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Apesar de seus 300 anos, Immanuel Kant continua atual

Stefan Dege
22 de abril de 2024

Ninguém que confie na voz da razão pode ignorar o pensador de Königsberg. As visões de mundo do pioneiro do Iluminismo ainda valem até os dias de hoje, em meio a mudanças climáticas, guerras e crises.

Estátua de Kant
Estátua de Kant em KaliningradoFoto: Gabriele Thielmann/imageBROKER/picture alliance

Para entender o mundo não é preciso necessariamente viajar por ele. Quem provou isso foi Immanuel Kant (1724-1804). Nesta segunda-feira (22/04), o mundo comemora o 300º aniversário do nascimento deste filósofo alemão que nunca deixou sua terra natal, Königsberg, na Prússia Oriental – hoje Kaliningrado, um exclave russo.

Mas isso não prejudicou sua compreensão sobre o planeta: suas ideias revolucionaram a filosofia e fizeram dele um pioneiro do Iluminismo. Sua obra mais famosa, Crítica da razão pura, é considerada um marco na história da filosofia. Kant continua sendo um dos pensadores mais importantes de todos os tempos.

Muitas de suas conclusões são válidas ainda hoje – época de mudança climática, guerras e crises. O que, por exemplo, poderia levar a uma paz duradoura entre as nações? Kant recomendou em 1795, em seu ensaio À paz perpétua, a criação de uma "liga das nações", como uma federação de Estados republicanos. De acordo com Kant, a ação política deve ser sempre guiada pela lei moral. Seu trabalho tornou-se o modelo para a fundação da Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a precursora das Nações Unidas.

Além do direito internacional, Kant também desenvolveu uma lei de cidadania mundial. Ao fazer isso, ele rejeita o colonialismo e o imperialismo e formula ideias para o tratamento humano dos refugiados. De acordo com o filósofo, toda pessoa tem o direito de visitação em todos os países, mas não necessariamente o direito de hospitalidade.

Ideias de Kant revolucionaram a filosofia e fizeram dele um pioneiro do IluminismoFoto: picture-alliance/Leemage/S. Bianchetti

Em favor da razão e dos argumentos

Kant justifica a dignidade humana e os direitos humanos não religiosamente, com Deus, mas filosoficamente, com a razão. Kant acreditava muito nas pessoas em geral. Ele as considerava capazes de assumir responsabilidades – por si mesmas e pelo mundo. Acreditava que a vida pode ser administrada com razão e argumentos e formulou uma regra básica para isso: "Aja de tal maneira que a máxima de sua vontade possa, ao mesmo tempo, ser considerada como o princípio da legislação geral". Ele chamou isso de "imperativo categórico". Hoje, nós o formularíamos da seguinte maneira: você só deve fazer o que for para o melhor de todos.

Em 1781, Kant publica o que é provavelmente sua obra mais importante. Em Crítica da razão pura, ele apresenta as quatro questões fundamentais da filosofia: O que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar? O que é o ser humano? Sua busca por respostas a essas perguntas é conhecida como teoria do conhecimento. Ao contrário de muitos filósofos anteriores a ele, Kant explica em seu tratado que a mente humana não pode responder a perguntas como a existência de Deus, a alma ou o início do mundo.

"Kant não é uma luz do mundo, mas um sistema solar radiante de uma só vez." Que elogio o escritor Jean Paul (1763-1825) fez a seu contemporâneo! Mas outros grandes intelectuais acharam os escritos de Kant difíceis de digerir. O filósofo Moses Mendelssohn reclamou que era preciso "suco nervoso" para lê-los. Ele próprio não conseguia.

Pioneiro do Iluminismo

Os ensinamentos e escritos de Immanuel Kant lançaram as bases para uma nova forma de pensar. Sua frase "Sapere aude" (tenha a coragem de fazer uso de seu próprio entendimento) ficou famosa e fez de Kant um pioneiro do Iluminismo. Esse movimento intelectual que surgiu na Europa no final do século 17, declarou a razão humana e seu uso correto como padrão para todas as ações. Em seus escritos, Kant pedia para que as pessoas se libertassem de quaisquer instruções (como os mandamentos de Deus) e assumissem a responsabilidade por suas próprias ações. Daí que vem também esta famosa citação: "Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você".

Até hoje em dia, ainda circulam muitos boatos e preconceitos sobre Kant. O filósofo alemão e especialista em Kant Otfried Höffe colocou alguns deles à prova em seu novo livro Der Weltbürger aus Königsberg (O cosmopolita de Königsberg, em tradução livre), incluindo a questão de saber se Kant era um "racista eurocêntrico" ou se Kant discriminava as mulheres. Em ambos os casos, sua resposta é: "Sim, mas...".

Embora Kant tivesse uma rotina severa, gostava de almoços com amigos, bilhar, jogos de cartas e era tido como um bom papoFoto: Döbler

Devorador de diários de viagem

Kant não era um racista no sentido moderno, pelo contrário: ele condenava o colonialismo e a escravidão. Kant nunca saiu de Königsberg, mas a capital da Prússia Oriental era uma cidade comercial vibrante na época, uma "Veneza do Norte". Além disso, Kant também devorava diários de viagem a outros países.

E finalmente: Kant era um estudioso de salão rabugento e misantropo? Hoje, a ciência também está desfazendo esse preconceito. Embora Kant tivesse uma rotina diária estritamente regulamentada, ele gostava de almoços prolongados com amigos e conhecidos, adorava bilhar e jogos de cartas, ia ao teatro e era considerado uma ótima companhia de conversa nos salões da cidade.

Celebrações por toda parte

Muitos eventos comemoram Kant e seu legado neste ano, inclusive na Alemanha. O Bundeskunsthalle em Bonn, por exemplo, sediará uma grande exposição sobre o filósofo. Uma importante conferência acadêmica será realizada em Berlim em junho, seguida de um congresso internacional em Bonn no segundo semestre, que foi originalmente planejado para Kaliningrado, mas não poderá ser realizado devido à guerra russa de agressão contra a Ucrânia.

O túmulo de Kant adorna a parede traseira da Catedral de Königsberg – marco da cidade até hoje. A igreja gótica foi um dos poucos edifícios históricos a sobreviver aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e à subsequente onda de demolições no Estado soviético. Por mais popular que Kant seja hoje, seus escritos foram apropriados por muitos movimentos políticos. E quem descreve a si mesmo como seu pensador favorito? Isso mesmo – Immanuel Kant!

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