por mais um ano. (av)